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Goiânia deve acatar nota do Estado

Wildes Barbosa
Pouco espaço para passageiros e muita chance para o vírus em ônibus circulando pela Avenida T-63 ontem

O Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE) recomendou, em reunião extraordinária nesta quinta-feira (18), que a Prefeitura de Goiânia siga as orientações da nota técnica publicada nesta semana pelo governo do Estado com orientações de combate ao coronavírus (Sars-Cov-2).

O prefeito Rogério Cruz se reúne na manhã desta sexta-feira (19) com representantes de segmentos econômicos para discutir possíveis mudanças no funcionamento das atividades na capital (leia abaixo).

O documento estadual propõe, entre outros pontos, que os municípios considerados em situação crítica ou em calamidade para o coronavírus (Sars-CoV-2) limitem a lotação dos ônibus ao quantitativo máximo de passageiros sentados. Porém, não é o que se vê nas ruas de Goiânia.

Euvane Guarnieri e Silva, de 29 anos, servidor público e estudante, morador do Setor Universitário, em Goiânia, trabalha em Aparecida de Goiânia e todos os dias utiliza o transporte público intermunicipal. Nesta quinta-feira, ele passou pelo Terminal Praça da Bíblia na linha 020 em direção ao Terminal Isidória e, além de filas, reclamou da superlotação e da ausência de produtos básicos de higiene como sabão e álcool em gel que não estavam disponíveis nas unidades.

“Nos terminais colocaram tardiamente álcool em gel (depois de decretada a pandemia), mas durou apenas por semanas. Hoje você não consegue encontrar álcool em gel nem sabão nos banheiros ou mesmo papel toalha. Ou seja, os usuários precisam levar os produtos em suas mochilas e bolsas para seguir no mínimo os protocolos sanitários. Os usuários, por sua vez, não utilizam máscaras, ou utilizam de forma errada, o que também coloca todos em risco. Falta uma fiscalização também nos terminais, não permitindo que pessoas sem máscara utilizem o transporte público, por exemplo”, completa Euvane.

No ano passado, em 20 de maio, um decreto do então prefeito Iris Rezende (MDB) determinou 10 horários fixos para abertura de atividades na capital. O escalonamento, logo nos primeiros meses de pandemia possibilitaria a diminuição de passageiros em um mesmo horário.

A intenção da Prefeitura, na ocasião, era reduzir a concentração de usuários em terminais, plataformas e pontos de ônibus no pico da manhã. Desde então, ações de limpeza dos veículos, desinfecção e oferta de produtos de higiene deveriam ocorrer. A Metrobus, por exemplo, passou a aferir também a temperatura dos colaboradores.

Apesar disso, a reclamação dos usuários é que a restrição de passageiros aliada à redução da frota trouxe ainda mais transtornos.

O barbeiro Bruno Fernandes dos Santos, de 31 anos, mora no bairro Eldorado Oeste, em Goiânia e diariamente precisa do transporte coletivo para ir ao trabalho. Ele utiliza a linha 164, que segue para o Terminal Goiânia Viva e depois, troca para outro da linha 932. Pela manhã, Bruno conta que a quantidade de ônibus é maior e por isso os veículos do transporte coletivo não estão tão cheios, mas que no início da noite, entre 18h e 19 horas, a situação é mais complicada.

“No início da pandemia a restrição de passageiros aumentou a aglomeração nos pontos porque não conseguíamos embarcar. Tínhamos de esperar mais de 40 minutos para outro embarque. Já cheguei a aguardar três veículos para conseguir entrar. A restrição de passageiros não durou muito, apenas a frota reduzida se manteve e logo liberaram os ônibus circulando lotados. Comércio e outros locais não podiam ter aglomeração, mas no transporte coletivo podia e ainda pode”, diz Guarnieri, estudante e servidor público.

Diagnóstico

Bruno não teve, desde o início da pandemia, sintomas ou diagnóstico confirmado de Covid-19. Ele garante que está seguindo os protocolos recomendados de distanciamento e higiene pessoal. Também diz que não sente mais medo da contaminação em um ônibus que em outros locais considerados essenciais durante a pandemia, mas afirma que a superlotação tem sido ainda mais frequente nos últimos meses.

“Na minha família várias pessoas se contaminaram, pai, irmão, tias, amigos e amigas também. Além dos óbitos de pessoas próximas, um quadro de horror atualizado diariamente. Mantive e mantenho o isolamento, pois a minha hora de vacinar ainda vai demorar, mas não tem adiantado muito já que estou exposto rotineiramente a uma pequena multidão dentro dos ônibus.”

Procurada, a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) afirmou que as decisões para melhoria do serviço e da segurança sanitária no sistema precisavam ser tomadas em conjunto. Isso porque o transporte público que passa pela capital tem modelo metropolitano e com 18 cidades integradas.

 

36,5% das UTIs servem ao interior

No comunicado enviado nesta quinta-feira para a imprensa que avisou da reunião do prefeito, a administração municipal fez questão de ressaltar que neste ano já abriu 46 novos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), um aumento de 28%.

Nesta quinta-feira, segundo a administração municipal afirmou em nota, a taxa de ocupação de UTIs estava em 67%. Ainda segundo a gestão da capital, isto tem permitido o atendimento a pacientes de outros municípios, que representam 36,5% do uso dos leitos críticos exclusivos para doentes de Covid-19.

Por enquanto, as medidas destacadas de restrição à circulação de pessoas se refere ao horário de bares, restaurantes e distribuidoras. Os dois primeiros estabelecimentos devem fechar as portas às 23 horas. Já os de comercialização de bebidas alcoólicas não podem estar abertos das 22 horas às 6 horas. A decisão da gestão municipal veio após o decreto estadual 690/21, que estabeleceu a lei seca em Goiás.

O prefeito Rogério Cruz sofreu pressão de empresários para afrouxar as regras. Ele acabou cedendo no caso das distribuidoras, que antes do último dia 4 estavam restritas após as 20h. A orientação de técnicos do município pesou para que não tivesse havido uma flexibilização também para os bares e restaurantes.
Em Goiânia, também foi aplicada a limitação de funcionamento a apenas 30% da capacidade para quadras esportivas e academias.

A aplicação da orientação exposta na nota técnica do Estado em Goiânia, que é classificada na cor laranja, correspondente ao estágio crítico, implica que bares e templos atuem com 30% da capacidade e outros estabelecimentos com 50%. Fazem parte dos locais que ficam restritos à metade da operação: academias, quadras esportivas, escolas de esporte, salões de beleza, barbearia, shoppings e centros comerciais. 

A situação da capital também implica na realização de eventos sociais limitados a 150 pessoas, prioridade para o trabalho remoto em empresas e escritórios e funerais com no máximo dez pessoas. Goiânia tem 108.470 casos da Covid-19.

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