Em mais um movimento na sua disputa com a Ucrânia sobre o destino das áreas habitadas por russos étnicos no leste do país, Moscou decidiu fechar parte do mar Negro para navios de guerra estrangeiros.O anúncio foi feito nesta sexta (15), após a Marinha ucraniana alertar que barcos russos estavam tomando posições próximo à ponte da Crimeia, a gigantesca estrutura que Vladimir Putin construiu para ligar a península anexada em 2014 a seu país.Na sua margem leste, a Crimeia é banhada pelo mar de Azov, um trecho do mar Negro que no chamado estreito de Kerch tem a ponte de 19 km como estrela."Das 21h do dia 24 de abril às 21h de 31 de outubro, a passagem de navios estrangeiros militares ou estatais estará suspensa", disse o Ministério da Defesa russo.É receita para confusão. Além da Crimeia e da Rússia mais a leste, o mar banha um trecho considerável de costa ucraniana, com portos centrais para a exportação de aço e cereais do país. Kiev teme que esses navios acabem afetados pelas medidas.As restrições ocorrerão também em outros pontos em torno da Crimeia, como na cidade de Sebastopol, que já sediava a Frota do Mar Negro russa antes mesmo da anexação, por meio de um acordo.Com isso, quer delimitar também a movimentação de navios da Otan (aliança miltiar ocidental), que fazem exercícios frequentes na região em apoio aos ucranianos e em coordenação com os turcos, que controlam a ligação do mar Negro com o Mediterrâneo.Para o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, a decisão "usurpa a soberania" do país e viola leis internacionais sobre trânsito marítimo.Confusões são velhas conhecidas naquela região. Em 2018, a Rússia apreendeu três navios militares ucranianos no mar de Azov, e um barco russo foi abordado no ano seguinte.Mas a medida agora vem no contexto da disputa pelo Donbass, área que vive um instável cessar-fogo na sua guerra civil iniciada em 2014, após Putin anexar a Crimeia para impedir que o governo pró-Ocidente que derrubou o pró-Moscou em Kiev conseguisse ser absorvido pela Otan.Após a Ucrânia reforçar suas posições em torno dos bolsões rebeldes, os russos concentraram mais de 80 mil soldados nas fronteiras com o vizinho e na Crimeia.A tensão gerou uma escalada retórica com o Ocidente e uma série de exercícios militares provocadores de lado a lado.Na quinta, dois dias depois de sugerir por telefone a Putin uma reunião de cúpula, presidente americano, Joe Biden, determinou as mais duras sanções contra a Rússia desde 2018.Elas incluem, além da expulsão de diplomatas acusados de espionagem, medidas econômicas para restringir negociações com títulos do governo russo. Na prática, são em sua maioria contornáveis.Nesta sexta, o Kremlin disse que se reserva o direito a retaliar na mesma medida, como é a praxe, mas quem tomará a decisão final será Putin."Claramente eles [Putin e Biden] diferem no entendimento de como construir uma relação mutualmente benéfica levando em conta os interesses do outro", disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. Ele disse que "a obsessão com sanções de nossos contrapartes americanos seguem inaceitáveis".A China, aliada da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas e crítica contumaz das sanções econômicas que recebe dos EUA devido à restrição da autonomia de Hong Kong, defendeu Putin. "[As medidas] constituem política de força bruta e 'bullying' hegemônico", disse o porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian.Enquanto isso, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, foi a Paris pedir apoio ao seu colega Emmanuel Macron.Tanto o francês quanto a chanceler alemã, Angela Merkel, foram exortados por Peskov a convencer o ucraniano a buscar uma saída diplomática para a disputa. Alemanha e França têm diversos negócios energéticos com os russos, e têm buscado apoiar a introdução da vacina russa Sputnik V no continente.Na guerra de versões, Putin quer impingir a Zelenski a pecha de ter começado a crise. E busca a implantação dos Acordos de Minsk, que em sua segunda versão de 2015 devolvem as áreas rebeldes para Kiev, mas as mantêm autônomas, garantindo a separação do Ocidente desejada por Putin.