O aumento no número de nomeações para cargos comissionados na Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg) a partir de abril deste ano coincide com a indicação no mesmo período de pessoas que mantém entre si relação de parentesco e ligação com políticos que disputam as eleições em outubro. Levantamento feito pelo DAQUI identificou pelo menos três casos envolvendo ao todo sete pessoas e o pagamento de R$ 49,8 mil em salários brutos no mês de agosto.Na segunda-feira (19), o DAQUI mostrou que aumentou de 140 para 330 o número de comissionados trabalhando na Comurg, sendo que 69,7% deles foram nomeados para os respectivos cargos neste ano. Além disso, a partir de abril, houve um crescimento no número de nomeados por mês, sendo que a partir de junho foram mais de cem. Seis das sete nomeações identificadas ocorreram entre os dias 12 e 15 de julho.Um dos casos é do superintendente de Urbanismo da Comurg, Elton Vinicius de Souza Carmo, nomeado para o cargo no dia 9 de junho. Pouco mais de um mês, no dia 12 de julho, foram contratados também como comissionados a esposa de Elton, Diescika Lorrane Pereira, e o cunhado, João Victor Delmondes Pereira. Na folha de pagamento de agosto da Comurg, Elton aparece com o salário bruto de R$ 15 mil, enquanto Diescika e João Victor, com R$ 8,1 mil.Em seus perfis no Instagram, os três fazem campanha para o vereador Clécio Alves (Republicanos), que tenta uma vaga na Assembleia Legislativa. Antes de ir para a Comurg, Elton estava lotado em um cargo comissionado na Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) de Goiânia, presidida por Luan Alves, que é filho de Clécio. Elton também tem outras passagens por cargos comissionados na Prefeitura na gestão passada.Nesta terça-feira (20), Elton fechou seu perfil no Instagram e apagou oito fotos. Diescika tirou da bio de seu perfil a informação que é personal trainer. Já João Victor mudou a do perfil, que antes tinha ele ao lado do vereador com o número de campanha dele. Agora é uma dele com uma bebida na frente. Após O POPULAR entrar em contato com João Victor, este bloqueou o perfil para acesso ao repórter.O vencimento inicial de Elton na Comurg é de R$ 2,6 mil, enquanto o da esposa e do cunhado é de R$ 1,6 mil. No entanto, os três recebem gratificações pelo cargo comissionado. No caso de ocuparem comissões da companhia, pode haver uma gratificação por isso também. Na Amma, onde ficou por um ano e dois meses, Elton recebia em torno de R$ 6,8 mil sem os descontos.Diescika foi nomeada para um cargo de assessoria na presidência da Comurg, enquanto João Victor foi escalado para uma vaga na Diretoria de Limpeza Pública. Ambos apresentam os mesmos vencimentos e os mesmos valores para gratificações na folha de agosto.Outro caso identificado pelo DAQUI envolve Victor Maurício Beraldo e Gustavo Filipe Beraldo, ambos nomeados no mesmo dia, 12 de julho, assim como Diescika e João Victor. Entretanto, o salário de Victor e Gustavo é um menor que o dos irmãos: em agosto, eles tiveram como vencimento inicial em torno de R$ 1,3 mil e como salário bruto – incluindo as gratificações – R$ 2,6 mil.Em uma postagem nas redes sociais, Victor se identifica como tio de Gustavo. E ambos têm uma relação familiar com pelo menos uma pessoa que trabalha como cabo eleitoral do vereador Clécio Alves. Victor foi nomeado para um cargo de assessor na Gerência de Compras da Comurg, enquanto Gustavo está lotado na corregedoria da companhia.Já Lucas Campos Sales e Matheus Campos Sales, além do mesmo sobrenome, também foram nomeados no mesmo dia, 15 de julho, com os mesmos salários – tanto vencimento como gratificação. Lucas atuou como assessor do deputado estadual Charles Bento (MDB), que tenta a reeleição. Já Matheus estava lotado na Câmara Municipal antes de conseguir o cargo na Comurg.Lucas foi colocado em um cargo na corregedoria interna, enquanto Matheus responde como servidor da Assessoria de Assuntos Comunitários. O vencimento inicial é de R$ 1,4 mil, mas com as gratificações vai para R$ 6,4 mil.No perfil deles no Instagram, há uma imagem com o número de campanha de Charles Bento nestas eleições. O deputado nega ter qualquer envolvimento na indicação deles, diz que não conhece Matheus e sugere que o uso do número no perfil