A Polícia Civil aguarda o envio do relatório de uma reprodução simulada da abordagem policial que resultou na morte de João Pedro Martins de Souza, de 22 anos, em São Luís de Montes Belos, para enviar o inquérito à Justiça. A família diz que ele foi executado dentro de casa. Já o inquérito feito pela própria Polícia Militar – medida que é geradora de muitas críticas por parte do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) – aponta que os agentes envolvidos agiram em legítima defesa.João Pedro foi morto no dia 20 de abril, por uma equipe da PM que dizia estar atrás de dois suspeitos de terem gravado e divulgado um vídeo no qual aparecem com armas de fogo, de um jeito exibicionista. Antes de chegarem até o rapaz, encontraram o primeiro suspeito, Jheferson Dias Alves, de 23 anos, que teria indicado onde o amigo morava. Ao chegarem na casa, dizem que foram recebidos a tiros e que a morte do jovem se deu durante confronto nos fundos do imóvel.Em agosto, o jornal mostrou a revolta da família com o que apontam ser excessos por parte dos policiais, visto que os militares teriam entrado na residência sem autorização, nem mandado judicial ou motivo que justificasse a invasão. A mãe de João Pedro, Carla Martins de Sousa, também contou ao jornal na época que os policiais esperaram o filho chegar do trabalho, de tocaia, para entrar na casa e matá-lo.A reportagem teve acesso nesta semana ao inquérito da Polícia Militar remetido ao Judiciário. Os policiais contam em depoimento que ao chegarem na casa avistaram o portão entreaberto e João Pedro com uma arma na mão na sala. Ao ver a equipe, ele teria corrido para os fundos e atirado nos policiais quando estes se aproximaram.Os policiais também contam que foi pedido que o rapaz se entregasse e que soltasse a arma, mas ele teria se recusado e começado a atirar contra a equipe.O rapaz foi morto com três tiros, sendo um no peito, outro no coração e um terceiro que acerto primeiro a boca, de cima para baixo, e depois o abdome. Na conclusão do inquérito, a PM não detalhou os disparos, dizendo apenas que foram três tiros que o acertaram.Dos quatro policiais que participaram da abordagem, estão respondendo ao IPM apenas o sargento Wendel Alves de Oliveira, de 46 anos, e o soldado Whátila Henrique Dias Gonçalves, de 24, autores dos disparos que atingiram João Pedro. Um terceiro policial chegou a entrar na casa, mas não efetuou nenhum tiro. E o quarto agente ficou do lado de fora fazendo a segurança e vigiando o colega da vítima.No inquérito feito pela PM não consta nenhuma perícia no local do suposto confronto, nem informa quantos tiros João Pedro pode ter disparado. Afirma apenas que o soldado atirou três vezes, o sargento, uma, e que a arma que seria do rapaz estava com sete munições, sendo uma na câmara.Os policiais também afirmam terem encontrado na residência invadida cerca de 2 quilos de cocaína ainda não refinada e 28 gramas de maconha.O documento elaborado pela PM foi encaminhado no dia 5 de setembro ao Judiciário, que o distribuiu para a Justiça comum, uma vez que crime de homicídio quando o suspeito é um policial militar deixa de ser da esfera militar. A movimentação mais recente é de 13 de outubro, quando o MP-GO pediu que a Justiça aguardasse a conclusão do inquérito em elaboração pela Polícia Civil para que todo o material fosse juntado num único procedimento.DELEGADOO delegado Luiz Fernando Pereira Ribeiro, titular da Delegacia de São Luis de Montes Belos, diz que a reprodução simulada foi feita no mês passado e que aguarda o resultado para avaliar a necessidade ou não de alguma nova perícia e, então, concluir o inquérito. Ele explica que este tipo de perícia é uma exigência da Polícia Civil recente, mas que antes um advogado que representa a família havia pedido o procedimento. A mãe de João Pedro acompanhou toda a reconstituição.Ainda segundo Luiz Fernando, essa foi a única morte em 2022 durante abordagem policial na cidade e que este tipo de ocorrência é raro na cidade.Na entrevista dada em agosto, a mãe confirmou que o filho era um dos dois jovens que apareciam no vídeo citado pelos policiais, mas disse que ele não tinha arma de fogo. Ela contou que ao chegar na casa já com o filho morto, abordou os policiais e os questionou sobre o motivo da morte. Um deles teria dito que foi por causa do vídeo. Ela não foi ouvida no inquérito feito pela PM.João Pedro havia se casado cinco meses antes, mas no momento da abordagem a esposa, de 20 anos, não estava junto.