Geral

Goiânia 89 anos: expectativa e realidade para o futuro na visão de crianças, adultos e idosos

Há 89 anos, se perguntassem como Goiânia seria no futuro, alguém acertaria? Será que algum morador da nova capital de Goiás imaginaria que a cidade planejada inicialmente para 50 mil pessoas teria 30 vezes mais habitantes? Ou que antes de completar seu primeiro centenário seria a cidade mais arborizada do Brasil?

É difícil dizermos o que os pioneiros de Goiânia imaginavam para o futuro, o fato é que a paisagem da cidade se transformou, e vem se transformando, ao longo desses anos.

Plano diretor

Nos próximos 89 anos, é provável que as mudanças que ocorrerão sejam bem diferentes das que observamos no passado, tanto pelo avanço tecnológico, quanto pela implementação de um plano com as regras sobre a ocupação da cidade e uso dos seus recursos.

O Plano Diretor é a principal lei de uma cidade, lei essa que organiza onde as pessoas vão morar, como elas vão morar, por onde deverão ir, como e para onde a cidade vai crescer e até mesmo o que preservar. É ele também que determina onde os prédios podem ser construídos, o tamanho deles e quantos apartamentos podem ter. Em outras palavras, é o Plano Diretor que define o tamanho da cidade e onde estarão os novos bairros.

No Plano Diretor estão traçadas as regras de uma cidade para os próximos dez anos. Ele decide ainda quais serão as principais avenidas e as políticas de transporte. Define também se no bairro terá só casas ou se atividades econômicas também farão parte do contexto.

Antes do Plano Diretor, o poder público tomava as decisões de forma deliberada. Além disso, na maioria das vezes, não havia uma continuidade das ações, já que a cada mandato novas decisões eram tomadas.

A Cleide de Souza, de 48 anos, lembra que a “Goiânia do passado” tinha um trânsito melhor. “Como as pessoas adquiriram carros, deu uma congestionada e o trânsito piorou um pouquinho”, diz. Para a técnica de enfermagem, não houve um planejamento da prefeitura para comportar a quantidade de veículos, que aumentou com o crescimento da cidade.

Por outro lado, Cleide afirma que o lazer na capital está melhor do que durante a sua infância. “Nesse sentido melhorou bastante, tem os parques floridos, mais organizadinhos, com brinquedos para as crianças e academias ao ar livre”.

A diarista Maria de Lourdes Fagundes também se lembra da falta de opções de lazer no passado, e como isso melhorou com o passar dos anos. No entanto, ela tem uma visão menos otimista do futuro. “Vai ter mais prédios, porque (mais) área verde é impossível, o povo acaba com tudo”.

Apesar disso, Maria tem o desejo de que as coisas fossem diferentes do que ela imagina: “Mais áreas verdes e menos carros”.

Quem elabora e quem vota o Plano Diretor?

A princípio, o Paço Municipal estabelece comitês internos de servidores, cada um na sua área, para trabalhar uma releitura do plano atual e, a partir disso, apontar mudanças para o plano seguinte. Portanto, o primeiro passo é um diagnóstico do que aconteceu na cidade nos últimos dez anos: o que funcionou, o que não funcionou e o que pode ser melhorado.

O próximo passo é encaminhar as propostas de alterações no plano para a Câmara Municipal. Os vereadores, por sua vez, fazem suas análises, dão uma nova formatação à minuta e devolvem para o Paço Municipal. Após isso, o prefeito pode sancionar o plano, que tem até seis meses para entrar em vigor.

Demora

Apesar de aprovado, o novo Plano Diretor de Goiânia ainda não está valendo, conforme explicou o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves. Segundo ele, “Goiânia está parada”, já que o município não emite nenhum uso do solo, alvará de construção ou de funcionamento.

Paulo analisa que o novo Plano Diretor veio trazendo grandes melhorias para a cidade, principalmente no que diz respeito ao adensamento, que, de forma resumida, significa colocar mais moradores por metro quadrado. De acordo com o especialista, o plano vigente desde 2007 previa o adensamento ao redor dos eixos do transporte público na capital, entretanto, não havia limites para isso.

"Uma quadra que tinha 30 casas passa a ter 3 mil famílias, sem a menor regra de controle, a não ser o tamanho do edifício”, ponderou.

O plano diretor atual trouxe um limite de construção para o mercado imobiliário. “Hoje tem uma regra estabelecida, que é o número de vezes que você pode ampliar o seu terreno. Ou seja, em um terreno de 1.000 m² pode se fazer 6 mil metros de apartamento. Não interessa se são 6 mil apartamentos pequenos ou 60 grandes”, ressaltou o arquiteto.

