GABRIELLA BRAGAAs unidades de saúde de urgência e emergência nos municípios de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade, localizados na Região Metropolitana de Goiânia, têm sentido aumento na demanda por moradores da capital. O cenário estaria ligado à alta incidência de casos de dengue e síndromes respiratórias, além da proximidade das unidades, situadas nas divisas entre as cidades, aos pacientes.Goiás vive desde o início deste ano uma epidemia de dengue. Já foram mais de 300 mil casos notificados da doença, em um acréscimo de 313% em relação ao ano passado. Ao menos 184 óbitos foram confirmados neste ano, e outros 162 seguem em suspeita. Ao mesmo tempo, como observado em todos os anos nesta época, há aumento de casos de síndromes respiratórias agudas graves (SRAG).A situação tem gerado uma sobrecarga nas urgência e emergência das redes municipais da capital e cidades limítrofes. Para atender todos os pacientes que procuram as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) e prontos-socorros destas localidades, as gestões municipais têm adotado estratégias, como a ampliação do quadro de profissionais médicos atuando em cada plantão.Em uma das cinco unidades de urgência e emergência de Aparecida de Goiânia, na UPA Geraldo Magela, localizada no Parque Flamboyant, moradores da capital buscam atendimento pela rapidez e facilidade. Residentes no Parque Atheneu, o casal Jaquelene Teixeira, de 30 anos, e Rubens Souza, de 46, contam ter buscado a UPA da Chácara do Governador na última semana para a filha de oito meses, com sintomas gripais. Mas diante da demora, preferiram buscar a cidade vizinha.É o que faz também a dona de casa Patrícia de Oliveira, de 37 anos. Moradora do setor São Judas Tadeu, esteve na UPA de Aparecida na tarde desta terça-feira (15) buscando atendimento para a mãe, Delvita de Oliveira, de 61, com dores na coluna, e para a filha de oito anos, diagnosticada com uma virose. Mas mesmo residindo mais longe do município da Região Metropolitana, opta pela unidade pelo “atendimento bom e rápido.”Superintendente de Atenção à Saúde de Aparecida, Gustavo Assunção pontua que houve acréscimo na busca pelas unidades diante da alta dos casos de doenças. “Temos observado esse aumento em algumas unidades em regiões limítrofes, de fácil acesso. E urgência e emergência não tem barreira. Então, tem unidades que, pontualmente, quando a gente vai para fazer aferição de dados, chegam a 40% ou 50% de atendimento para moradores não apenas de Goiânia, mas de toda a Região Metropolitana”, diz.Por conta deste cenário, Assunção aponta que o município tem adotado estratégias como reforço de médicos e profissionais da saúde nas unidades, em prestações de serviços laboratoriais, e na priorização dos casos graves. “O que acontece é que o paciente faz o fluxo dele. Ele busca onde tem atendimento, onde tem facilidade, e também fazem muito boca a boca”, aponta, exemplificando o caso do Cais Nova Era, situado nas proximidades do Terminal Cruzeiro, o que viabiliza a ida de muitos.O “boca a boca” relatado pelo superintendente de Aparecida é observado em outras localidades. A exemplo, o técnico de instalação Manoel Matheus Soares, de 26 anos, levou a costureira Gerciany Viana, 21, ao Pronto-Socorro (PS) Vila São João, em Senador Canedo, por já conhecer o local. Mas, morando na região Noroeste de Goiânia, só tomou conhecimento da unidade após a indicação de uma amiga que mora nas proximidades. Pouco mais de três semanas depois de ter sido atendido ali, voltou para a companheira receber atendimento médico.Entretanto, essa busca por atendimento por moradores da capital gerou um alerta para a gestão de Senador Canedo. Secretária de Saúde local, Verônica Savatin aponta que cerca de 42% dos pacientes atendidos nas unidades localizadas próximas à divisa entre as cidades — o PS da Vila São João e do Parque Alvorada — são da capital. “Já tinha um aumento neste período por conta da dengue, então tivemos que aumentar ainda mais por conta desse número de paciente de Goiânia que a gente não estava contando para atender”, explica, ao citar a necessidade