Uma pediatra pode deixar de atender a uma criança, que tratava havia cerca de um ano, por discordar da posição política da mãe? A pergunta foi feita ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul nesta semana.No último dia 17, um dia após divulgação da gravação da conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff, a médica Maria Dolores Bressan mandou uma mensagem para Ariane Leitão, dizendo que estava "declinando, em caráter irrevogável, da condição de pediatra" da criança.Ariane é suplente de vereadora em Porto Alegre pelo PT e foi secretária estadual de Políticas Públicas para Mulheres na gestão do ex-governador petista Tarso Genro (2011-2014). A médica acompanhava o bebê desde o primeiro mês de vida da criança, em consultas feitas por meio de um plano de saúde.Não é o primeiro caso de intolerância política registrada nos últimos dias. O jornalista Juca Kfouri, colunista da Folha de S.Paulo, foi alvo de ofensas na madrugada de terça-feira (29), em São Paulo, por ter se posicionado contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff."Ela não quer mais ser pediatra do meu filho porque sou filiada ao PT. Isso é uma discriminação proibitiva. O direito do meu filho foi violado", diz a mãe, que acionou o conselho regional.Se a sindicância concluir que houve falta de ética por parte da médica, um processo será aberto. A médica pode receber uma advertência, ser suspensa por 30 dias ou ter seu exercício profissional cassado. O processo pode, ainda, ser arquivado, informou o conselho regional à reportagem.O artigo 23, do capítulo IV, do Código de Ética do Conselho Federal de Medicina diz que o médico não pode "discriminar o paciente de qualquer forma ou sob qualquer pretexto". Mas o artigo 36, do capítulo V, prevê o abandono do paciente "ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional".