Dados do Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, levantamento realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, apontam que até 2025, o Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais. Desse total, 2 milhões são para formação inicial, para novas vagas e reposição de inativos, e os outros 7,6 milhões são em formação continuada e atualização dos trabalhadores.A maior parte (79%) requer aperfeiçoamento profissional. Tal cenário coloca em xeque a ideia de “conclusão dos estudos” e inaugura o modelo de aprendizado ao longo da vida, o que muitos especialistas chamam de lifelong learning. Ou seja, na prática, apesar de não estarem nos bancos das escolas e faculdades, boa parte dos brasileiros puderam celebrar o último 11 de agosto, Dia do Estudante, já que essa é uma condição, que com rápido avanço de novas tecnologias, passa a ser contínua.E são as empresas, que têm esse ponto de contato direto com as demandas do mercado, que sentem mais a carência de mão de obra qualificada e que também estão assumindo essa responsabilidade na formação continuada de seus profissionais.“Hoje em dia, com a qualificação contínua sendo fundamental, a tendência é de que sejamos, de certa forma, eternos estudantes. E as empresas de fato estão assumindo essa responsabilidade na formação das pessoas, até porque justamente por causa das novas ferramentas digitais que temos hoje, isso ficou mais fácil e acessível. Então as empresas conseguem capacitar seus profissionais dentro do ambiente do negócio e quem não buscar e não estiver aberto a esse eterno aprendizado, ficará para trás certamente”, avalia Ana Cláudia Salatiel, especialista em gestão de pessoas e diretora de operações e pessoas do Grupo URBS, um dos maiores do mercado imobiliário em Goiás.Ela explica que a própria URBS possui hoje três importantes programas internos de qualificação, voltados tanto para os seus colaboradores administrativos, quanto para sua equipe de corretores. “Nós temos o URBS Conecta, que é um programa interno que oferece o primeiro treinamento ao nosso colaborador ou corretor parceiro, focando especialmente na rotina diária de trabalho que o profissional terá dentro da empresa. Temos também o URBS Experience, que já é voltado para as equipes de venda e promove a capacitação continuada de corretores com objetivo de torná-los especialistas nas suas áreas de atuação. Se é um corretor que atua, por exemplo, mais no segmento de revenda, nós o capacitamos para que ele seja um especialista; se é um profissional mais focado em lançamentos também o especializamos, com cursos onlines e oficinas periódicas”, explica a diretora da URBS.Outra ação interna de capacitação da empresa é o URBS Innova, que é realizada uma vez ao ano. Ana Cláudia explica que trata-se de um grande evento que a empresa promove, colocando toda a equipe em contato com profissionais altamente gabaritados no país, e que são convidados a realizar palestras e workshops sobre diversos temas.“Essa já é uma ação bem grande que promovemos e chamamos nomes reconhecidos nacionalmente. Neste grande evento que promovemos, especialmente para as equipes de vendas, nós trazemos esses especialistas renomados que falam sobre cenário econômico, tendências de arquitetura, mudanças de consumo, uso de novas tecnologias. Ou seja, é um evento que traz uma grande atualização sobre diversos assuntos e que potencializam a capacidade desse profissional corretor”, esclarece Ana Cláudia.Construindo carreirasEmpresas da construção civil estão entre as que mais investem em capacitação profissional, isso porque, não só o setor historicamente sempre abrigou mão de obra com baixa qualificação escolar, mas porque nas últimas décadas modernizou seus processos e incorporou novas tecnologias, exigindo assim profissionais altamente qualificados. Para contornar essa carência, as próprias companhias assumiram a qualificação de boa parte dos trabalhadores do setor, o que inclui não só a qualificação técnica para determinadas funções dentro do canteiro de obras, mas também a própria formação escolar, com empresas levando até salas de aula para as obras. Em Goiânia, por exemplo, a GPL Incorporadora há dois anos desenvolve o projeto Construindo Carreiras.Segundo a coordenadora de segurança do trabalho e ações de sustentabilidade da empresa, Danielle Alves, o intuito do programa interno é formar mão de obra qualificada dentro da empresa para suprir a grande demanda de funcionários.“No lugar de procurar profissionais de fora, nós olhamos para dentro, para o nosso próprio time. Para isso, promovemos aulas teóricas com os materiais baseados nas normas construtivas, de desempenho e de qualidade; e aulas práticas no próprio ambiente de trabalho. Aqui eles aprendem fazendo", destaca. O programa Construindo Carreiras já formou mais de 30 colaboradores nos cursos de elétrica, pedreiro, hidráulica e, mais recentemente, hidrossanitário. Sobre este último, Danielle explica: “Um projeto hidrossanitário é um conjunto de procedimentos de execução e inspeção de serviços (PEIS), o que engloba toda a distribuição de água fria, água quente, esgoto e água pluvial ao longo da edificação. Procedimentos esses que fazem parte do sistema de gestão da qualidade”. Formando na última turma do projeto, Idailton do Nascimento, que atualmente é auxiliar de hidráulica em uma das obras da empresa, conta que viu no curso uma oportunidade de crescimento profissional. “Sempre tive curiosidade e vontade de aprender mais e quando vi que a empresa estava dando o curso, percebi que poderia ser uma boa chance para meu crescimento profissional e aumento dos meus ganhos”, afirma. Sobre a dataCelebrada desde 1927, o Dia do Estudante originou-se um século antes, no dia 11 de agosto de 1827, quando o então imperador Dom Pedro I autorizou a criação das duas primeiras faculdades do Brasil: a Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco; e a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, em São Paulo. Um século depois, em 1927, a data segue reforçando a importância do estudo.