da compra de mais insumos e contratação de mais médicos e profissionais da saúde.Procura aumentouA situação já é observada desde janeiro, mas intensificado em abril. “Foi o pior mês, fora do comum. Tivemos superlotação de não ter nem cadeira de hidratação disponível para os pacientes. O tempo de espera que era de até duas horas foi para quatro horas”, diz. “Os pacientes verbalizam que procuram as unidades de Goiânia e não estão encontrando profissional para o atendimento que precisam. E às vezes precisam se deslocar para outra unidade muito longe da residência, então acabam procurando aqui no município que é mais próximo da sua residência”, acrescenta.A medida de incluir mais médicos nas escalas de plantão na única UPA de Trindade, no Setor Soares, também foi tomada pelo secretário de Saúde do município, Gustavo Queiroz. Ele conta que, além disso, também está encaminhando os pacientes que residem na cidade e que constam como ficha azul e verde, ou seja, com quadros leves, para as Unidades Básicas de Saúde (UBS). O intuito é desafogar a unidade de urgência e emergência para os casos de maior gravidade, visto que houve aumento significativo na demanda. “A média era de 350 atendimentos por dia. Hoje, estamos atendendo até 500 pacientes, e desses atendimentos, cerca de 43% é de fora, e a maioria de Goiânia”. comenta.Conforme Queiroz, o cenário está relacionado à proximidade de muitos setores da capital aos limites de Trindade, a exemplo dos setores Jardins do Cerrado, do 1 ao 7, e Vera Cruz. “E muitos falam ‘ah, é porta aberta, então tem que atender todo mundo que procurar’. Sim, mas se cada município tivesse uma estrutura adequada não tinha esse problema, a pessoa já ia na própria cidade”, acrescenta, ao relatar ainda que, hoje, o tempo de espera tem sido de até quatro horas para os casos mais leves diante da lotação da unidade.Capital diz ter aumentado atendimentosA Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia aponta que em abril o total de atendimentos nas unidades de urgência e emergência da capital aumentou em 35%, em comparação com o mês de março. Conforme a superintendente de Gestão de Redes de Atenção à Saúde da pasta, Cynara Mathias, o número passou de cerca de 100 mil mensais para 135 mil. A gestora também aponta que a busca por atendimento nos municípios limítrofes não é uma realidade nova, diante da proximidade destes usuários às unidades nas cidades vizinhas, mas destaca que a situação inversa também ocorre, como a ida de residentes de outras cidades à capital. No entanto, destaca, a situação atual está relacionada à alta nos casos de dengue e doenças respiratórias. “Hoje a gente não tem déficit em plantão em nenhuma unidade em Goiânia. O que tem acontecido? Assim como no Brasil inteiro, isso não é realidade específica de Goiânia, estamos tendo um aumento da demanda porque estamos num momento de sazonalidade do vírus Influenza (gripe), e principalmente na pediatria. E nós mais que triplicamos o número de atendimentos em pediatria na capital. Eram 5 mil antes e, só neste mês de abril, foram atendidas mais de 15 mil. Então esse é um aumento generalizado, isso não significa que a rede de Goiânia esteja aquém de qualquer outra”, diz.Cynara destaca ainda que para a rede municipal atender toda a demanda foram alocados mais profissionais de saúde nas unidades, além da abertura de demanda espontânea para casos leves — ficha azul e verde — nas unidades básicas de saúde (UBSs). Dessa forma, pacientes com sintomas leves podem procurar a atenção básica para serem atendidos, ao invés de buscar as unidades de pronto-socorro. “Nunca tivemos tantos médicos nas nossas unidades de urgência e emergência como temos agora. Tinha tempo de espera de três horas, e hoje a gente está com tempo de espera de até duas horas porque colocamos mais médicos para diminuir esse tempo”, acrescenta, ao ponderar ainda que a pasta monitora a demanda nas unidades para verificar horários e dias com maior procura e fazer as readequações necessárias. A superintendente considera ainda que é preciso avançar na cobertura vacinal da Influenza e da dengue na capital.