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Mais de quatro mil vagas para consultas pediátricas ficaram ociosas em Goiânia

Fábio Lima
Consultório pediátrico do Centro de Saúde Cidade Jardim Michele Muniz do Carmo: apenas 47,2% das consultas agendadas na rede municipal de Goiânia em agosto foram efetivamente realizadas

Mais de 4 mil vagas para consultas pediátricas na Atenção Primária da rede municipal de Saúde de Goiânia ficaram ociosas em agosto. De 7,8 mil consultas ofertadas, apenas 3,7 mil (47,2%) atendimentos foram realizados. O cenário segue tendência apresentada em meses anteriores e causa sobrecarga da atenção especializada. Especialista destaca que é papel do poder público traçar estratégias para atrair usuários para consultas de rotinas.

A diretora da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Mirna de Sousa, explica que as consultas pediátricas ambulatoriais que acontecem na Atenção Primária são essenciais para o diagnóstico precoce de várias doenças e que a falta desse acompanhamento gera vários prejuízos para a saúde das crianças. “Acarreta a diminuição da cobertura vacinal, aumento de doenças infectocontagiosas, crescimento de casos de sobrepeso e obesidade, dentre outros.”

Mirna destaca que, por parte do poder público, apenas oferecer as consultas não é suficiente. “Se temos cerca de 8 mil consultas disponíveis para uma cidade de 1,4 milhão de habitantes e ainda assim sobram vagas, algo está errado. Historicamente, temos um déficit na oferta de atendimento na Atenção Primária. Por isso, a população está mais acostumada a ir para o Pronto Socorro. Entretanto, também é papel do poder público resolver esse problema”, destaca.

Segundo a especialista, é preciso verificar se os canais de agendamento dos atendimentos estão funcionando plenamente e se eles são de conhecimento da população. “As consultas precisam ser ofertadas de acordo com o perfil do público alvo. Os horários, por exemplo, precisam ser adaptados à realidade das pessoas. Se não for assim, elas não vão comparecer”, destaca. Em Goiânia, as consultas pediátricas ocorrem em unidades que funcionam das 7h às 19h. Em agosto, das 5,6 mil consultas marcadas, 3,7 mil (66,3%) foram realizadas.

A diretora da Rede de Atenção Primária à Saúde de Goiânia, Alessandra Leonardo, afirma que o trabalho de divulgação dos atendimentos oferecidos pela rede foi intensificado. “O tema tem sido abordado nas unidades de saúde. Os nossos profissionais são instruídos a conversar com os pais sobre a importância de fazer o acompanhamento médico dessas crianças”, diz. Além disso, o site e as redes sociais da Prefeitura têm sido canais de divulgação das diversas formas de se fazer o agendamento de uma consulta pediátrica.

Alessandra esclarece que as consultas sempre são marcadas em unidades que ficam mais próximas da residência da pessoa, com o intuito de facilitar o acesso ao serviço. Mas admite que a questão do horário das consultas pode ser um impeditivo para, por exemplo, mães que trabalham fora de casa e cuidam sozinhas dos filhos. Por isso, Alessandra conta que a rede estuda ampliar o horário de funcionamento de algumas unidades.

Porém, a diretora destaca que Goiânia possui quatro unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF) que já funcionam até as 22 horas, de segunda a sexta: Parque Santa Rita, Finsocial, Jardim Itaipu e Jardim Curitiba. “Temos generalistas que podem fazer um atendimento inicial e, caso não consigam resolver o problema, a criança já sai de lá com um encaminhamento para atendimento ambulatorial em algum Centro de Saúde”, relata.

Sobrecarga
A falta de acompanhamento na Atenção Primária acaba causando uma sobrecarga na atenção especializada, que cuida de casos mais complexos. A unidade que presta a maior quantidade de atendimentos de urgência e emergência pediátrica em Goiânia é o Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Campinas, de complexidade intermediária, que conta com cinco a seis pediatras em cada plantão de 12 horas.

Alessandra explica que em parceria com a Diretoria de Atenção Secundária, os pacientes que chegam no Cais de Campinas durante o dia, são avaliados e os que não apresentam estado de saúde agravado, são encaminhados para consultas de rotina em unidades de saúde da Atenção Primária mais próximas do Cais. “É uma forma de desafogar o Cais e, ainda assim, prestar o atendimento adequado.”

O subsecretário de Vigilância e Atenção Integral à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Luciano de Moura, aponta que o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), uma unidade de alta complexidade em Goiânia, também fica sobrecarregado. O hospital faz cerca de 5 mil atendimentos por mês, sendo que em torno de 56% deles são casos de menor complexidade. “Estamos falando de febre baixa, dor de garganta, pequenos cortes, dentre outros.”

O Hecad tem transmitido informativos no Pronto Socorro da unidade com a orientação de que casos não urgentes ou pouco urgentes se dirijam aos postos de saúde, Cais ou Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Além disso, Moura relata que tem ocorrido um diálogo entre a Regulação da capital e do estado. “O intuito é que o paciente vá para o nível de atenção adequado. Temos que lembrar que o atendimento no Hecad não pode ficar prejudicado, pois a unidade recebe pacientes de alta complexidade do estado inteiro”, finaliza.

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