O médico Márcio Antônio Souza Júnior foi condenado, nesta terça-feira (28), à prisão e a pagar indenização de R$ 300 mil pelo crime de racismo, sem possibilidade de recurso. Em fevereiro de 2022, ele filmou um funcionário negro acorrentado pelas mãos, pés e pescoço, em apologia à escravidão. Ele postou o vídeo nas próprias redes. Na época, disse que seria uma “brincadeira sem graça e irresponsável”.A reportagem entrou em contato com a defesa do médico e com o Conselho Regional de Medicina (Cremego), mas não obteve resposta até a última atualização da matéria.O homem foi condenado à prisão por 2 anos e 6 meses de reclusão, em regime aberto, e a 13 dias-multa. A indenização será por danos morais coletivos, já que não só a vítima foi ofendida, mas toda a comunidade negra. O valor será dividido entre a Associação Quilombo Alto Santana e a Associação Mulheres Coralinas, da cidade de Goiás. O caso foi considerado “racismo recreativo” pela juíza Erika Barbosa Gomes Cavalcante. Ficou comprovado que houve intenção de insultar o homem gravado e também à coletividade, por ter postado o vídeo com conteúdo racista, segundo o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO). A vítima disse em depoimento à polícia que avisou o médico que não queria ser acorrentado, mas que não poderia o impedir, já que era o dono da fazenda. Depois do ocorrido, Márcio Antônio obrigou a vítima a gravar um segundo vídeo, concordando que a situação era uma brincadeira. O homem disse que não considera uma brincadeira e que não são amigos.Márcio Antônio foi denunciado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) e foi submetido a audiência de instrução e julgamento. Na época, foram apreendidos “uma gargalheira (objeto utilizado para aprisionar pessoas escravizadas pelo pescoço); um par de grilhões para mãos sem corrente (objeto utilizado para aprisionar pessoas escravizadas pelas mãos); e um par de grilhões para pés com corrente (objeto utilizado para aprisionar pessoas escravizadas pelos pés)”, segundo o TJGO.Na condenção, a juíza Erika Barbosa Gomes Cavalcante disse que não houve dúvidas que o crime de racismo foi praticado, de forma livre e consciente. “Praticou discriminação e preconceito de raça e cor, por meio de publicação de vídeo em sua rede social. É inquestionável que o vídeo publicado pelo acusado gerou profunda indignação na sociedade, principalmente em relação às pessoas negras, as quais enviaram, de forma imediata, diversas notas de repúdio juntadas aos autos”, disse ela.Relembre o casoO crime aconteceu no dia 15 de fevereiro de 2022, na Fazenda Jatobá, na cidade de Goiás. O médico Márcio Antônio Souza Júnior filmou um caseiro negro com as mãos, pés e pescoço acorrentados, simulando o período de escravidão. O vídeo foi postado nas próprias redes sociais do médico. O funcionário trabalhava na fazenda de Márcio Antônio e recebia um salário mínimo. No vídeo, ele diz “falei para estudar, mas ele não quer. Então vai ficar na minha senzala”. Em outro trecho, ele diz rindo e em tom de brincadeira: “tenta fugir, pode ir embora”.O vídeo não foi apagado, e o médico fez uma segunda publicação 10 dias depois dizendo que foi “uma brincadeira sem graça, idiota, irresponsável e muito infeliz, que nunca, jamais deveria ser feita”. Disse estar envergonhado e agradece pela “tomada de consciência”.