Geral

Menino vence dengue após 55 dias internado

Diomício Gomes
Thalles Henrique deixa hospital sob cuidados dos pais Edson e Maria Aparecida e com o carinho de integrante da equipe de enfermaria do Hecad

Caçula de uma prole de três irmãos, o garoto Thalles Henrique Santos de Paula, de 12 anos, tem motivos de sobra para sorrir e celebrar a vida em mais uma data ao longo do ano. Nesta quinta-feira, 18 de julho, após 55 dias de internação no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), em Goiânia, para tratamento de uma dengue hemorrágica com diversas complicações, ele recebeu alta. Do lado de fora, amigos e familiares o receberam com muitos sorrisos, cartazes, balões, música e orações. “Deus fez um milagre em nossa vida”, disse a mãe do menino, a diarista Maria Aparecida Silva Santos, 40.

Em quase dois meses, sob intenso cuidado da equipe do Hecad, Thalles protagonizou momentos que levaram sua família ao desespero. Maria Aparecida conta que, na segunda quinzena de maio, a dengue acometeu toda a sua família, que vive em Anápolis, a 55 quilômetros da capital. Ela precisou ficar internada e no leito do hospital soube que o caçula não estava bem. A diarista não teve dúvidas. Abandonou seus próprios cuidados médicos para acompanhar o filho. Na unidade de pronto atendimento (UPA) pediátrico da cidade, assistiu Thalles vomitar sangue. Naquele momento começou a corrida para salvar a vida do menino.

Thalles deu entrada no Hecad na noite de 24 de maio e no dia seguinte foi entubado. “Ele teve todas as complicações possíveis, uma dengue de apresentação atípica”, conta a médica pediatra Camila Assis. O que chamou mais a atenção, segundo ela, foi o acidente vascularencefálico isquêmico (AVE) que o garoto sofreu. “Isso foge do padrão habitual da dengue, mas como precisou ficar entubado, ele ainda teve pneumonia, lesão renal, alteração de pressão, insuficiência hepática e uma das complicações mais temidas da dengue que é a coagulação intravascular disseminada (CIVD)”, detalha a pediatria. Os médicos descobriram também uma dilatação aórtica.

Todo esse quadro exigiu quatro períodos de entubação. Thalles, que chegou ao Hecad com 48 quilos, chegou a pesar só 35. “Só tiramos a sonda pouco antes da alta. Todas as noites, ele recebia uma dieta de 1,5 mil calorias para recuperar o peso”, explica. O garoto deixou a unidade com 40 quilos, o que para a médica é uma conquista e tanto. “É muito emocionante para nós, da equipe, fazer parte desse renascimento. Quando vemos a recuperação física e emocional do paciente, percebemos que nossos esforços foram concretizados. Quando me despedi dele, falei: ‘Feliz aniversário’. Ele disse que não era seu aniversário, mas eu respondi: Agora é!

Maria Aparecida concorda. Enfraquecida física e emocionalmente, ela ganhou o apoio da irmã nos primeiros 30 dias de internação de Thalles. “Ela perdeu o emprego, minha família veio para Goiânia, ficamos dormindo na recepção do hospital. Tudo isso mexeu com todos nós. Nunca pensei que passaria por uma dor dessas. Em alguns momentos ouvi dos médicos que era só por Deus, que a qualquer hora meu filho poderia ter uma parada cardíaca. E o milagre veio.” A diarista revela que o filho está ansioso para chegar em casa, ver os amigos, jogar bola e andar de bicicleta, mas isso vai demorar um pouco. Por enquanto, Thalles consegue ficar de pé, mas vai depender de sessões de fisioterapia para voltar a andar. A voz também apresenta sequelas pelos longos períodos de entubação.

Nesta quinta-feira (18), Thalles não escondia a ansiedade. Fora do hospital, colegas da escola se uniram aos familiares para saudar o garoto com muito barulho e um momento de gratidão. O pai, o pedreiro Edson, ajoelhou e agradeceu as equipes médica, de enfermagem, da limpeza e da segurança. Ao jornal, Thalles comentou que, ao deixar o Hecad, sonhava com duas coisas: “comer, principalmente pizza e sanduíche, e ver os três cachorros da família – o Bob e o Faísca e a namorada dele, que chegou agora e ainda não tem nome”.”

Caso será levado ao Congresso Brasileiro de Pediatria 

O tratamento de Thalles precisa continuar, como explica a pediatra Camila Assis. “Existe a suspeita de que ele tenha síndrome de Marfan, uma doença genética que pode ter contribuído para as manifestações mais graves. Ele recebeu alta com encaminhamento para genética médica.” A equipe médica está investigando o achado cardíaco, referente à dilatação aórtica, mas não só isso. “Para todo paciente que tem uma doença que faz uma manifestação diferente do que estamos esperando como habitual, sempre suspeitamos de imunodeficiência e isso também precisa ser investigado.”

A médica pediatra salienta que o garoto deixou o Hecad com sequelas motoras e algumas cognitivas. “Até o momento, no âmbito da neurologia, é inconclusivo e a gente precisa de tempo para ter certeza de como ele vai evoluir, mas ele tem memória, fala preservada e começa a andar sozinho. Com certeza Thalles é um vitorioso e fazer parte desse momento da vida dele é muito especial”, diz Camila de Assis. A dengue hemorrágica de Thalles com todas as complicações virou um estudo de caso dentro do Hecad que será levado ao 41º Congresso Brasileiro de Pediatria, que a Sociedade Brasileira de Pediatria vai realizar em outubro, em Florianópolis (SC).

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