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Igreja da Pirraça, entre Bela Vista e Cristianópolis, será restaurada

Wildes Barbosa
Hoje em ruínas, prédio religioso surgiu numa área doada por dois fazendeiros que queriam fortalecer a presença da Igreja Católica na região
Divulgação
Sino que estava na Paróquia Bom Jesus, no Jardim Novo Mundo, voltará para a Igreja da Pirraça

Uma missa campal marcou na segunda-feira (11) o lançamento oficial do projeto de restauração da Igreja da Pirraça, um patrimônio histórico em ruínas que pode ser avistado da GO-020, entre Bela Vista de Goiás e Cristianópolis. Construída na década de 1930, a edificação está vinculada a uma história de intolerância religiosa entre católicos e protestantes. Abandonada ao longo dos anos, a igreja que pertence à Cúria Metropolitana, se transformou em ponto de interesse para videoclipes, fotografias e até mesmo uma minissérie do Globoplay.

Há mais de um ano um grupo de pessoas vinculado à história do povoado que um dia se chamou Aureliópolis se reúne com o objetivo de resgatar a história do lugar. Assim nasceu a Associação Amigos do Patrimônio de São Sebastião, nome oficial da igrejinha, hoje em ruínas. O prédio religioso surgiu numa área doada por dois fazendeiros, compadres, Aurélio Rodrigues de Morais e Francisco Magalhães, que queriam fortalecer a presença da Igreja Católica na região diante do que consideravam uma ameaça do protestantismo.

A historiadora Nilva Geralda do Nascimento Alves, de Bela Vista de Goiás, conta que tudo começou quando um grupo de protestantes chegou ao município de Santa Cruz, no início do século 20. Na época, a cidade era sede da diocese. Temendo perder fiéis, a Igreja Católica alimentou uma rivalidade e os evangélicos fugiram para a então Fazenda Gameleira, onde o proprietário os acolheu e construiu uma igreja para eles. Mais tarde, o lugar passou a se chamar Cristianópolis, cidade que tem na sua identidade rastros do protestantismo.

Inconformados, Aurélio de Morais e Francisco Magalhães decidiram fazer o mesmo e doaram 12 alqueires para erguer a Igreja de São Sebastião. Em torno dela nasceu o povoado de Aureliópolis, que pertencia ao município de Bela Vista de Goiás. “Lá teve até um cinema”, relata a biomédica Giovana Magalhães, bisneta de Francisco e hoje presidente da Associação de Amigos do Patrimônio de São Sebastião. As muitas rixas e o êxodo rural acabaram com o lugar, sobrando apenas as ruínas da igreja e um pequeno cemitério onde estão sepultados os restos mortais dos dois fazendeiros.

Giovana, Julieta Pacheco de Moura Belchior, bisneta de Aurélio, e o desembargador aposentado Walter Carlos Lemes, cujo pai teve um comércio no antigo povoado, são alguns dos integrantes da Associação. Giovana explica que o primeiro passo foi regularizar a documentação das terras onde está a igreja. “Aurélio e Francisco doaram no papel 12 alqueires para a Igreja Católica, mas em tese tinha apenas oito. Quando fomos medir, encontramos somente um, 10 mil metros quadrados (m²)”.

Com o apoio do arcebispo de Goiânia, dom João Justino, a associação está terminando o seu processo de legalização para, efetivamente, abrir uma conta onde serão depositados os recursos necessários para a restauração da igreja. “Vamos buscar pessoas e empresas interessadas em ajudar”, explica Giovana. Segundo ela, a ideia é que a fachada não seja alterada, ficando bem próxima do que hoje é vista de longe. O interior, com cerca de 20 m x 8 m, deve ganhar elementos simples, sem nenhum tipo de rebuscamento.

A missa campal contou com a presença de prefeitos da região, como Nárcia Kelly (PP), de Bela Vista de Goiás; Juliana Costa (UB), de Cristianópolis, e Gilmar Pereira (UB), de São Miguel do Passa Quatro. Também estavam lá o superintendente regional do Iphan, Pedro Wilson Guimarães; o desembargador aposentado Walter Carlos Lemes; o pároco da Igreja Nossa Senhora da Piedade, de Bela Vista de Goiás, padre Luiz Fernando Nascimento de Oliveira; representantes da Arquidiocese de Goiânia e lideranças políticas e religiosas.

Entusiasta da restauração da Igreja da Pirraça, a prefeita de Bela Vista de Goiás, Nárcia Kelly, postou em sua rede social: “A história desse local é marcada por muitos desentendimentos, rivalidades, ‘pirraças’. Agora, pela união de esforços de agentes, tanto públicos, quanto privados, integrantes da sociedade civil, teremos a oportunidade de reescrever essa história, dessa vez pautada na cooperação, na união e na celebração da paz!”

Sino recuperado

Giovana revela que o plano da Associação de Amigos do Patrimônio de São Sebastião é recuperar as atividades na área da antiga igreja. “A ideia é que volte a ter missas e outras atividades, mas pensamos também em construir alguma obra social na área.” A biomédica não esconde a alegria pela recuperação recente do sino que um dia tocou no templo hoje em ruínas. Com o apoio do arcebispo dom João Justino, ela descobriu que o instrumento estava na Paróquia Bom Jesus, no Jardim Novo Mundo, em Goiânia. O sino possui as inscrições Capella São Sebastião - Aureliópolis, confirmando a sua autenticidade. O instrumento já está em poder da Associação de Amigos do Patrimônio de São Sebastião, aguardando o momento de voltar a tocar.

Lugar atrai produções pela beleza cênica

Nas últimas décadas cresceu muito o interesse pelas ruínas do Patrimônio da Pirraça, um lugar que também ficou conhecido como Finca Faca e Patriégua, ou Patrimônio das Éguas, quando voltou a ser só pastagem, de acordo com a historiadora Nilva Geralda do Nascimento Alves. A igrejinha de aspecto rústico virou cenário recorrente para fotografias de noivas, modelos e passantes, como ciclistas. Ali também foi o espaço escolhido pelo cantor Gusttavo Lima para um de seus clipes no período da pandemia. “Até casamento vem ocorrendo lá”, conta Giovana Guimarães. 

O que sobrou da antiga igrejinha também poderá ser vista na ainda inédita série de suspense sobrenatural do Globoplay, Reencarne. A locação foi uma das escolhidas para a produção que tem no elenco nomes como Taís Araújo e Enrique Diaz. As filmagens ocorreram em Goiás no primeiro semestre.

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