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Médico vira réu após paciente ter perna amputada depois de cirurgia de safena

Arquivo Pessoal
Maria Helena dos Santos, de 60 anos, teve uma das pernas amputadas após passar por cirurgia de safena

O médico Benedito Alves Moreira se tornou réu pelo crime de lesão corporal gravíssima após realizar uma cirurgia de ponto de safena em uma idosa, de 60 anos, que precisou amputar a pena devido complicações no procedimento, em Morrinhos, no Sul goiano. A denúncia oferecida pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) foi recebida pela Justiça na última segunda-feira (17). 

Ao Daqui, a advogada Cristiene Pereira, que faz a defesa do médico e do hospital Casa de Saúde Sylvio de Mello, onde foi feita a cirurgia, respondeu que não se pode estabelecer a relação entre a amputação da paciente e a atuação médica, sem antes averiguar pontos técnicos fundamentais. Acrescentou também que o médico não pode ser responsabilizado pelo fato, nem acusado de omissão, uma vez que prestou todo o atendimento necessário para a paciente (Veja a nota completa no final da matéria). 

O caso aconteceu no dia 6 de fevereiro deste ano, quando a dona de casa Maria Helena dos Santos precisou se submeter a uma cirurgia de retirada da veia safena depois que descobriu que estava com insuficiência venosa nas pernas, o que lhe causava fortes dores.  

Conforme o documento acusatório, durante o procedimento cirúrgico, o médico, que é proprietário do hospital Casa de Saúde Sylvio de Mello e especialista em cirurgia geral, “assumiu o risco do resultado lesivo, procedendo à secção (corte) da artéria femoral superficial direita”.  

O procedimento impediu que o membro recebesse sangue, ocasião em que, posteriormente, resultou na amputação da perna direita da vítima, de acordo com o promotor de Justiça Guilherme Vicente. 

A denúncia descreve que após a cirurgia, quando passou os efeitos da anestesia, a Maria Helena passou a se queixar de fortes dores na perna direita. O médico teria alegado que as dores seriam comuns e naturais após a cirurgia vascular. 

A idosa permaneceu internada na unidade até o dia 9 de fevereiro, ainda se queixando de dores e dormência da perna. De acordo com o MPGO, o médico afirmou que seria necessário a realização do exame ecodoppler e atendimento com médico vascular.  

No dia 10 de fevereiro, a vítima foi transferida para o Hospital Municipal de Morrinhos e, na sequência, encaminhada ao Hospital Estadual de Urgências de Goiânia (Hugo), local em que foi levada diretamente ao centro cirúrgico, com suspeita de trombose na perna direita.  

Neste momento, além das dores e dormência, a perna já estava em estado de esfriamento, segundo a denúncia. 

Durante a cirurgia, a equipe médica constatou “alguns segmentos com fragmentos de artérias totalmente dilacerados, sem possibilidade de revascularização de membro”. dessa forma, os médicos indicaram a amputação da perna, considerando que seria a única forma da idosa sobreviver, o que foi autorizado pelos familiares, segundo o MP-GO. 

Maria Helena foi submetida à perícia técnica, sendo comprovada a gravidade da lesão que levou à amputação da perna direita. 

Vergonha  

Na época, a família denunciou o caso alegando que o médico errou e dilacerou a artéria femoral da dona de casa. O delegado responsável pelo caso, Fernando Gontijo, concluiu no inquérito que o médico foi indiciado por lesão corporal culposa após a polícia constatar “indícios que fogem da normalidade da cirurgia e indicam um erro médico”. 

Ouvido pelo Daqui, filho da dona de casa, Elias Mario afirmou na época que a mãe ficou abalada quando soube da necessidade da amputação. 

"Quando ela soube que ia ter a perna amputada, pediu para excluir todos os contatos do celular, porque ela não queria mais ver ninguém, por conta da vergonha. Nós queremos justiça, para que outras pessoas não passem pelo mesmo”, lamentou 

Elias relatou que a família ainda busca dar uma vida ativa para a mãe, como era antes de acontecer a amputação. Segundo ele, a família teve que fechar a empresa que eram proprietários e ainda fazer modificações na casa para que a dona de casa se adaptasse melhor. 

"Precisamos dar a ela uma prótese melhor. Estamos vivendo de ajuda de amigos, de alguns eventos beneficentes que estamos fazendo para a arrecadação de dinheiro para comprar uma prótese boa para ela", contou o filho. 

Veja a nota completa da defesa do médico e do hospital

A advogada Cristiene Pereira Couto, responsável pela defesa da Casa de Saúde Sylvio de Mello e do corpo clínico da unidade, esclarece que não se pode estabelecer relação causal entre a amputação da paciente Maria Helena dos Santos e a atuação médica, sem antes averiguar pontos técnicos fundamentais.  

O médico em questão não pode ser responsabilizado pelo fato nem acusado de omissão. Logo após as queixas da paciente, o profissional solicitou a realização de um ecodoppler. Este exame de imagem investiga a causa de inchaços e dores persistentes nas pernas e poderia mostrar a situação do quadro venoso da paciente, a existência de eventuais complicações e a necessidade ou não de um novo procedimento cirúrgico. No entanto, não foi possível realizar o exame em Morrinhos, em virtude do feriado de Carnaval. Neste sentido, solicitou-se a regulação da paciente para a capital.  

Diante da ausência do exame e de detalhamento sobre a conduta adotada e a eficácia da medicação ministrada durante a transferência da paciente para Goiânia, somente uma perícia médica, que ainda não foi realizada e é conduzida por profissional especialista, legalmente habilitado, é que permitirá verificar e esclarecer o que determinou o fato e apurar as causas motivadoras. 

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