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Goianiense tem menos verde: Índice de espaço arborizado caiu 5% na capital

Wildes Barbosa/O Popular
Parque Fiúca, no Residencial Olinda, em Goiânia: crescimento da população faz diminuir a disponibilidade de áreas verdes por habitante

Cada goianiense possui atualmente 14,78 metros quadrados (m²) de área verde para usufruir na macrozona urbana da capital. O cálculo é feito a partir dos dados oficiais das áreas de unidades de conservação, onde estão inseridos parques e bosques, e de praças, e se chega ao Índice de Área Verde por habitante (IAV). O número atual é 5% menor do que se tinha em 2017, quando havia 15,57 m² por habitante. Essa redução se dá especialmente pelo aumento da população nos últimos quatro anos, o que corresponde a todo o mandato da gestão Iris Rezende (MDB). Nesse período, em Goiânia houve alta de cerca de 6% no número de habitantes, enquanto que a área verde aumentou apenas 0,63%.

Quando o ex-prefeito Paulo Garcia (PT) entregou a gestão, no final de 2016, Goiânia possuía 195 unidades de conservação, sendo 42 parques urbanizados. Tecnicamente, a diferença entre as unidades e os parques é a presença de alguma estrutura para o convívio da população, como uma pista de caminhada, por exemplo. Na época, em comparação com os dados de uma década a área verde urbana municipal já havia sofrido redução (ver quadro na página ao lado). Quatro anos depois, Iris deixou a administração com mais 11 parques e atualmente a cidade conta com um total de 243 unidades de conservação que, juntas, somam 19.533.410 m² de área, o que é 2,23% a mais do que havia em 2016.

Apenas no último mês de mandato, Iris chegou a inaugurar cinco parques na capital, como o Parque Fiúca, no Residencial Olinda, Região Leste da capital. A gestão afirmou ainda que todos os outros 42 equipamentos foram revitalizados nos quatro anos de mandato. No entanto, a piora se deu com relação às praças. Embora em número maior, com 732 praças atualmente contra 580 há 4 anos, a área verde desses locais teve uma redução de cerca de 8% (ver quadro). Isso se dá especialmente pela abertura das praças para a passagem de vias de tráfego de veículos, recortes ou construções de viadutos.

Na gestão Iris, por exemplo, a Praça Delmiro Paulino da Silva, no cruzamento da Rua 90 com a Avenida Jamel Cecílio, perdeu área em razão da construção de uma trincheira para a passagem do BRT Norte-Sul. Nos encontros das avenidas Rio Verde, 4ª Radial e Transbrasiliana, a praça também foi cortada em benefício do trânsito. A situação, no entanto, não é nova na capital. Já na gestão Paulo Garcia, houve o fim da Praça do Relógio, na Avenida Jamel Cecílio, e o corte da Praça Edilberto Veiga Jardim, nas avenidas T-2 com T-8, por exemplo.

O mesmo deve ocorrer nos próximos anos, como em relação à construção do viaduto no cruzamento das avenidas Goiás Norte com Perimetral Norte, também obra para o BRT Norte-Sul. Ainda assim, o IAV da capital com relação aos espaços destinados à recreação segue alto. A Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (Sbau) estima um valor ideal de 15 m² de área por habitante, o que foi atingido por Goiânia entre 2007 e 2017. Há um índice divulgado em diversos estudos científicos que é atribuído à Organização Mundial da Saúde (OMS) ou à Organização das Nações Unidas (ONU) de 12 m². Porém, não há documento oficial de quaisquer das duas entidades mundiais com estudos ou recomendações sobre esses números de áreas verdes por habitante.

Especialista critica falta de política de distribuição

O engenheiro agrônomo e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) Antônio Pasqualetto afirma que, mesmo com um Índice de Arborização Urbana por habitante (IAV) em queda, Goiânia ainda é uma cidade bem servida de arborização. “Há uma boa quantidade, mas não é tão boa em relação à distribuição. O verde é também uma questão de saúde pública”, afirma, sobre a importância de se manter áreas arborizadas na cidade. “Quanto mais distribuída essa arborização, melhor é a qualidade de vida para a população”, diz.

Pasqualetto lembra que no Setor Campinas, por exemplo, há poucos exemplares vegetais nas calçadas. Em todo o bairro, o mais antigo da capital, para se ter uma ideia, há apenas o Parque Campininha das Flores, no início da Avenida 24 de Outubro. Por outro lado, em uma região do Setor Bueno há a implantação dos parques Vaca Brava e Areião, assim como no Setor Oeste, com o Lago das Rosas e o Bosque dos Buritis. O professor reforça que é necessário ter essa percepção ao analisar os índices de arborização urbana em quaisquer cidades.

Para o diretor de Áreas Verdes e Unidades de Preservação e Conservação Ambiental da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), Ormando Pires, a criação de áreas verdes em Goiânia já é definida conforme projetos anteriores, sem relação com o número de habitantes da cidade ou para atender determinado índice. “A ideia é sempre preservar. Quando a gente projeta um parque é para isso, o princípio básico não é o lazer da população, mas preservar a área”, diz. Ele reforça que isso faz com que os parques sejam mais duradouros e eficazes nesse objetivo do que as praças, que sofrem diversas intervenções urbanas.

Intervenção

“O ideal é sempre ter o mínimo de ação humana. Mas muitas vezes é necessário ter uma área de uso da população até mesmo para ajudar a preservar, pois muitas vezes a área se torna um depósito de lixo das pessoas. Quando se faz um parque, ajuda a manter a área preservada”, conta Pires. Em relação à distribuição das áreas, o diretor da Amma considera que este é um paradigma na cidade que tem sido rompido. “Os mais centralizados têm maior repercussão, são mais visitados, não pelos parques em si, mas porque é uma situação de comodidade, tem um centro comercial perto, um shopping que a pessoa vai visitar e acaba vendo o parque”, considera o diretor.

Para Ormando Pires, Goiânia possui parques grandes e bem cuidados em todas as regiões. “Trabalhamos para cuidar de todos igualmente. Hoje em dia cada parque tem a sua supervisão local, com servidores que ficam lá no parque mesmo, que batem ponto lá para cuidar da parte de urbanização.” Ele lembra ainda que é preciso contar também com a existência de unidades de conservação nas regiões, que seriam aptas a se tornarem parques, o que depende também do histórico de ocupação em determinada região da cidade. Isso explica o menor número de áreas conservadas em Campinas e no Centro, por exemplo. Válido lembrar que o aumento do número de unidades no geral tem relação também com a criação de novos loteamentos na cidade, em que parte é destinada a uma área de conservação.

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