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Gravação original que mostra abordagem da PM foi apagada

Reprodução
Momento em que Henrique Nogueira é colocado dentro de viatura: vizinhos ouviram gritos de socorro

As imagens da câmera de segurança que gravou o momento em que o servente Henrique Alves Nogueira, de 28 anos, foi abordado por policiais militares e colocado dentro de uma viatura por policiais militares e colocado dentro de uma viatura foram apagadas e o equipamento danificado por dois homens que se identificaram como da própria PM. Eles foram ao local onde estava armazenada a filmagem 15 minutos após a esposa de Henrique sair de lá.

As informações constam em depoimento prestado por uma testemunha sigilosa no processo que tramita na Justiça pela morte do servente na quinta-feira (11). 

Na versão oficial, os quatro militares afirmam que ele estava na garupa de uma moto no Setor Real Conquista e que reagiu à abordagem atirando contra os agentes após cair do veículo em fuga. Porém, na manhã seguinte, a esposa de Henrique, ainda sem saber de sua morte, encontrou as imagens.

Henrique foi abordado por volta de 8h25 na Avenida Itália, no Jardim Europa, por uma equipe do grupo Tático do 7º Batalhão da Polícia Militar (7º BPM) formada pelo sargento Cleber Leandro Cardoso, de 37 anos, o cabo Guidion Ananias Galdino Bonfim, de 31, e o soldado Kilber Pedro Morais Martins, de 34. Já o suposto confronto alegado na versão oficial dos PMS contou com a inclusão do soldado Mayk da Silva Moura Sousa, de 29, que entrou na equipe às 18 horas.

Assim que a mulher de Henrique deixou o local onde viu o vídeo, na manhã do dia 12, a testemunha sigilosa conta que gravou uma cópia da filmagem e logo em seguida apareceram os homens se dizendo policiais. Eles ficaram no local entre meio-dia e 14 horas e depois que saíram esta testemunha percebeu que o equipamento não gravava mais as imagens captadas pela câmera. Um técnico foi chamado e disse que o aparelho foi danificado e as imagens anteriores apagadas. A cópia foi entregue à Polícia Civil.

Ainda segundo esta pessoa, no dia anterior, entre o momento da abordagem e em que o corpo foi encontrado, dois homens também se dizendo policiais, foram ao local observar as imagens, mas não danificaram o aparelho nem mexeram no vídeo. No depoimento, consta a informação que nenhum dos homens que visitaram o local foram reconhecidos com um dos quatro envolvidos na morte de Henrique.

Esta testemunha, cuja identidade não foi revelada no processo por questão de segurança, também disse que vizinhos do lugar onde Henrique foi abordado contaram terem visto ele gritando para que populares em volta impedissem os policiais de colocá-lo dentro da viatura. O servente havia deixado o carro em uma oficina próxima e foi parado pela equipe do tático alguns metros depois.

Trajeto com paradas
No processo, ao qual o DAQUI teve acesso, constam as coordenadas de latitude e longitude do trajeto feito pela viatura durante o dia 11 de agosto, mostrando que é a mesma que esteve na Avenida Itália, no Jardim Europa, onde Henrique foi abordado, e no terreno no Real Conquista onde o corpo dele foi encontrado.

Na descrição da rota, é possível identificar também que, meia hora após a abordagem, os policiais estiveram com a viatura em um terreno próximo ao córrego Macambira, no Setor Faiçalville, e depois, já no fim da tarde, ficaram por quase duas horas em uma rua no Setor Cristina, na divisa com um descampado entre o bairro e o Real Conquista.
 
O local próximo ao córrego fica cerca de 3,7 km de onde o servente foi abordado e os policiais chegaram lá 6 minutos após deixarem a Avenida Itália. 

Já o ponto identificado no relatório com os dados de GPS da viatura como sendo um local onde eles ficaram por quase duas horas está a cerca de 3,8 quilômetros de onde o corpo foi encontrado. Por volta das 19h30, a viatura sai deste local, no Setor Cristina, passando pelo Real Conquista por alguns minutos até parar onde o corpo de Henrique foi encontrado.

Causa da morte
O laudo cadavérico feito pelo Instituto Médico Legal (IML) aponta que Henrique foi atingido por 4 dos 15 tiros efetuados pelos policiais militares, sendo dois no peito e dois no abdome, e que ele foi ferido no coração, no fígado e no rim, causando um “sangramento volumoso e consequente choque hemorrágico”. 

No processo não há informações sobre o horário em que Henrique pode ter sido morto.

No registro feito pelos policiais investigados sobre o suposto confronto, quando ainda não se sabia do vídeo, eles afirmaram que Henrique estava armado com um revólver calibre 32, com três cápsulas deflagradas e que portava uma mochila cheia de drogas. Porém, antes de entrar na viatura, o servente aparece nas imagens sendo revistado e estaria desarmado e não carregava nada.

A reportagem procurou o delegado André Veloso, adjunto da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH) e responsável pelo caso, mas ele informou que não iria comentar sobre a investigação até a conclusão. 

O DAQUI mostrou que os quatro policiais investigados foram citados em 12 processos que chegaram na Justiça estadual envolvendo ações que resultaram em 13 mortes. Metade destes casos já foi arquivada. A defesa dos policiais não foi localizada pela reportagem.

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