deles pode ser por gratidão.A reportagem deixou mensagens nas redes sociais de todos os citados nesta reportagem, mas nenhum deles retornou. O vereador Clécio Alves foi procurado, chegou a visualizar a mensagem deixada em seu WhatsApp, mas não atendeu as ligações nem deu resposta.Presidência exonera sete citados na reportagemO presidente da Comurg, Alisson Borges Silva, exonerou no final da tarde desta terça-feira (20) cinco dos sete nomes levantados pelo DAQUI. Um outro servidor comissionado, cujo sobrenome é o mesmo do diretor administrativo e financeiro da Comurg, citado nas mesmas perguntas feitas pelo jornal, também foi exonerado. O motivo das exonerações teria sido o parentesco entre os envolvidos descoberto pela reportagem.Em nota, o presidente afirmou que identificou também “outros casos” além dos citados pelo jornal e fez mais exonerações, entretanto, sem citar nomes ou números. “Essa atitude, motivada pela participação importante da imprensa, na busca pelos esclarecimentos e por apontar as falhas e problemas que a Comurg, historicamente acumula, é fundamental para que a companhia consiga trilhar o caminho de recuperação e de consolidação das ações de compliance que está implantando”, afirmou Alisson ao jornal.Foram exonerados Victor Maurício Beraldo, Gustavo Filipe Beraldo, João Victor Delmondes Pereira, Diescika Lorrane Pereira, Matheus Campos Sales e Lucas Campos Sales. A presidência da Comurg encaminhou uma cópia do ofício de exoneração dos seis. Dos sete citados na reportagem, o único que aparentemente está mantido no cargo é Elton Vinicius de Souza Carmo, superintendente de Urbanismo da Comurg.O outro exonerado foi Gabriel Ribeiro Itacarambi, cujo sobrenome é o mesmo do diretor Ricardo de Souza Itacarambi. Gabriel foi nomeado no dia 3 de fevereiro e recebeu o salário bruto de R$ 3,9 mil na folha de agosto. Ele tinha um cargo de frentista na Diretoria de Logística da companhia. O presidente cita como motivo para as exonerações o grau de parentesco entre os citados e afirma que desconhecia tal fato. Entretanto, não respondeu outras perguntas feitas pela reportagem, como quais foram os critérios que levaram às nomeações, se houve indicação política, o que faziam os servidores na pasta. Também não foi dito qual a relação entre Gabriel e o diretor administrativo, que inclusive assina o ofício de exoneração.A nota foi encaminhada pela presidência da companhia, que acionou uma assessoria externa para elaborá-la. Foi a única resposta encaminhada ao jornal.Companhia fala em concurso públicoA presidência da Comurg chamou atenção na mesma nota em que fala das exonerações para um déficit de profissionais na companhia. Alisson Borges diz que enviou um ofício no dia 18 de julho ao Conselho de Administração da estatal solicitando a realização de concurso público para preenchimento de vagas. “O processo ainda está em análise e, neste período, como acontece em todas as empresas, recebeu indicação de vários profissionais, mas assume que desconhecia o grau de parentesco. Por conta disso, exonerou, tão logo foi questionado pelo Jornal O Popular e após apuração do fato”, afirmou na nota.O presidente afirma que a companhia tem atualmente 7.056 servidores e que os comissionados não representam nem 5% dos funcionários, “o que é permitido em lei”. “Por ser uma empresa de economia mista, entende seu papel e dever de prestar contas e apresentar seus números com o máximo de clareza.”Reportagem publicada na segunda-feira (19) mostrou que na verdade, segundo o Portal de Transparência da Prefeitura de Goiânia, o total de comissionados representa 6,2% dos servidores da Comurg e que em agosto de 2021 eram apenas 2,7%. Além disso, os comissionados respondem por 9% dos gastos com pessoal, segundo a folha do mês de agosto da companhia.Alisson diz que, desde que assumiu a presidência da estatal, em março deste ano, tem continuado o trabalho de reestruturação da gestão. “A companhia foi a primeira sociedade de economia mista, em todo o estado de Goiás, a firmar parceria no Programa Compliance nos Municípios, desenvolvido pela Controladoria Geral do Estado de Goiás (CGE). Programa que, após ser implantado na sua completude, vai mudar a cultura da Comurg para uma outra com melhores práticas de integridade.”