-Imagem (1.2564632)O núcleo de mulheres da equipe de transição de governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levantou mais de cem decretos, a maioria sob sigilo, que podem ser revogados. A informação é da presidente do PSDB de Goiânia e integrante da transição, Aava Santiago, durante entrevista à jornalista Cileide Alves, do O POPULAR, nesta terça-feira (22).A vereadora de Goiânia explicou que o mapeamento dos decretos faz parte da primeira etapa do Grupo de Trabalho do núcleo de mulheres, e que os impactos de uma possível revogação serão analisados antes da decisão. “A gente não quer jamais fazer o ‘quanto pior melhor’, até porque se você revoga tudo de uma vez, você também perde o mínimo de lastro institucional para implantar a política pública”, explicou a dirigente partidária.Aava Santiago ressaltou que os documentos são graves e a maioria está sob sigilo. Segundo ela, o Ministério da Mulher deverá ser criado para estruturação das políticas públicas afetadas. “A maior parte dos decretos substituiu a palavra mulher pela palavra família, e assim a gente não consegue identificar o básico: qual é o recorte? Como é que eu vou falar de pré-natal? Como é que eu vou falar de violência obstétrica? Como é que eu vou falar de prevenção ao câncer de mama? Como é que eu vou falar da Casa da Mulher Brasileira se eu estou fazendo um apagamento da palavra mulher dentro das normativas?”, questionou.De acordo com a parlamentar, o orçamento para políticas públicas voltadas para as mulheres foi reduzido de R$ 400 milhões para R$ 20 milhões. O fechamento da Central de Atendimento à Mulher, acionado através do número 180, é apontado por Aava como uma das principais consequências dos cortes.“O 180 precisa de plantão, ele precisa funcionar em todo o território nacional, ele não tem hoje recurso para você manter a estrutura física, a estrutura de call center”, explica. Aava Santiago também ressaltou os impactos causados pelo fim da Casa da Mulher Brasileira, que unificava em um mesmo espaço serviços necessários para a proteção às mulheres vítimas de violência.Para o novo governo que se aproxima, o enfrentamento ao feminicídio precisa de políticas públicas específicas, na avaliação da vereadora. “Aqui no estado de Goiás houve uma redução drástica de todas as formas de crimes violentos, menos do feminicídio. Feminicídio aumentou. Se você não tem um recorte de gênero, não adianta você investir muito em segurança pública, porque os efeitos que levam uma mulher a ser assassinada pelo seu companheiro são muito diferentes dos efeitos que levam alguém a ser morto no assalto”, afirma.Disputa entre evangélicosPara a vereadora, que é da igreja Assembleia de Deus, os evangélicos que participam dos movimentos golpistas que ocupam portas de quartéis são de setores neopentecostais de alto poder aquisitivo. “São pessoas mais abastadas que não dependem tanto de bater ponto, que não dependem tanto de colocar a comida na mesa com base no seu trabalho quase braçal e por isso podem estar nesses lugares.”Aava Santiago avalia que setores da esquerda têm responsabilidade pelo forte vínculo criado entre os evangélicos e o presidente Jair Bolsonaro (PL). “Eu cresci sendo ofendida assim: ‘Crente é alienado. Crente dá dízimo para pastor ladrão. Pastor é tudo desonesto’. A maioria esmagadora dos pastores que eu conheço nasceram pobres e vão morrer pobres”, afirmou.O crescimento desordenado das igrejas e a ausência de diálogo com a base evangélica é outro fator apontado para a aproximação entre igreja e extrema-direita. “A pessoa que vira pra mim e diz que não sou crente está baseando isso em três pilares: ‘ideologia de gênero’, aborto e legalização de drogas. Ela acha que o evangelho se resume a isso. A gente vai ter que fazer uma disputa do que é o evangelho, se a gente não quiser cair novamente nesse abismo.” A integrante do núcleo de mulheres da transição também lembrou que a igreja Assembleia de Deus esteve com todos os presidentes eleitos desde a redemocratização, e agora setores evangélicos alinhados a Bolsonaro já sinalizam a Lula.Reconstrução do PSDBÚnica parlamentar e dirigente partidária do PSDB na equipe de transição, Aava acredita na reconstrução do partido. Ela disse que, após a indicação para a transição, recebeu ligação do presidente estadual do PSDB, Marconi Perillo. O ex-governador de Goiás parabenizou a vereadora pela indicação e se colocou à disposição para orientação na construção de políticas na transição de governo.Aava disse que recebeu um convite pessoal do presidente eleito Lula para se filiar ao PT, mas reafirmou que fica no PSDB. “Eu sou uma mulher de partido, eu quero construir o partido. Eu teria tido muito mais voto se eu não fosse do PSDB porque meu voto é de esquerda, mas eu preciso que um partido desse tamanho assuma o seu lugar e a sua grandeza nesse momento do País”, completa.