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Morador de rua está preso há 3 semanas por furto de panelas e sem audiência de custódia

Fábio Lima/O Popular
Entrada do Complexo Prisional, em Aparecida de Goiânia

Um homem em situação de rua de 46 anos está preso na Casa de Prisão Provisória (CPP), do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, desde o dia 29 de agosto, por causa do furto de três panelas em uma loja no Setor Cândida de Morais, em junho de 2019. A Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) entrou com um pedido de relaxamento de prisão porque, desde que foi preso, o desempregado Juarez de Jesus não passou por nenhuma audiência de custódia.

Juarez foi preso enquanto estava em atendimento hospitalar para ter a perna amputada e seu caso foi descoberto pela DPE durante um mutirão feito pelo órgão em parceria com a Diretoria Geral de Administração Penitenciária (DGAP) e outras instituições dentro da CPP para averiguar a situação dos detentos. A defesa do desempregado, que é da defensoria, não havia sido informada sobre a prisão.

O homem em situação de rua teve de amputar parte de uma das pernas depois que tentou ir a pé de Goianira a Goiânia por falta de dinheiro. Assim que teve alta foi encaminhado para a CPP, onde foi localizado pelo mutirão. Segundo a DPE-GO, a manutenção dele na cadeia coloca sua saúde em risco.

“Eu vim de Goianira pra Goiânia a pé. No meio do caminho a minha chinela arrebentou e continuei andando descalço. Aí, criou bolhas por debaixo do pé. Eu fiquei de quatro a cinco dias sem atendimento, mas começou a doer demais. Aí, eu fui no hospital”, lembra Fernando, em relato feito pela DPE-GO na nota enviada à imprensa.

O desempregado chegou a ser preso logo após o furto e, em depoimento, disse que tinha cometido o crime porque estava com fome naquele dia e resolveu furtar objetos para vender e conseguir dinheiro para comprar comida. Ele entrou na loja, pegou as panelas, colocou numa sacola e ao sair sem passar pelo caixa foi abordado por um cliente. Na delegacia, disse que pensou se tratar de um policial e não tentou fugir.

A prisão foi decretada pela Justiça em agosto de 2021 a pedido do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) sob alegação de que ao conseguir a liberdade provisória dois anos antes Juarez não cumpriu as medidas cautelares determinadas, como fornecimento de endereço correto para intimações e comparecimento mensal no Judiciário durante 180 dias para audiência - ele só fez isso uma única vez, em 2019.

O pedido de revogação da prisão foi feito pelo defensor público Luiz Henrique Silva Almeida na tarde desta terça-feira (20). Além de argumentar que o preso deveria ter passado por uma audiência de custódia, como determina a legislação, em até 24 horas após a prisão, o defensor diz que com o cumprimento do mandado, o MP-GO atingiu seu objetivo que era localizar Juarez para que pudesse ser intimado para dar sequência ao processo.

Luiz Henrique argumenta que a não realização da audiência de custodia acarreta a ilegalidade da prisão. “O acusado é tecnicamente primário e o crime possui pena de 1 a 4 anos de reclusão, situação que sequer admite prisão preventiva nos termos do artigo 313 do CPP. Ademais, a prisão tinha motivo maior a citação e ciência do acusado sobre o processo. Já tendo sido ele citado perde sentido a manutenção da constrição, pois a partir de agora o processo pode ser finalizado independente da presença do réu, que se voltar a se ausentar sofrerá os efeitos da revelia”, destacou o defensor público.

Ao pedir a prisão em agosto do ano passado, o MP-GO alegou que o acusado não havia sido localizado no endereço fornecido, não comunicou mudança de residência e não compareceu ao processo após ter sido “devidamente citado por edital”. Além da ação que resultou em sua prisão, o desempregado responde a mais duas por furto e uma por ameaça.

O mutirão do qual a DPE-GO faz parte se chama Ação de Cidadania, começou no dia 12 e contou com a participação também da DGAP, do MP-GO, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e da Comissão de Direitos Humanos da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO). A expectativa é que os 2,1 mil detentos da CPP sejam atendidos até a próxima sexta-feira (23).

Luiz Henrique disse que um dos objetivos do mutirão feito em parceria com outros órgãos era encontrar casos como o de Juarez, de presos que ficam longos períodos sem que passar por nenhuma audiência e sem conhecimento do andamento de seus processos.

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