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Por falta de recursos, abrigos de Goiânia lutam para sobreviver

Diomício Gomes / O Popular
Abrigo Solar Colombino Augusto de Bastos, no Parque Amazônia

Os abrigos filantrópicos para idosos de Goiânia estão enfrentando dificuldades para conseguirem se manter funcionando. As instituições estão tendo que restringir a contratação de profissionais, especialmente da área da saúde, e deixando de receber novos acolhidos por conta de dificuldades financeiras. À reportagem, responsáveis pelos locais relataram que as doações que sustentam os abrigos ficaram mais escassas depois da pandemia da Covid-19.

A assistente social responsável pelo Solar Colombino Augusto de Bastos, no Parque Amazônia, conta que os gastos prioritários da instituição são com itens básicos para a sobrevivência dos moradores do local. “Não podemos deixar faltar uma alimentação balanceada, remédios, fraldas, outros itens de higiene pessoal e também de limpeza”, diz Karlene de Brito. Atualmente, o local, que tem capacidade para 54 idosos, cuida de 53.

Os gastos com a manutenção mensal da instituição fazem com que o Solar Colombino não consiga investir na contratação de mais profissionais da saúde para atuar no local. “No momento, temos 32 funcionários. Todo mundo aqui tem mais de uma função. Se tivéssemos mais trabalhadores, isso se transformaria em mais qualidade de vida para as pessoas que moram aqui, já que 30% delas precisam de cuidados intensivos e apenas 10% tem um bom grau de autonomia.”

Os gastos com funcionários unidos aos gastos para manter a instituição aberta impedem o abrigo Casa dos Nossos Pais, no Sítios Recreio dos Bandeirantes, de receber novos acolhidos. Atualmente, o lugar cuida de 30 idosos. Entretanto, tem capacidade para 50. “É uma situação muito triste pois nossa estrutura física é ótima. Hoje (ontem) mesmo, uma moça que trabalha como atendente de padaria e não tem condições de cuidar do pai veio nos pedir ajudar. Porém, não temos condições”, diz o padre Luiz Augusto da Silva, responsável pela Associação Santa Teresinha do Menino Jesus, mantenedora do local.

Mensalmente, a associação gasta cerca de R$ 350 mil com as despesas do local. Para conseguir manter a casa aberta, eles precisam elencar prioridades. “Parcelamos uma série de impostos que não foram recolhidos. Tivemos que fazer isso para não atrasar o pagamento dos funcionários. No final do ano a situação se complica ainda mais porque temos que gastar dobrado com a folha de pagamento”, esclarece o padre. Além da Casa dos Nossos Pais, a associação também cuida da Casa dos Nossos Filhos, destinada para crianças, e a Casa Mateus 25, destinadas para jovens.

Covid-19

O sacerdote afirma que desde a pandemia da Covid-19, as doações diminuíram drasticamente. “As pessoas deixaram de ajudar. É difícil pois não temos convênios com o estado e o município. Vamos vivendo um dia de cada vez”, relata. A assistente social do Solar Colombino diz que a instituição também percebeu uma queda nas doações. “Principalmente de alimentos. É difícil pois itens como café e bolacha são muito caros. O dinheiro que antes podíamos investir em funcionários, agora temos que gastar comprando o básico”, aponta Karlene.

As duas instituições apelam para que as pessoas se sensibilizem com a causa filantrópica. “São pessoas que merecem mais do que apenas sobreviver e esperar o momento da morte. Eles merecem ter qualidade de vida enquanto estiverem aqui e serem cuidados com respeito e, acima de tudo, dignidade. Isso abrange desde uma alimentação adequada até o acesso à cultura e ao lazer. É o que estamos tentando fazer aqui”, enfatiza Karlene. O contato do Solar Colombino é (62) 3280-1031 e o da Associação Santa Teresinha do Menino Jesus é (62) 98326-1486.

Sem espaços, poder público tem programa

A Prefeitura de Goiânia não possui nenhum abrigo de idosos público. Entretanto, em nota, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs) informou que na capital existem, em média, 30 instituições asilares, que atualmente são chamadas de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Dessas, três têm convênio com a Prefeitura de Goiânia. A Sedhs não repassou quais os nomes dessas instituições.

A pasta destacou que a Assessoria de Proteção à Pessoa Idosa (Asepi) desenvolve um trabalho voltado para o desenvolvimento de políticas públicas para o grupo, fazendo contato com as ILPIs e encaminhando idosos para as instituições quando esses locais possuem vagas disponíveis, respeitando todos os critérios estabelecidos pelas ILPIs.

Além disso, a Sedhs enfatizou que a Asepi também desenvolve “ações socioculturais através do Grupo de Idosos Vozes e Violão” e “realiza o trabalho em Rede de Proteção da Pessoa Idosa de Goiânia.”

No âmbito estadual, a Secretaria de Desenvolvimento Social de Goiás (Seds) comunicou que possui 510 entidades credenciadas nos programas Água e Energia e Auxílio Nutricional. Essas entidades são abrigos de idosos, lares de crianças, hospitais filantrópicos, entre outros. O programa Água e Energia não é nada mais do que o pagamento das contas de energia elétrica, água tratada e esgoto pelo governo estadual. 

Repasse financeiro

Já o programa Auxílio Nutricional repassa recursos financeiros para complementação nutricional às entidades que atendem diariamente crianças, adolescentes, idosos, dependentes químicos, doentes crônicos, vítimas de queimaduras, entre outros. O valor do programa sofreu um reajuste recentemente. Até então, eram destinados R$ 12 milhões por ano para o Auxílio Nutricional. Agora, serão R$ 19 milhões. 

Os programas se destinam a Organizações não governamentais (ONGs) e unidades de atendimento socioeducativo, sendo que o Água e Energia também abrange Santas Casas e hospitais filantrópicos sem fins lucrativos. Para receber os auxílios, é preciso ingressar em um chamamento público que acontece uma vez por ano.

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