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Manipulação de resultados: ligação entre jogadores e apostadores chamou atenção do MP-GO

Wildes Barbosa / O Popular
Marcelo Borges Amaral é um dos promotores que integram a equipe do Gaeco, que investiga as manipulações de resultados no Brasil

A ousadia da organização criminosa investigada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) no âmbito da Operação Penalidade Máxima e o nível de intimidade entre integrantes do grupo e os jogadores que participaram do esquema fraudulento foram pontos que chamaram atenção dos investigadores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no curso da investigação do sofisticado esquema de manipulação de resultados que assolou o futebol brasileiro nos últimos meses.

Desde novembro do ano passado, integrantes do Gaeco, do MP-GO, se debruçam sobre emaranhado de provas e ligações entre uma organização criminosa e jogadores de futebol que aceitaram vantagens econômicas para manipular situações dentro de jogos do Campeonato Brasileiro – séries A e B – além de estaduais e outras competições até mesmo fora do Brasil. No curso dessas investigações, ficou nítida a ousadia empregada no esquema e a forma como o esquema era tratado pelas partes envolvidas.

“Uma coisa que nos deixou muito surpresos foi o grau até de entrelaçamento, de ligação entre alguns jogadores e a organização criminosa chefiada por um dos denunciados (Bruno Lopez), ao ponto de que eles trocavam mensagens e vídeos comemorando o resultado de lances, como se fossem grandes amigos comemorando um resultado esportivo qualquer. Eles estavam comemorando ali a prática de um crime”, ressaltou o promotor de Justiça Marcelo Borges Amaral, integrante do Gaeco, do MP-GO.

O promotor de Justiça revelou que o grupo criminoso investigado na Operação Penalidade Máxima cruzou as fronteiras e realizou manipulação de resultados em jogos de futebol de um campeonato dos Estados Unidos. O MP-GO vai encaminhar o conjunto de provas sobre essa partida específica para as autoridades judiciais norte-americanas.

“Temos provas que um jogo do campeonato americano foi manipulado, da MLS (Major League Soccer). Neste caso, vamos mandar o material para a justiça norte-americana para as providências cabíveis. Aí você vê o grau de ousadia dessa organização criminosa”, frisou o promotor - o meia Max Alves foi afastado do Colorado Rapids após ter nome citado em conversas entre apostadores.

Para Marcelo Borges Amaral é importante salientar de que o esquema descoberto após investigações não se trata de meras apostas esportivas, mas com envolvimento de uma organização criminosa perigosa, o que ficou evidente para os investigadores ao longo do trabalho de investigação feito nos últimos meses.

“Se trata de uma organização criminosa, foram encontradas armas, granadas, foram muitas ameaças, se trata de uma organização perigosa, não podemos contemporizar isso. Esse pessoal poderia levar a situação às últimas consequências a julgar pelo nível que foi expressado nas provas que colhemos”, destacou o promotor.

Após duas fases deflagradas no âmbito da Operação Penalidade Máxima, o MP-GO não sabe precisar se ainda serão deflagradas outra fase, ou não se sabe quantas mais existirão. Marcelo Borges Amaral explicou que o Gaeco trabalha na avaliação do material colhido nas fases anteriores e também conta com novos depoimentos de atores envolvidos no esquema.

Alguns jogadores têm optado por celebrar acordos de colaboração com o MP-GO e estão confessando a participação na manipulação de resultados e abastecendo os investigadores de novas informações. Por isso, é impossível delimitar neste momento o alcance que a investigação vai ter no futuro em seus próximos passos.

“Não temos ainda uma resposta para isso (3ª fase), pode não ter mais ou pode ter mais dez. Tudo depende do novelo de lã que a gente for desenrolando a partir dos materiais já apreendidos nas outras fases e também de nossas investigações próprias, dentro daquilo que chamamos de procedimento investigatório criminal”, explicou.

Sem prazo estipulado para seu encerramento e descortinando cada vez mais o escândalo da manipulação de resultados no futebol brasileiro, a Operação Penalidade Máxima já se tornou um fato histórico no futebol nacional e até mundial. O promotor de Justiça Marcelo Borges Amaral acredita que esse é um marco no futebol brasileiro e uma das investigações mais importantes do MPGO.

“Em questão de ineditismo e repercussão, e até de surpresa com o objeto que estamos investigando, sem dúvidas. Vai virar um case mundial, vai servir de parâmetro para saber até que ponto o esporte, o futebol foram comprometidos”, salientou.

A deflagração da Operação Penalidade Máxima jogou luz a um problema em que já existia e era cercado de desconfiança, o efeito prático pode ser de estancamento da sangria e um ponto de reflexão para mudança no panorama do futebol brasileiro em relação a esse assunto. “Nós achamos que interrompemos pelo menos por enquanto. Mas imagina se não tivéssemos começado a investigar? Qual cenário teríamos hoje no futebol goiano e brasileiro?”, completou o promotor.

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