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Goiânia registra novos pontos de alagamento

Wildes Barbosa / O Popular
Chuva de terça-feira (21) causou alagamentos e estragos em casas do Setor Sevene, na região Mendanha

As últimas chuvas que atingiram Goiânia revelam que a cidade tem mais pontos de alagamento do que aqueles que constam na lista oficial da Prefeitura. No monitoramento do Paço são 94 endereços. Em levantamento a partir de reportagens já publicadas, a reportagem verificou ao menos cinco pontos que não constam no mapa monitorado oficialmente. A Defesa Civil diz que já há uma atualização com outros locais e deve fazer a publicação nos próximos dias.

Na terça-feira (21) as fortes chuvas causaram alagamentos em pontos do Setor Sevene, na região Mendanha. O local não está, até o momento, entre os 94 catalogados pela Defesa Civil. Uma família precisou ser resgatada pelos Bombeiros após a casa em que vivem ser alagada. Segundo os agentes que participaram do socorro, o alagamento era de um nível tão alto que havia risco de afogamento.

O mapa oficial dos pontos indica a via e o bairro que devem ser evitados durante temporais. Pelos registros entre dezembro do ano passado e este mês, é possível verificar que vias com pontos listados deixam outros de fora na mesma via. A Avenida T-9, por exemplo, tem um ponto registrado como de risco no Jardim Planalto. Na chuva desta terça, porém, houve o registro de pontos de alagamento na altura do Jardim América.

Dos 94 pontos de alagamento mapeados pela Defesa Civil, 28 estão na região sul, 12 na região norte, dez na região leste, 12 na região oeste, 21 na região Campinas/Centro, sete na região noroeste e nove na região sudoeste. O bairro que mais se repete no mapeamento é o Parque Amazonas, com cinco pontos catalogados.

Enquanto a lista oficial traz um ponto de alagamento no Jardim Guanabara na Rua Belo Horizonte, se tornou comum os alagamentos na Avenida Vera Cruz. No Residencial Serra Azul consta risco de alagamento na Avenida Valmir de Queiroz. No entanto, no mesmo bairro, registros de moradores mostram a Rua Antônio Conselheiro tomada por água, que chega a altura do joelho.

Análise

O arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, que integrou a equipe de consultores da Câmara Municipal de Goiânia na época da revisão do Plano Diretor, diz que chama a atenção o surgimento de novos pontos. “Sei que a Prefeitura tem feito estudos junto a Universidade Federal de Goiás (UFG) para encontrar esses novos pontos. A cada ano estão surgindo novos”, afirma.

Para Alves, os problemas são causados por duas questões principais. O primeiro é a permeabilização do solo, seja em áreas públicas, seja em áreas privadas, dentro dos lotes residenciais. No entanto, ele pondera que para o surgimento de novos pontos há influência do aumento das chuvas torrenciais, aquelas em grande volume e em pouco tempo. “Uma pia entupida consegue escoar a água se a torneira estiver só um pouco ligada. Agora se colocar uma mangueira de incêndio ligada nessa mesma pia não tem jeito”, explica o arquiteto fazendo analogia ao sistema de drenagem urbana.

Sobre a impermeabilização do solo, Alves detalha que as prefeituras definem o índice de permeabilidade do solo com base em estudos técnicos. A cada obra que libera, um imóvel precisa deixar um percentual de área natural, sem cobertura, para que a água das chuvas infiltre e seja conduzida ao lençol freático. Apesar da cidade contar com um sistema de drenagem, essas áreas de permeabilidade nas propriedades privadas são igualmente fundamentais para o escoamento das chuvas. “O problema é que, depois que a casa fica pronta, o proprietário normalmente cimenta todo o quintal e diminui essa área permeável”, conta.

O arquiteto e urbanista pontua que, por outro lado, o poder público tem o papel, além de estabelecer os parâmetros para as construções, de executar as obras de infraestrutura, que incluem as galerias de águas pluviais, por exemplo. Resta, porém, a deficiência na fiscalização das residências. “Normalmente, ela se concentra nos empreendimentos maiores. Por isso, é tão importante que as pessoas não dependam disso para cumprir sua parte. O enfrentamento e a resolução dessa situação depende de uma tomada de consciência coletiva”, diz.

O coordenador da Defesa Civil de Goiânia, Robledo Mendonça, explicou em reportagem publicada em janeiro que, em sua avaliação, os alagamentos acabam se tornando comuns em cidades de médio e grande porte em razão da impermeabilização do solo. “Outro fator importante é o descarte irregular do lixo, o manejo incorreto de resíduos sólidos, que acabam culminando em entupimento da rede pluvial e assim causam os transtornos de alagamentos”, disse.

Atualização

A reportagem procurou a Defesa Civil nesta quarta-feira (22) para entender o que está por trás do surgimento dos novos pontos, se são permanentes ou se há algum fato momentâneo. No entanto, o órgão da Prefeitura informou que estava em agenda externa e que deverá se manifestar nos próximos dias, quando deve também publicar a lista atualizada de endereços com risco de alagamento.

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