Geral

Grades e segurança privada para proteger túmulos no Cemitério Santana

Fábio Lima
Túmulo sem nenhuma placa de identificação: furtos são recorrentes no Cemitério Santana

João Pedro Santos (estagiário do GCJ em convênio com a UFG)

Apesar de tombado como patrimônio histórico de Goiânia e abrigando jazigos de personalidades importantes para Goiás, o Cemitério Nossa Senhora de Santana, no Setor dos Funcionários, é com frequência alvo de furtos e vandalismo. A recorrência fez com que algumas famílias instalassem grades de ferro ou contratassem serviços de segurança armada para garantir a preservação dos túmulos de seus entes queridos.

Em 2021, o jornal registrou a situação de abandono do local, os muitos objetos desaparecidos, a falta de cuidado com túmulos e os poucos funcionários. A reportagem retornou ao cemitério na tarde desta quinta-feira (1º), e o cenário de abandono e degradação era visível, dois anos depois. Ausência das placas de identificação dos velados, pisos irregulares, vidraças quebradas em portas e janelas de jazigos foram algumas das situações identificadas. A reportagem também não avistou nenhum funcionário durante o período em que esteve por lá, nem a presença de qualquer método de proteção nos muros, como cercas elétricas e concertinas.

Histórico

Construído em 1939, o Cemitério Nossa Senhora de Santana ficou sob administração do Governo do Estado de Goiás por 20 anos. Em 1959, sua tutela foi transferida para o município de Goiânia, durante a gestão do prefeito Jaime Câmara, que foi enterrado no local. Além de Câmara, outras personalidades que marcaram a história do estado estão veladas lá, entre elas o fundador da capital, Pedro Ludovico Teixeira; seu primeiro prefeito, Venerando de Freitas Borges; e um dos principais líderes políticos de Goiás, Iris Rezende Machado. Possuindo fortes traços da arquitetura art déco, em 26 de setembro de 2000, o cemitério foi tombado como Patrimônio Histórico do município através do decreto n.º 1879/2000.

Em 2015, a Associação das Empresas Funerárias do Estado de Goiás (Aefego) elaborou, em parceria com o arquiteto Leo Romano, um projeto para transformar o local em um ponto de visitação turística. Porém, o projeto desapareceu após ser entregue à Prefeitura. O objetivo era preservar a arquitetura e as obras de arte, para fazer com que o cemitério fosse um ambiente de cultura por sua grande importância histórica para a capital goiana, abrigando os jazigos de comunidades que auxiliaram na construção da cidade, como árabes e japoneses.

Furtos constantes

Professora aposentada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Nanci Esperança Lopes, cuja família possui um jazigo no local desde 1957, lamenta o estado atual do cemitério. “Alguns anos atrás, a degradação era mais discreta. Recentemente, é uma depredação de modo geral”, diz ela sobre os danos estruturais presentes no local. De acordo com ela, aproximadamente 30% dos túmulos presentes possuem algum tipo de vandalismo, que varia de pichações a furtos de objetos e ornamentações próximos aos mesmos, como crucifixos, estátuas e fotografias.

O jazigo da família de Nanci foi vítima de furto recente, levando a moradora a fazer uma denúncia ao jornal. “Roubaram sete placas de bronze e sete fotografias de porcelana. Cada placa custou em torno de 250 reais, e as fotos tinham valor ainda maior. Tudo que sobrou foi uma fotografia quebrada. Comuniquei à minha família, pois somos quatro herdeiros, mas eles decidiram deixar por isto mesmo”, relata. Ela reforça dizendo que estes roubos e vandalismos acabam por dificultar a identificação e o reconhecimento daqueles que estão velados lá, fato comprovado pela reportagem.

Nanci atribui à falta de segurança no local como fator de facilitação dos furtos. “Hoje, não existe nenhum tipo de supervisão. É preciso instalar uma vigilância efetiva durante o dia inteiro, porque estes roubos estão se tornando muito constantes. Se alguma providência séria não for tomada, o cemitério vai se tornar um lugar abandonado”, diz. Ao estar no local na manhã desta quinta-feira (1º), ela conversou com um funcionário que lavava os jazigos, que lhe afirmou que tais incidentes são muito comuns, e que se concentram em especial nos ornamentos maiores. O trabalhador também lhe contou os prováveis fins dos objetos roubados. “Os criminosos, que, na sua maioria, são moradores de rua e usuários de drogas, vendem essas peças nos ferros-velhos que existem em torno do antigo Bairro Popular, e ganham ali em torno de 50 e 60 reais. É muito fácil”, afirma.

Mesmo com a família deixando os eventos de lado, Nanci encontrou outra razão para tomar providências. “Uma amiga possui dois jazigos no Cemitério Santana, que também foram furtados e vandalizados. Junto com ela, vou abrir uma ocorrência no Ministério Público, porque ficamos horrorizadas com a situação”, relata. Ela lembra de um episódio recente após o dia de Finados, onde uma estátua de quase 2 metros de altura foi furtada de um jazigo. A reportagem verificou no local citado o espaço vago no topo, com quatro buracos e vigas de metal retorcidas saindo de um deles. Nanci diz que não pretende reformar o que foi furtado no jazigo de sua família. “Seria entregar ouro pro bandido”, afirma.

Desenvolvimento humano e social

Em material divulgado ao jornal, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social de Goiânia (SEDHS) afirmou que tem ciência da situação atual no Cemitério Santana e que existe uma iniciativa para reforçar a segurança do local e inibir futuros furtos e depredações, em parceria com a Guarda Civil Metropolitana (GCM) da cidade. “Porém, o cemitério não possui câmeras de monitoramento, apenas conta com a vigilância constante da GCM”, afirma a assessoria da pasta.

De acordo com a SEDHS, não existe uma pauta de reforma do local, como um todo. “Porém, caso ocorra por parte do detentor do título de perpetuidade do jazigo a decisão pela restauração ou reparo do jazigo, será imprescindível o acompanhamento de técnico da Gerência de Patrimônio Artístico e Cultural (GPAC) e que se ouça o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, à execução dos serviços e intervenções autorizadas, mantendo-se a originalidade do jazigo, sendo todos os ônus de total responsabilidade do proprietário”, afirma.

A Secretaria reforça a necessidade de mais segurança no local. De acordo com a assessoria da pasta, na gestão atual do prefeito Rogério Cruz, através da secretária Maria Yvelônia, existe um projeto em andamento para contratação de seguranças patrimoniais, que atuarão na Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social e suas unidades, incluindo o Cemitério Santana.

A reportagem entrou em contato com a assessoria da Guarda Civil Metropolitana (GCM) para falar mais sobre a vigilância no local, mas até o fechamento desta reportagem não obteve resposta.

Fábio Lima
Nanci Esperança Lopes no túmulo da família no Cemitério Santana: furto de sete placas de bronze e fotografias de porcelana
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