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Móveis no alto e noite sem sono é rotina de quem mora em área de risco de Goiânia

Wildes Barbosa
Preocupação: Patrícia Bittencourt, moradora da Vila Roriz, conta que chuva à noite é sinônimo de não dormir

O período chuvoso representa preocupação para diversos moradores de Goiânia e Aparecida de Goiânia. Em endereços conhecidos pelos alagamentos, aqueles que já foram afetados por estas ocorrências têm protocolos sempre que começa a chover. A rotina alterada inclui o remanejamento de móveis dentro do lar e a mudança de rota para chegar e sair de casa em razão dos alagamentos.

Na capital, a Defesa Civil tem 99 pontos de alagamentos mapeados, sendo eles divididos entre todas as regiões da cidade. Já em Aparecida são 25 pontos nesta condição. Grande parte dos endereços é de locais conhecidos que, apesar de intervenções, mantêm os problemas. É o caso da Vila Roriz, na região norte de Goiânia. Vizinho do Rio Meia Ponte, o bairro já recebeu obras de contenção, mas vive com constantes alagamentos.

A desempregada Patrícia Bittencourt Lovato, de 43 anos, mora com o marido e mais quatro filhos em uma casa entre as ruas Um-Dez e Um-8 na Vila Roriz há 15 anos. O endereço está entre os catalogados pela Defesa Civil da capital em razão da recorrência de alagamentos. Mesmo com a casa suspensa mais de meio metro acima do nível da rua, Patrícia já perdeu diversos móveis por conta da elevação da água.

A rotina de medo em períodos chuvosos acompanha a família, que já tem um protocolo do que fazer. “Vai chovendo, aumentando o nível da água. Se for à noite ninguém dorme. A primeira preocupação é tirar as crianças de casa. Se começar a chover muito a gente sabe que a primeira casa que precisa de socorro é a do meu cunhado, que fica no início do lote. Vai lá, levanta cama, sofá, tudo o que dá para tirar”, conta a moradora, que, desempregada, desabafa: “A gente luta para construir e fica com medo de perder tudo em minutos”.

Cláudio Araújo, diretor do Movimento Cidadão Consciente (MCC), de 63 anos, é morador do Setor da Pampulha, em Aparecida de Goiânia. Ele conta que um ponto de alagamento entre a Rua dos Bororós e a Rua Jesuína de Abreu se torna preocupação e impacta a vida dos moradores da região todos os anos. “Quando chove, desce a enxurrada e a água empoça, não tem pra onde sair e fica de dois a três dias”, explica.

“Já aconteceu de senhora cair na água. De carro é ainda mais arriscado, a pessoa que não conhece, vem em velocidade mais rápida e chega a ficar atolada. É um transtorno total, as pessoas não podem passar por lá, têm de mudar o trajeto”, relata Araújo sobre os impactos no dia a dia da população local. “Ficou acertado que receberíamos um bueiro, mas até hoje nada”, complementa.

A Defesa Civil de Aparecida de Goiânia diz que a situação do endereço foi protocolada nesta quarta-feira (4) e que as equipes já realizaram visita técnica. O local ainda não consta entre as áreas propensas a alagamentos, mas o órgão afirma que após a conclusão de relatórios há a possibilidade de inclusão, o que traria prioridades para intervenções.

Dos 99 pontos de alagamento mapeados pela Defesa Civil de Goiânia, 28 estão na região sul, 12 na região norte, dez na região leste, 12 na região oeste, 21 na região Campinas/Centro, sete na região noroeste e nove na região sudoeste. O bairro que mais se repete no mapeamento é o Parque Amazonas, com cinco pontos catalogados. Já em Aparecida os bairros que mais se repetem são os setores Mansões Paraíso e Village Garavelo, com dois pontos cada.

O coordenador da Defesa Civil de Goiânia, Robledo Mendonça, explica que os alagamentos acabam se tornando comuns em cidades de médio e grande porte em razão da impermeabilização do solo. “Outro fator importante é o descarte irregular do lixo, o manejo incorreto de resíduos sólidos, que acabam culminando em entupimentos da rede pluvial e assim causam os transtornos de alagamentos”, pontua.

Gestões falam em esforço e novas obras 

As gestões de Goiânia a Aparecida dizem que estão atentas aos problemas e que mantêm ações que buscam resolver as questões. No entanto, há o destaque de que alguns endereços carregam problemas de difícil solução. É o que explica o coordenador da Defesa Civil de Aparecida, Juliano Cardoso. 

“Da lista de pontos de alagamento que temos hoje, no próximo semestre algumas já não estarão lá. Porém, dependendo do perfil de cada área, pode ser que algumas não tenham solução imediata e definitiva. Por isso a avaliação é muito complexa”, afirma Cardoso.
O coordenador da Defesa Civil de Goiânia, por sua vez, diz que a gestão trabalha para tentar eliminar os pontos e que iniciativas recentes afastaram problemas ainda mais graves. 

“Contratamos um equipamento moderno de limpeza de sistemas de drenagem, o que melhorou significativamente o escoamento em vários pontos. Se não fosse este trabalho, pela quantidade de chuvas que já caiu, certamente teríamos problemas maiores”, diz.

O prefeito Rogério Cruz anunciou nesta semana a inclusão de oito obras de drenagem para a prevenção de enchentes e alagamentos na capital. Segundo o Paço, a ação faz parte do plano de prevenção a enchentes e alagamentos na capital. “É urgente resolver o problema da drenagem urbana, para evitar transtornos à população, como acidentes e até mortes causadas por alagamentos e enchentes”, diz o prefeito.

Na manhã desta quinta-feira (29), Rogério Cruz se reuniu com o secretário Denes Pereira, da Infraestrutura Urbana (Seinfra) e anunciou um incremento de R$ 67.810.592,97 para as obras de pavimentação e drenagem em dez pontos da capital, incluindo bairros como Goiá e Centro, Vera Cruz e Pompéia. 

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