A pamonha é um dos alimentos mais queridos do goianiense. Mas, será que as pessoas pensam em quem está por trás dela? Quem produz e vende pamonha em Goiânia? Quais são as condições de trabalho desses pamonheiros? Perguntas como essas levaram a cientista social, egressa da Universidade Federal de Goiás (UFG), Tayme Pereira da Silva, a pesquisar o assunto. Ela concluiu que a maioria desses trabalhadores é masculina e que, apesar das longas jornadas de trabalho, se identifica com o que faz. Já as mulheres ocupam funções consideradas subalternas. Ela identificou também uma política cultural construída em torno do alimento.De 2015 a 2016, Tayme Pereira da Silva percorreu pamonharias, acompanhou ambulantes, realizou entrevistas e traçou uma rede do comércio deste alimento em Goiânia, que vai do negócio familiar à informalidade. Como resultado, ela reconheceu que a maioria dos comerciantes de pamonha é masculina, com baixa escolaridade e vinda do interior de Goiás. Segundo ela, muitos desses pamonheiros também colaboram com a produção da pamonha e trazem em sua trajetória de vida alguma identificação com o fazer: seja por meio das tradicionais pamonhadas, seja pelo aprendizado intergeracional.Para a pesquisadora, uma surpresa negativa dessa investigação foi reconhecer papéis bem definidos para a participação das mulheres. “Elas estão nos bastidores, atuando nas cozinhas, na limpeza e em outros tipos de serviços apontados como subalternos”, acrescentou. Tayme Silva entrevistou apenas uma senhora que atua como vendedora e, ao sondar com as demais, ouviu que mulheres são frágeis e mais cuidadosas, por isso assumem tais funções.Política social da pamonhaUm dos motivos que fez a cientista social escolher o tema foi o fato de a pamonha ser uma comida tradicional, porém muito consumida pelos goianos. “Com o passar do tempo, a pamonha deixou de ser uma iguaria simbólica das tradicionais reuniões familiares no campo e começou a ser produzida e comercializada em pamonharias, restaurantes e, sobretudo, entre os vendedores de rua”, afirmou.A procura pela pamonha ocorre, segundo ela, porque em Goiás há uma “política cultural” construída em torno do alimento. Ou seja, uma espécie de esforço simbólico de valorizar a comida como parte do patrimônio imaterial goiano.