GABRIELLA BRAGACom mais de 150 dias sem chuva na Região Metropolitana de Goiânia, a Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago) tem recorrido ao Reservatório João Leite para suprir a demanda de abastecimento público da capital. Para isso, a adutora de integração entre os sistemas João Leite e Meia Ponte já está operando na capacidade máxima, de 800 litros por segundo (L/s). Com o uso da reserva hídrica da barragem, a capacidade atual da barragem chega a 88%.O Rio Meia Ponte atingiu no início de setembro o nível crítico 3 – o índice mais baixo (de menor vazão) é o 4. O indicador do nível de segurança significa que a vazão de escoamento no manancial é menor ou igual a 3 mil L/s. Por isso, medidas são tomadas para evitar a escassez do recurso hídrico. Uma delas é a redução na captação feita pela Saneago. Segundo a companhia, o cenário fez com que a produção de água pelo Meia Ponte, que era de 2 mil L/s, caísse para cerca de 1,3 mil L/s.O abastecimento público em Goiânia conta hoje com três sistemas que utilizam dois mananciais: Meia Ponte, com captação superficial, e o Mauro Borges/João Leite, com água represada. Este primeiro é responsável por 36% da produção de água. Já os sistemas Mauro Borges e João Leite somam 64%. Como forma de evitar a falta d’água em épocas de seca, foi feita a interligação entre os sistemas Meia Ponte e João Leite. A barragem que reserva 130 bilhões de litros de água está, hoje, com 88% da capacidade cheia, percentual considerado normal para o período.A adutora de integração opera com vazão mínima, de 100 L/s, durante o período chuvoso, quando o Meia Ponte consegue atender à demanda de abastecimento. Hoje, segundo a Saneago, a adutora opera na sua capacidade máxima, de 800 L/s. O objetivo dessa operação é preservar o principal manancial durante o período de seca, quando a vazão do rio é consideravelmente reduzida. A média móvel nos últimos sete dias foi de uma vazão de 2,4 mil L/s. O risco é de que, caso reduza ainda mais e fique abaixo de 2 mil L/s, atinja o nível crítico 4 – o mais grave.A partir do nível de segurança 3, a captação para abastecimento público deve ser reduzida até 1 mil L/s. Outras medidas adotadas na indústria e agricultura também são tomadas, como a limitação de 50% no uso da água, seguindo a deliberação do Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) do Meia Ponte, de 2022. A situação se repete no nível 4. Entretanto, demais ações também podem ser tomadas diante de cenários mais críticos. É o caso do plano de racionamento para a Região Metropolitana, elaborado preventivamente pela Saneago.“Importante ressaltar que um plano prevê várias etapas, que são acionadas à medida que a situação se intensifica, partindo desde campanhas pelo consumo consciente, até a implementação de rodízio. Ou seja, rodízio no abastecimento é a última etapa de um plano de racionamento – e esta etapa não foi aplicada”, explica a companhia, em nota. Além da capital, o Meia Ponte é responsável por parte do abastecimento de Aparecida de Goiânia (65%, com o Sistema João Leite), Goianira (23%) e Trindade (23%).Nos últimos anos, o nível crítico 4 foi atingido apenas em 2017 e 2019. As marcas foram alcançadas em agosto e setembro, respectivamente. Já desde 2020, o máximo de criticidade registrada ocorreu em 2021 e agora em 2024, quando se chegou ao nível crítico 3. Nos demais anos, o Meia Ponte se manteve com vazão acima de 4 mil L/s (nível 2). No ano passado, com as chuvas ocorrendo mais cedo, o manancial atingiu apenas o nível crítico 1, com vazão acima de 5,5 mil L/s.A Saneago aponta que ainda, como atividade rotineira, tem feito reversões de sistema em ligações atendidas até então exclusivamente pelo Meia Ponte. No último dia 16, cita, “foi realizada a reversão de duas áreas: 9,9 mil ligações retiradas do Centro de Reservação Atlântico (Meia Ponte) e integradas ao CR Pedro Ludovico (Sistema João Leite); 3,47 mil ligações retiradas do CR Ipiranga (Meia Ponte) e integradas ao CR Senac (João Leite)”. A ação é uma das utilizadas pela companhia no enfrentamento ao período de seca.Comitê da baciaConforme a presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Meia Ponte, Elaine Farinelli, o monitoramento da vazão do manancial é realizado constantemente, além da fiscalização feita pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) nos casos de concessão do uso de água (outorga) para verificar se os usuários têm feito a redução na captação do recurso. Entretanto, caso seja atingido o nível crítico 4, outras medidas podem ser utilizadas.“Se for necessário, abrir as barragens para essa água voltar ao rio. E o que também pode acontecer é o racionamento nas residências. Enquanto a vazão for de mil litros por segundo, continua tocando sem precisar do racionamento. Mas se baixar mais, não tem água para continuar abastecendo a população. Claro que não vai ficar todo mundo sem água, tem um planejamento de como será isso. Vamos torcer para não precisar chegar a esse ponto”, explica. “E, assim que começar as chuvas, já deve mudar a situação. Fica mais fácil, o rio começa a aumentar a vazão."