Geral

Pacientes de clínica clandestina de reabilitação relatam medicação excessiva e violência psicológica

Wildes Barbosa
Dependentes químicos internados em clínica de reabilitação clandestina foram transportados até a Deic, em Goiânia

LARISSA FEITOSA

Pacientes de uma clínica de reabilitação de Abadia de Goiás relataram à Polícia Civil que recebiam dosagens excessivas de medicamentos e sofriam com ameaças e violência psicológica durante as internações. O local começou a ser investigado há dois meses, depois que um homem de 35 anos morreu com um golpe de mata-leão ao resistir a uma tentativa de internação compulsória. Nesta terça-feira (1º), três funcionários e o casal de donos da clínica foram presos.

Como o nome dos investigados não foi divulgado pelas autoridades, a reportagem não localizou suas respectivas defesas para se manifestarem sobre o caso.

O delegado Humberto Soares, responsável pelo inquérito, informou que haviam 38 dependentes químicos internados na clínica. Destes, 25 foram transportados até a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Goiânia. Além de prestarem depoimento, todos os internos serão encaminhados para o serviço de assistência social da Prefeitura de Abadia de Goiás. 

Segundo o investigador, os pacientes foram encontrados em situação de ‘total insalubridade’ na clínica. Mesmo sem autorização para estar em atividade, o local funcionava em regime de internação e não oferecia nenhum tipo de acompanhamento médico. Os funcionários, inclusive, têm antecedentes por tráfico de drogas, lesão corporal, violência doméstica e outros crimes.

“Eles me deram um monte de remédio lá. Um tanto de remédio que eu nem sei o que era. E não tinha isso de não querer tomar a mais. Tinha punição. Ameaça lá era direto. Quando foram me internar a força também me apagaram com um mata-leão. Eu desmaiei, mas voltei, né? esse outro não voltou”, disse um dos internos, que não pôde ter sua identidade revelada.

O delegado detalhou que as famílias das vítimas pagavam entre R$ 2 mil e R$ 5 mil por mês pelas internações. Todas acreditavam que estavam ajudando os entes queridos a se curar do vício em drogas e também foram enganadas. Esses familiares também serão ouvidos pela polícia. 

Morte por mata-leão

O homem morto durante a tentativa de internação morava em Posse, no nordeste de Goiás. Segundo a polícia, a família dele encontrou a clínica e pagou aos donos pela internação forçada. Mas, na data marcada para levarem a vítima para Abadia de Goiás, o homem resistiu à internação e tentou escapar. Com isso, acabou morto por meio de um golpe “mata-leão”.

“A família entrou em contato com o dono da clínica, que fez toda a negociação e disse que internava esse familiar. Ele então mandou uma equipe lá para Posse para fazer a apreensão dessa vítima. Quando chegaram lá, os três suspeitos se identificaram como policiais e abordaram a vítima. A vítima por não querer ser internada, reagiu, e no que ela reagiu, os suspeitos usaram a força e deram um golpe mata-leão. Por conta desse golpe a vítima veio a falecer”, detalhou o delegado.

Ainda de acordo com o investigador, os suspeitos levaram a vítima para um hospital de Simolândia, e a deixaram lá afirmando que havia sofrido uma overdose. Após esse episódio, as investigações começaram, e a polícia descobriu que a clínica para a qual o homem seria levado à força não tinha alvará judicial para funcionamento e já havia sido interditada anteriormente.

Buscas e prisões

Nesta terça (1º), a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e de prisão em Goiânia e no município de Abadia de Goiás. Foram apreendidos carros usados nas internações compulsórias e uma arma de fogo. 

Além do homicídio ocorrido em Posse, os envolvidos na clínica clandestina estão sendo investigados pelos crimes de sequestro, cárcere privado, e, eventualmente, por associação criminosa, falsificação de documentos, curandeirismo e outras infrações penais correlatas, conforme destacou o delegado.

Divulgação/Polícia Civil
Polícia faz buscas na clínica clandestina que internava dependentes químicos
Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI