Criados nas décadas de 1950 e 1960, os mercados municipais de Goiânia sofrem com uma estrutura precária e antiga, passando por poucas reformas ao longo das décadas. Infiltrações, fiação aparente, corredores escuros, fachadas escondidas entre banners publicitários, banheiros pequenos, falta de identificação e organização da localização das lojas são pontos recorrentes na maioria dos mercados. Na semana passada, a Prefeitura assinou ordem de serviço para a reforma dos bens públicos, mas, apesar do evento, a data para o início das obras foi marcada para até 30 dias depois e a expectativa é que seja iniciada no começo de maio.O primeiro mercado a receber o serviço será o do Setor Vila Nova, localizado na 5ª Avenida e fundado oficialmente em 1957. O local recebeu o evento de anúncio das reformas, que será encabeçado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Economia Criativa (Sedec), e gerou esperança entre os lojistas, além de desconfiança também se de fato o serviço será feito. Presidente da associação dos permissionários que atuam no local, Marcus Vinícius Abdulhak, acredita que a desconfiança se dá pelo histórico, já que, segundo ele, o Mercado Municipal Vila Nova nunca recebeu uma reforma, mesmo com 67 anos de fundação.“Eu fui um dos que assinou o documento na semana passada, a gente acredita que vá fazer a obra sim. Vieram todos, a imprensa veio também, todo mundo cobrando, acho que agora vai dar certo”, diz o presidente. O Mercado Vila Nova é considerado também o de estrutura mais precária da cidade e, por isso, vai ser o primeiro a receber os serviços. A reportagem esteve no local na última quarta-feira (10) e constatou diversos problemas de infiltrações no telhado, com tintas e massa se soltando. Trabalhadores informaram ainda que, quando chove, a água escorre pelas paredes e chega a atingir as tomadas.Além disso, os corredores do Mercado Vila Nova tem iluminação baixa e, ainda assim, muitas lâmpadas estão queimadas, o que prejudica ainda mais a visualização. Entre os corredores, é possível ver a fiação que alimenta as lojas. Abdulhak comenta que, durante o anúncio das obras, foram mostrados três projetos com os pontos que serão atacados pelos serviços. “Não será nenhuma mudança estrutural, vai ser a reforma mesmo. Vão mexer especialmente no telhado, corrigir as infiltrações, que é o que mais nos prejudica aqui”, conta. Ele diz ainda que o anúncio da reforma fez com que os permissionários se animassem com o trabalho e há um projeto para impulsionar a visitação ao local.Impulsão“Hoje em dia as pessoas saem de casa mais para alimentação mesmo. A gente já tem o restaurante aqui, então temos que valorizar isso, trazer mais coisas culturais e eventos para cá, valorizar os mercados municipais, como é o da Rua 74”, fala o presidente dos permissionários do Mercado Vila Nova, ao citar o Mercado Popular no Setor Central. Formados inicialmente para o abastecimento de alimentação básica dos moradores da cidade, os mercados municipais já modificaram sua característica. Se antes havia lojas de “secos e molhados”, hortifrutigranjeiros e produtos manufaturados, hoje os mercados cederam espaço para bares, lanchonetes e restaurantes, além de lojas de vestuário, serviços, como a loteria na unidade do Setor Pedro Ludovico, e até eletrônicos, como acessórios para aparelhos celulares e presentes.Novo titular da Sedec, Thales Queiroz acredita que a revitalização dos mercados municipais em Goiânia vai poder dar uma identidade a todos eles, com fachadas semelhantes para que possam ser identificados como tal. “Sou da área de turismo, já viajei muito pelo País e os nossos mercados são uma vergonha quando comparados a outras cidades e temos de mudar isso”, afirma. Para ele, os mercados municipais trazem a particularidade do povo goianiense e, por isso, devem ser valorizados. “Muitas pessoas formaram suas famílias naqueles lugares. São pessoas que estão lá há 40, 50 anos, agora com os filhos e os netos trabalhando ali, a gente precisa ressaltar isso, reformar os mercados para que eles se tornem opções para os turistas que vêm a Goiânia”, conta sobre o objetivo da Sedec a respeito do investimento na reforma dos mercados municipais.InvestimentosPara a realização das obras, a Sedec fará “o processo de adesão a ata n° 03/2023 do pregão nº 16/2023, publicado no Diário Oficial da União em 21/07/2023, da empresa Construtora Ferreira Santos Ltda”. O pregão em questão é de autoria da Fundação Universidade Federal do Tocantins, cujo objeto foi a “contratação de empresa, sob demanda, executar serviços comuns de engenharia relativos à demolição, conserto, operação, conservação, reparação, adaptação e manutenção predial (serviços eventuais), com fornecimento de peças, equipamentos, materiais e mão de obra”.A adesão ainda não foi publicada no Diário Oficial do Município e nem mesmo o contrato consta no site da Transparência da Prefeitura. Ao todo, a Sedec informa que o custo estimado é de R$ 2,5 milhões, contando as obras de reforma de todos os mercados previstos, e o contrato terá a duração de 12 meses. A verba é parte da dotação orçamentária da própria secretaria. O secretário Thales Queiroz afirma que o trabalho será feito em apenas um mercado por vez, ou seja, só haverá serviço no Mercado Popular da 74 quando finalizar a obra do Mercado Vila Nova, o que deve ocorrer em até seis meses após o início.“A intenção é não parar o funcionamento dos mercados durante as obras, a contratação é com intervenção de mínimo impacto. Vamos começar a movimentar os mercados com ações culturais e fazer com que eles voltem a ser aquilo que são voltados a ser”, diz o secretário. No Mercado da Rua 74, que recebeu serviços de pintura recentemente, a previsão é que o foco seja nos banheiros do local, de acordo com o que foi repassado aos comerciantes. O local, de fato, não apresenta problemas maiores de estrutura aparentemente. Sobre os banheiros, há o desejo de ampliação para o atendimento ao público, especialmente durante os eventos que ocorrem no local.O próximo na lista de revitalização é o do Setor Pedro Ludovico, que possui vidros quebrados nos banheiros e portas, problemas de iluminação e de informação aos visitantes. Segundo a Sedec, ele também terá o telhado reformado, assim como será feito no Mercado Vila Nova. No geral, entre as intervenções previstas nos mercados estão a reforma das fachadas, pintura e reparos nas redes elétrica e hidráulica. Além dos três já citados, a previsão é que os serviços sejam realizados também nos mercados de Campinas, Centro-Oeste e Central, onde a reportagem verificou boa estrutura, mas com problemas na iluminação em geral e fiação aparente.-Imagem (1.2783155)