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Inglaterra deixa de exigir máscaras, libera aglomerações e retira restrições contra Covid

Boris Johnson/Instagram/@borisjohnsonuk
Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson

O uso de máscaras na Inglaterra deixará de ser obrigatório, exceto em instalações médicas, anunciou o premiê Boris Johnson. A medida valerá a partir de 19 de julho, data em que praticamente todas as restrições sociais em vigor para conter a pandemia serão encerradas, embora o Reino Unido enfrente uma alta no número de casos de Covid-19. No entanto, barreiras para entrada e saída de viajantes do país seguem em vigor.

Na prática, o governo retirará todas as restrições legais ao comportamento dos cidadãos, e passa a recomendar que cada pessoa decida como lidar com os riscos. "Devo frisar que a pandemia não acabou e que os casos continuarão subindo nas próximas semanas. Conforme começamos a aprender a viver com o vírus, devemos todos continuarmos a gerenciar cuidadosamente os riscos da Covid", afirmou o premiê.

Assim, o uso da proteção facial passará a ser recomendado, e não mais exigido. Não haverá mais restrição a aglomerações em espaços públicos ou privados. Empresas não serão mais obrigadas a manter parte das equipes em trabalho remoto. Uma pessoa vacinada que tenha contato com alguém contaminado não precisará mais fazer isolamento obrigatório. Também deixa de ser necessário escanear QR Codes ao frequentar restaurantes e pubs, que eram usados para rastrear possíveis contágios.

Pessoas plenamente vacinadas poderão viajar para os países que estão na lista âmbar sem precisar fazer quarentena ao retornar. O Brasil e toda a América do Sul estão na lista vermelha e seguem restritos.

As mudanças anunciadas por Boris valerão apenas para a Inglaterra. As outras partes do Reino Unido, como Escócia e Irlanda do Norte, decidem as medidas de forma separada.

O Reino Unido é o sétimo país com mais mortes pela Covid no mundo, com 128 mil óbitos, em uma população de 66 milhões. No começo da pandemia, Boris demorou a adotar medidas de restrição. Ele mesmo acabou pegando a doença e ficou internado na UTI, em abril de 2020. Ele se recuperou e deixou de lado o negacionismo.

O governo britânico impôs um confinamento rígido no início de janeiro de 2021. A medida começou a ser suavizada no final de março. Aos poucos, escolas, lojas não-essenciais, cinemas, museus e restaurantes foram reabrindo. Restava liberar espaços de entretenimento noturno e autorizar grandes eventos, como megashows, que serão liberados agora.

As autoridades já haviam flexibilizado o veto a eventos de massa para permitir que 60 mil torcedores compareçam ao Estádio de Wembley, em Londres, para as rodadas finais da Eurocopa de futebol. Este número corresponde a dois terços de sua capacidade.

A primeira semifinal, entre Espanha e Itália, será na terça-feira (6), e a Inglaterra enfrenta a Dinamarca na quarta (7). O grande afluxo de público tem despertado a preocupação de que possa surgir o que a imprensa europeia chamou de "variante da UEFA".

A reabertura quase completa é possibilitada pelo avanço da vacinação, que reduziu o número de casos graves e de mortes. O Reino Unido é um dos países com maior percentual de imunização do mundo: 86% dos adultos tinham recebido a primeira dose até domingo (4), e 64% já estão plenamente imunizados.

No ano passado, o governo britânico fez um grande esforço para estimular a produção de vacinas e o país foi o primeiro do mundo a iniciar a campanha de imunização, em dezembro de 2020. A aplicação avançou rápido, enquanto boa parte da Europa enfrenta diversos atrasos, por falta de doses e questões logísticas.

No entanto, o Reino Unido tem vivido uma alta recente no número de casos. No domingo (3), o Reino Unido teve 24.248 novos casos, quase 10 mil a mais do que uma semana antes. Já as mortes andam em nível baixo: a média está em 18 por dia. A piora é atribuída ao avanço da variante delta, que é mais contagiosa e se tornou predominante no país. A vinda desta cepa adiou os planos de reabertura em quatro semanas.

O governo disse que as vacinas aplicadas no país garantem proteção contra a variante delta, e que o sistema de saúde está preparado para lidar com uma possível alta de casos após a reabertura. "Temos que ser francos. Se não pudermos abrir as coisas no verão, quando o clima é bom, então quando poderemos retornar ao normal?", disse Boris, lembrando que no inverno o vírus tende a gerar mais complicações.

Em um artigo publicado neste fim de semana, Sajid Javid, ministro da saúde britânico, defendeu que medidas anti-Covid devem buscar o equilíbrio entre a saúde e a economia, discurso também citado por parte dos britânicos. "Ainda há casos, mas não muitas pessoas parecem estar sofrendo com isso. A economia e a saúde mental das pessoas estão sofrendo bem mais", disse Mandy Suiter, 50, secretária, à Reuters.

A flexibilização nas regras, especialmente sobre o uso de máscaras, foi questionada por especialistas e líderes políticos. "Não faz sentido deixar de usar máscara em espaços públicos fechados, como no transporte", afirmou Chaand Nagpaul, diretor da British Medical Association, que reúne os médicos do país.

Críticos da mudança disseram que a nova política confunde as pessoas sobre a necessidade de uso, além de fazer com que pessoas mais vulneráveis fiquem com medo de sair na rua. "19 de julho poderá ser o dia da perda de liberdade para as pessoas vulneráveis", disse Andy Burnham, prefeito de Grande Manchester e filiado ao Partido Trabalhista, de oposição a Boris.

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