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Goiânia tem 4 casos por dia de violência contra idosos

Wildes Barbosa
Abrigo dos Idosos São Vicente de Paulo, em Goiânia, possui 29 internos. Só seis recebem visitas frequentes

Goiânia registrou praticamente quatro casos de violência contra pessoas idosas por dia nos cinco primeiros meses de 2023. Foram 588 denúncias feitas na Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso (Deai) até o final de maio. Os crimes mais comuns são maus tratos, exploração financeira e abandono.

No final de maio deste ano, uma casa de idosos começou a ser investigada pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) após denúncias de que os internos estavam sendo dopados para não precisarem aumentar o número de cuidadores à noite. O caso aconteceu em Valparaíso de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Nesta terça-feira (6), a gestora do local foi retirada do cargo após determinação judicial.

O caso não é uma exclusividade. No início de maio, um homem foi preso em Guapó, na região metropolitana de Goiânia, por suspeita de aplicar golpes financeiros em idosos se passando por advogado previdenciário. No mesmo mês, uma jovem de 24 anos foi presa, em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, por suspeita de praticar estelionato qualificado contra o próprio tio, um idoso de 85 anos, que teve um prejuízo de mais de R$ 100 mil.

Em abril, dois adolescentes foram apreendidos suspeitos de espancar até morte um idoso com problemas mentais em novembro de 2022, em Formosa, no Entorno do Distrito Federal. O idoso chegou a ficar internado em estado grave em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) por mais de três meses antes de morrer. Outros dois homens também foram indiciados pelo crime.

O titular da Deai, Moacir Filho, conta que a maior parte dos autores dos crimes contra idosos são pessoas do convívio diário, especialmente familiares. “Esses idosos chegam aqui bem abalados psicologicamente. Por isso, prezamos por fazer uma escuta ativa dessas pessoas. É importante destacar que idosos também têm direito a pedir medidas protetivas”, destaca.

Crimes

Um dos principais crimes praticados contra pessoas idosas é a exploração financeira. “É quando uma pessoa se apropria, por exemplo, da aposentadoria do idoso. Essas pessoas costumam ter acesso ao cartão do banco e a senha deles e não é incomum que façam empréstimos no nome desses idosos. Outro caso comum é quando, por meio de procuração assinada, a pessoa vende os bens do idoso”, relata Filho. O crime tem pena de até quatro anos e multa.

O abandono também é um crime praticado com frequência contra os idosos. “Nesse caso, não estamos falando apenas do idoso que é deixado sozinho em casa. O crime também contempla aquelas pessoas que abandonam o idoso em um abrigo ou até mesmo em uma unidade hospitalar sem nenhum tipo de referência familiar”, aponta o delegado. A pena do crime é de até três anos, mas pode aumentar caso a prática seja associada com outras violações.

Ao contrário do que se pensa, Filho esclarece que o crime de maus tratos não abrange somente as agressões físicas. “Ele diz respeito tanto a integridade física, quanto a integridade psíquica do idoso. Vai desde a privação alimentar e negação dos cuidados básicos com a saúde até a exposição da pessoa idosa a uma situação degradante”, diz. O crime pode render até quatro anos de pena, em regime fechado, em caso de lesão corporal e até 12 anos em caso de morte.

Denúncias

As denúncias de casos de violência contra idosos podem ser feitas de forma presencial nas delegacias, mas também por telefone. O anonimato dos denunciantes é preservado caso esse seja o desejo. “Para se ter ideia, das 588 denúncias registradas neste ano, 204 foram pelo Disque 100, que já garante esse anonimato por si só”, explica o delegado. Ele destaca que mesmo que a pessoa entre em contato pelo telefone ou WhatsApp da Deai, a identidade da pessoa pode ser preservada.

Filho aponta que a maioria dos denunciantes também costumam ser pessoas próximas como, por exemplo, familiares ou vizinhos. “Entretanto, em vários casos os próprios idosos procuram a delegacia para relatar os episódios de violência que estão sendo vítimas”, esclarece.

Filho faz um apelo para que as pessoas que desconfiarem que um idoso está sendo vítima de maus tratos, denunciem. “Nós vamos apurar todos os casos que chegarem aqui. Muitas vezes, as vítimas fragilizadas têm dificuldade de denunciar. A violência contra o idoso é um ciclo que, se não for interrompido, se repete de forma incessante”, finaliza.

Abandono é marca social de descaso

O abandono dos idosos é uma advertência da negligência da sociedade com o grupo etário. É o que afirma a coordenadora do Abrigo dos Idosos São Vicente de Paulo, em Goiânia. “É uma marca do quanto as pessoas e o poder público deixam a desejar com essa população”, diz Elizangela Alves.

Atualmente, o local abriga 29 idosos. Entretanto, apenas seis recebem visitas com frequência e são acompanhados por familiares ou pessoas próximas. “Eles deixam de atender quando ligamos ou então atendem e dizem que não querem saber do idoso, que agora ele é responsabilidade nossa”, relata a coordenadora.

Elizangela conta que o abandono faz com que os idosos se apeguem aos cuidadores que trabalham no abrigo. “Eles acabam vendo eles como uma família. Muitos dos idosos não querem bens materiais, apenas carinho, abraços e uma boa conversa”, conta.

A coordenadora lembra que uma das idosas que está no abrigo também já foi vítima de maus tratos. “Ela foi resgatada e enviada para cá por meio da Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso (Deai)”, destaca.

O abrigo conseguiu auxiliar alguns dos idosos que não possuem assistência familiar no processo de obtenção da aposentadoria. Dessa forma, eles conseguem proventos para arcarem com as próprias despesas. “Entretanto, vivemos majoritariamente de doações”, aponta Elizangela. Para doar para a instituição basta entrar em contato pelo telefone (62) 3253-1199.

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