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Prefeitos de Goiás relatam situação de desespero por Covid-19 em março

Fábio Lima/O Popular

Dificuldades para regular pacientes, prestação de atendimento improvisado, pacientes internados em corredores de hospitais, aumento exorbitante de gastos como medicações e oxigênio e crescimento do número de mortos. Essa foi a realidade de grande parte dos municípios goianos durante o mês de março deste ano, o pior desde a chegada da pandemia do coronavírus no Estado.

Ao todo, 80 municípios goianos ficaram com a média de mortes acima da média estadual, que foi de 0,48 mortes por mil habitantes, sendo que 27 cidades goianas tiveram mais de 10 mortos em um único mês. Ao longo do mês passado foi registrado um aumento sensível nas mortes pela doença no Estado.

Em 1º de março, Goiás contava com 8,5 mil mortos. Já no dia 1º de abril, o número tinha subido para 11,7 mil. A situação se refletiu, principalmente nos municípios do interior (veja quadro): 32 cidades tiveram mais mortes em março do que a soma de todos os registros feitos durante a pandemia desde então.

Um desses municípios foi Crixás que só em março contabilizou 21 óbitos pela doença contra outros 15 que vinha somando desde março do ano passado. O prefeito da cidade, Carlos Júnior (Cidadania), aponta que ao longo do mês a cidade enfrentou dias desesperadores.

O cenário acabou levando ao grande volume de mortes registrado no município de apenas 17 mil habitantes. Mesmo com o redirecionamento da verba pública, a cidade precisou contar com o apoio de uma grande indústria da cidade para não faltar oxigênio nas unidades de saúde que atendiam pacientes com Covid-19. “Mesmo assim sofremos muito com a falta de leitos. Tínhamos pacientes graves e não tinha para onde mandar.”

O prefeito de Buriti Alegre, André Chaves (MDB), acredita que o aumento de casos no município ocorreu por conta do carnaval. “Aumentou depois do feriado”, pontua. Na cidade, que registrou 10 óbitos em março, contra dois em fevereiro, a prefeitura montou barreiras sanitárias na tentativa de conter a disseminação do vírus. “Também passamos com carro de som e soltamos várias peças publicitárias tentando conscientizar a população”, diz Chaves.

Colapso

Em Piranhas, ao longo do mês passado, as unidades de saúde ficaram tão lotadas que as equipes tiveram que improvisar atendimentos e pacientes chegaram a ficar internados nos corredores. “Saímos nas ruas com as ambulâncias com as sirenes ligadas na tentativa de fazer a população entender a gravidade da situação”, diz o prefeito Marco Leite (Solidariedade).

Leite conta que os gastos ao longo do mês com a Saúde aumentaram de forma exorbitante. “Se antes a gente gastava em torno de R$ 2 mil com oxigênio por dia, mês passado chegamos a gastar R$ 38 mil. Foi um período em que a rede realmente entrou em colapso”, relata o prefeito. Na cidade, o número de mortes saltou de duas em fevereiro para 16 em março.

Em Rialma, onde março registrou um número de mortes quatro vezes maior do que em fevereiro, a prefeitura chegou a pagar pela internação de pacientes em hospitais particulares por conta da falta de leitos na rede pública. “Tivemos que ampliar uma ala com 16 leitos do nosso hospital municipal para atendimento de Covid-19”, diz Frederico Vidigal (PTB), prefeito do município.

Tanto Buriti Alegre, quanto Piranhas, Crixás e Rialma acompanharam o decreto do governo estadual em março de fechamento por 14 dias e reabertura por 14 dias. Todos os prefeitos entrevistados afirmam que a partir do início do mês de abril, a situação começou a melhorar.

Outros municípios também tiveram um salto no número de mortes. Destes destacam-se cidades como Inhumas e Anicuns (veja quadro). Um dos municípios mais afetados foi Bom Jesus de Goiás que registrou 40 mortes em março, número treze vezes maior do que o de fevereiro, quando a cidade teve três mortes pela doença. A reportagem tentou contato com os prefeitos desses municípios, mas até o fechamento desta edição não obteve nenhuma resposta.

 

Em abril, 12 cidades já têm mais mortes que março

Levantamento feito pelo POPULAR mostra que abril segue com muitas cidades enfrentando a gravidade da segunda onda da epidemia de Covid-19 após o Estado ter vivido seu pior mês desde que o coronavírus (Sars-CoV-2) chegou em março do ano passado. Pelo menos 12 cidades já registram mais mortes do que em março. Muitas delas tiveram no mês passado menos de 10 óbitos, mas duas delas tiveram mais: Itumbiara e Piracanjuba (veja quadro).

Além disso, há mais 22 cidades que não perderam moradores para o coronavírus em março, mas já registram pelo menos uma morte neste mês. É o caso de Jandaia, que, segundo o boletim epidemiológico do Estado, já teve três óbitos em abril. 

Davinópolis, com 2 mil habitantes, registrou 3 mortes em abril, que é o total que teve durante toda pandemia então. Das 34 cidades que estão passando por abril pior que março, 27 têm menos de 10 mil habitantes.

A secretária municipal de Saúde de Piracanjuba, Trizia Magalhães Teles de Moura, diz que a situação só começou a melhorar há cerca de uma semana, quando a rede estadual conseguiu voltar a atender com mais celeridade pacientes do interior que precisam de vagas em UTI. Ela informa que até o começo do mês o hospital local, que não tem condições de atender casos graves, estava com 15 pacientes internados. Agora são 3. 

Ela também conta que neste mês morreram quatro moradores que iam juntos em uma van para Goiânia fazer hemodiálise e teriam contraído o coronavírus na capital, passando de 20 a 30 dias internados.

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