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Goiás perde 190,5 hectares do Cerrado a cada dia

Diomício Gomes
Goiás é o 10º Estado brasileiro em velocidade de desmatamento, de acordo com o RAD 2023

O Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2023 (RAD 2023), produzido pela organização MapBiomas, verificou que 69.541 hectares (ha) de Cerrado em Goiás foram suprimidos ao longo de todo o ano passado. O número é 125,3% maior do que os 30.869 hectares de vegetação desmatados no estado em 2022 e corresponde a 190,5 ha a menos por dia, ou seja, 7,9 ha por hora. Goiás é o décimo estado brasileiro em velocidade de desmatamento de acordo com o relatório, que utiliza imagens de satélites para a verificação da situação da vegetação a partir de parcerias com institutos e universidades, como o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG).

O bioma Cerrado, pela primeira vez na série histórica, foi o mais desmatado no Brasil, ultrapassando a Amazônia. No ano passado, 61% da área desmatada em todo o País foi de Cerrado, enquanto que a Amazônia teve 25% da área de supressão. “Foram 1.110.326 hectares desmatados no Cerrado, em 2023, um crescimento de 68% em relação à 2022. Quase todo o desmatamento do País (97%) teve a expansão agropecuária como vetor”, informou o MapBiomas. No Brasil, 1.829.597 ha de vegetação nativa foram retirados em 2023, enquanto que em 2022, foram 2.069.695 ha, uma redução de 11,6%, mesmo com aumento de 8,7% no número de alertas, na comparação com 2022.

Apesar do número expressivo de desmatamento em Goiás, a região que mais contribuiu para esse feito foi a Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que teve 47% da vegetação que foi suprimida no Cerrado (858.952 ha – um aumento de 59% em relação ao ano de 2022, o qual já havia registrado incremento de 36% em relação a 2021). Coordenadora da equipe Cerrado do MapBiomas e Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar, alerta que Goiás não está na lista dos estados que mais desmataram no Cerrado, mas teve um aumento importante do desmatamento.

“Um aumento também que, principalmente ali em um dos municípios que mais desmataram nesse período, que foi Niquelândia. Um avanço da atividade agropecuária, que é o que vem convertendo o Cerrado nessas taxas altas. É claro que imagino que Goiás não esteja no topo da lista, no ranking dos estados que mais desmatam no Cerrado, porque é um estado que já foi muito desmatado no passado. Então isso tem a ver. Mas eu diria que é relevante o aumento que o estado teve de um ano para o outro”, acrescenta Ane.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) contesta o crescimento do desmatamento no estado. Segundo ela, o RAD 2023 foi elaborado a partir de uma metodologia diferente da que foi utilizada no RAD 2022 em relação à identificação dos alertas. “Portanto, a Semad entende que é impróprio estabelecer comparações entre uma edição e outra. Se o MapBiomas tivesse utilizado, em 2023, a mesma base metodológica de 2022, teria sido constatada uma redução de 13,5% na área presente nos alertas de desmatamento. Em números absolutos, Goiás teria saído de 30,9 mil hectares para 26,7 mil”, explica.

Metodologia

Na metodologia do RAD 2023 é explicado que para o Cerrado, as etapas de seleção, validação e refinamento das imagens são “realizadas em conjunto dentro do aplicativo Workspace, utilizando imagens Sentinel-2 com resolução de 10 m para fazer a validação e o refinamento dos polígonos detectados”. Afirma-se que “tal procedimento foi desenvolvido para dar celeridade à etapa de seleção de imagens, considerando o grande volume de alertas gerados”. Válido lembrar que a comparação entre os anos foi realizada pelo MapBiomas.

A Semad ressalta que a estratégia do Governo de Goiás para reduzir o desmatamento ilegal se divide em várias frentes. “O estímulo ao desenvolvimento sustentável, que alia crescimento econômico à preservação do meio ambiente, permeia todas as políticas executadas pela Semad nos últimos cinco anos e meio. Mais do que ações de fiscalização remota e presencial, a principal aposta é no diálogo com setor produtivo e na promoção de uma nova maneira de conviver com o Cerrado.”

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