Para Paulo, essa nova determinação trouxe democracia à população, já que as famílias pequenas, casais sem filhos e jovens que moram sozinhos não precisam mais ter apartamentos grandes onde decidirem morar.

Outro problema do Plano Diretor que vigorou nos últimos anos foi o direcionamento do mercado imobiliário. As diretrizes da prefeitura não foram seguidas e o setor procurou outros locais adensáveis.

“O mercado imobiliário vai onde tem um metro quadrado mais vantajoso para se trabalhar, onde tem parques, praças, e não onde tem transporte público. Isso promoveu uma falta de democracia, porque o mercado imobiliário que vai para uma área melhor não está convidando os pobres. São áreas para quem tem um poder aquisitivo maior”, pontuou.

Descentralização

Goiânia vem passando por um processo de inversão em seu desenvolvimento. A respeito disso, o arquiteto acredita que a cidade não sofrerá uma expansão nos próximos anos. Para ele, a tendência é que a capital entre numa era de microcentralidades, diferente do modelo radial, em que existe o centro e um círculo com menos moradores, que vai diminuindo até chegar nas periferias.

De acordo com essa nova tendência, haverá, dentro de uma macrozona, várias centralidades. O conceito, também chamado de “cidade em 15 minutos”, prevê que a microcentralidade não dependa de um bairro como polo de economia.

“Você mora em um edifício, desce, vai a pé na padaria, num pet shop, dá uma volta no quarteirão já tem a lavanderia, e ali você resolve sua vida”, afirma Alves.

Transformações aceleradas

O novo Plano Diretor, conforme foi citado, tem como objetivo preencher certas lacunas, corrigir falhas e, consequentemente, melhorar a vida das pessoas. Contudo, um ponto muito importante deve ser observado: a volatilidade.

Conforme explicou o especialista, a cidade está mudando muito rápido, e, por isso, seu plano deve ser flexível.  “Hoje, se alguém resolve inventar um aplicativo de carona, vai mudar completamente a forma como a cidade se locomove, por exemplo”.

Além disso, a tendência é que as transformações aconteçam de forma cada vez mais acelerada, gerando o risco de tornar o Plano Diretor obsoleto.

Mobilidade

O plano de mobilidade em Goiânia dá ênfase ao transporte coletivo. Paulo explica, contudo, que a solução encontrada não foi colocar mais ônibus nas ruas. “Se coloca mais ônibus e alarga as vias, os carros também vão para lá e o trânsito vai continuar parado, então tem que dar velocidade de locomoção. O plano diretor está enfatizando isso: o transporte com rapidez”.

Outro ponto observado por Alves é que o trânsito de Goiânia não foi pensado para pedestres.

“O que vimos nos últimos anos foram obras grandiosas para carros. A cidade não pode ser pensada para o carro e o pedestre ser jogado para escanteio. Para ele só veio a regra de criar calçadas com piso tátil, isso é muito pouco”.

Essa saturação de carros nas ruas de Goiânia também é vista como um problema pelo Davi, de 7 anos. Mesmo com a pouca idade, ele já tem notado que é preciso encontrar uma alternativa para a mobilidade urbana. O garoto acredita que como não há mais espaço nas ruas para os veículos, deveríamos usar o espaço aéreo. Como? Com drones!
“No céu tem muito espaço, aí aqui na terra não tem muito. E também a gente não pode ir para a calçada, mas no céu não tem isso”, explica Davi sobre a ideia de usar drones para se locomover.

Esperança

Não é fácil atender às expectativas da população e, ao mesmo tempo, criar e executar um plano realista e que seja viável. Mas, o desejo da maioria das pessoas é que Goiânia continue se desenvolvendo, mas sem deixar de lado o cuidado com o meio ambiente. Esse também é o pensamento do eletricista Domingos da Fonseca, de 58 anos. Ele vive em Goiânia desde que nasceu e tem acompanhado todas as transformações da capital.

“Eu tive a minha infância brincando aqui, no Setor Vila Nova, nesses bairros mais próximos. Estudei em um colégio que fica atrás do bosque e brinquei muito nesse bosque. Tínhamos uma lagoa, que hoje é uma rede de esgoto”, se recorda.

“Sobre o futuro? A cidade do futuro que eu imagino seria uma cidade menos poluída, que continue com as árvores, porque toda vida nossa cidade foi bem arborizada. E o que nós podemos fazer é cuidar, porque a gente almeja um futuro melhor para essas crianças”, espera o eletricista.

 

Arte/TV Anhanguera
Viaduto João Alves de Queiroz: cidade futurista pensada pela estudante Nicole Reis
rte/TV Anhanguera
Davi acredita que no futuro os drones farão parte do transporte urbano
Cruzamento das avenidas T-63 e 85, em Goiânia
Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI