Uma publicação do Facebook sugere que os remédios ivermectina, azitromicina e nitazoxanida são capazes de curar a Covid-19 se usados no começo da manifestação dos sintomas. Em um documento que fornece recomendações baseadas em evidências científicas, as Sociedades Brasileiras de Infectologia, Tisiologia e Pneumologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, no entanto, não recomendam o uso desses fármacos para tratamento do vírus, visto que não há comprovação científica que assegure a eficácia deles.Nos comentários do post, há relatos de pessoas que fizeram uso desses medicamentos no combate à doença e teriam tido sucesso. A publicação no Facebook oferece até mesmo recomendações dos horários e das doses que supostamente curariam pacientes com o novo coronavírus. No caso específico da ivermectina, o antiparasitário se tornou o centro de uma corrente de WhatsApp que recomenda às pessoas pedirem a médicos a prescrição do medicamento. De acordo com o texto difundido no aplicativo de mensagens, a toxicidade da ivermectina “é somente para crianças com menos de 15 quilos e pessoas com meningite”. A mensagem chega a afirmar que “estudos observacionais constatam a evidência de proteção ao Covid”.Até mesmo o ex-deputado federal e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, passou a propagandear o uso do medicamento nas redes sociais: “Eu tomo IVERMECTINA para prevenir o coronavírus. Um comprimido por quilo, peso 80, tomo três, isso mensalmente. Ele deu uma sumida das farmácias, mas você pode comprar na farmácia de manipulação”, disse ele em uma publicação feita no Twitter na tarde desta quarta-feira (1º). Especialistas, porém, desaprovam a recomendação.Eu tomo IVERMECTINA para prevenir o coronavírus. Um comprimido por quilo, peso 80, tomo três, isso mensalmente. Ele deu uma sumida das farmácias, mas você pode comprar na farmácia de manipulação.— Roberto Jefferson (@blogdojefferson) July 1, 2020Em entrevista ao Comprova, o infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp) disse que “todas as estratégias, seja a hidroxicloroquina ou qualquer outra (azitromicina, ivermectina e nitazoxanida), estão em estudo, e não se justifica o uso por experiência pessoal porque isso não é ciência, isso é empirismo”. A azitromicina é um antibiótico com efeito antibacteriano, ou seja, trata muitas infecções oriundas de bactérias. Além dessa finalidade, a azitromicina atua também como anti-inflamatório. Já a ivermectina serve no combate a parasitas como piolho e sarnas. A nitazoxanida, por sua vez, é um antimicrobiano utilizado para diarréias crônicas. Uso deliberado de medicamentos sem prescrição pode causar danosO infectologista Sidnei Rodrigues, do hospital Eduardo Menezes, em Belo Horizonte, alerta que a automedicação pode ocasionar intoxicações, causar alterações hepáticas e renais, como também diminuir a imunidade de remédios ocasionalmente usados em tratamentos. “A pessoa pode desenvolver alergia com determinado medicamento, e ao se fazer automedicação com antimicrobiano para tratar infecção no organismo, pode ser que quando seja de fato necessário não faça efeito, porque as bactérias se tornarão resistentes”, ressalta. A mistura de diferentes medicamentos também não é indicada e pode ser causar danos à saúde caso não tenha sido recomendada por médicos. Segundo Rodrigues, cada remédio foi pensado e estudado para situações específicas de saúde, e por consequência, ao se misturar substâncias químicas distintas e sem orientação de profissionais, os efeitos podem ser negativos e até mesmo agravar quadros clínicos. “Cabe um uso consciente para nós, enquanto sociedade, fazermos um uso racional porque todo medicamento tem também potenciais efeitos negativos para a saúde a pessoa. O protocolo mais indicado para prevenção da covid-19 continua sendo manter-se em isolamento social, utilizar máscaras, higienizar as mãos constantemente e manter distanciamento de, no mínimo 1,5m de outras pessoas quando for preciso expor-se.