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Goiás tem 2,8 mil crianças sem o nome do pai no registro só este ano

Wesley Costa
Suely mostra com alegria o novo registro de nascimento com o nome do pai, que achou no Tocantins após 36 anos

Mãe de cinco filhos, 37 anos, Suely Fernandes Neves Rocha tinha um vazio existencial. Por decisão dos avós maternos, a dona de casa nunca teve a chance de conhecer o próprio pai. Em 2023 ela colocou um fim às suas incertezas ao localizá-lo no Tocantins. Mais do que isso, ele concordou em constar seu nome na certidão de nascimento dela, movimento possível através do programa Meu Pai Tem Nome, da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE). Realizado nacionalmente, em 2024 o dia D do programa será no dia 17 deste mês, mas as inscrições precisam ser feitas até sexta-feira (9).

O caso de Suely se assemelha à situação de 97.104 crianças registradas no Brasil entre janeiro e julho deste ano sem o nome do pai, 2.852 delas em Goiás, segundo dados do Portal da Transparência de Registro Civil. Em parceria com a Organização das Voluntárias de Goiás, a DPE de Goiás realizou de forma pioneira a primeira versão do programa que visa garantir o reconhecimento legal e afetivo de paternidade ou maternidade independentemente da idade. O sucesso do programa foi tamanho que em 2022 ele foi levado para todo o País. Em 2023 foram mais de 4 mil atendimentos no Brasil.

Suely não esconde a emoção de ter sido beneficiada pelo programa. Ela perdeu a mãe para um câncer há seis anos e não pode dar a ela a alegria do encontro com o pai. “Ela sempre me pediu isso.” A mãe, com pouco mais de 14 anos, se casou com um vizinho de fazenda na região de Gurupi. Ele tinha 24 anos. Os pais de Suely nunca se conformaram com a união da única filha e, quando a neta nasceu, tomaram uma decisão radical. Foram até a fazenda, retiraram ambas da propriedade e passaram a morar em localidades longe do alcance do pai. “Eles tinham medo de ele requerer a minha guarda.”

Suely ficou sem o registro de nascimento, mas com o constrangimento vivido na época de escola, os avós decidiram registrá-la como filha. “O sonho da minha mãe era ter o nome dela no meu registro. E o meu, o de conhecer meu pai. Todas as crianças tinham um pai, eu não.” Quando encontrou o pai, Suely foi recebida com muito afeto. Pai e filha fizeram um exame de DNA confirmando a paternidade. Ela permaneceu na fazenda do pai por 15 dias. “Saber que foi ali que minha mãe esteve comigo quando nasci me impactou muito”, contou. A partir daquele momento, Suely só queria colocar o nome da mãe e do pai no registro.

Quando soube do programa da DPE, Suely deu um jeito de se inscrever. “Fiquei muito feliz quando ganhei o DNA da minha família materna”, disse chorando. Ao unir o resultado de ambos os DNAs, da mãe e do pai, pode, finalmente, alterar o registro de nascimento. “Eu sou a única filha do meu pai. Ele não se casou de novo com medo de acontecer alguma coisa parecida.” Mesmo à distância, o pai de Suely fez uma videoconferência com os defensores públicos e ratificou o desejo de seu nome constar no registro da filha. Agora, o sonho de Suely é viver intensamente todos os momentos possíveis ao lado do pai que, como a mãe, também faz tratamento contra um câncer.

Inscrições podem ser feitas até sexta-feira (9)

Pessoas de todo o Estado podem participar do programa Meu Pai Tem Nome, da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE). As inscrições para a nova etapa vão até sexta-feira (9) e podem ser feitas online, pelo WhatsApp ou presencialmente. Coordenador do programa, o defensor público, Bruno Malta, lembra que, para quem necessita de um DNA, é importante antecipar a inscrição para que as audiências no dia D, sejam realizadas já com os resultados. 

Para obter informações mais detalhadas, os interessados devem acessar o portal da Defensoria Pública do Estado de Goiás (https://www2.defensoria.go.def.br/pai-tem-nome), onde existe uma lista de documentos indicados.

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