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Restaurantes cinquentões mantêm a tradição e o afeto do público em Goiânia

Diomício Gomes
Efrem Tosi, de 89 anos, é um dos fundadores do Restaurante Bologna, que há 50 anos funciona no mesmo local

A porta discreta ao lado do Mercado Central, na Rua 3, passa despercebida em meio à correria do Centro. É só adentrar ao local, descer a escadinha de madeira e sentir o cheiro da lasanha à bolonhesa saindo do forno para entender que o Restaurante Bologna é um pedaço da Itália em Goiânia.

O espaço, ao lado de outros pontos gastronômicos tradicionais na cidade, como o Restaurante da Dona Fiinha, Pastelaria do Meu e o Restaurante Popular, sobrevive há mais de 50 anos na história da capital. O Bologna, especificamente, comemora em julho cinco décadas no mesmo ponto, vizinho ao mercado, e com clientes fiéis que passam a tradição de pai para filho.

“Tem gente que vem aqui que eu conheço desde pequeno e que, hoje, já traz seus próprios filhos”, garante o dono, o italiano Efrem Tosi, de 89 anos. Nascido na cidade que dá nome ao restaurante, o empresário saiu de sua terra natal aos 19 anos na companhia da família para tentar a vida em São Paulo. “Era um momento difícil na Itália e o Brasil vivia uma era de progresso”, conta.

Na capital paulista, a família Tosi trabalhava fazendo massas. Foi então que ouviram a notícia de uma cidade recém-nascida no Centro do País. Parecia ser a oportunidade perfeita para montar um negócio próprio. “Goiânia era muito diferente nos anos 1950. Tudo se resumia ao Centro. Hoje a paisagem mudou bastante, com uma infinidade de lugares para comer”, rememora Tosi.

O primeiro ponto aberto foi em 1957 na Rua 8, esquina com a Av. Anhanguera, próximo ao Zé Latinhas. Depois, foi parar na Avenida Goiás. Por fim, há 50 anos, compraram o ponto ao lado do Mercado Central. “Era para ser construído um prédio, mas acabou não dando certo. No lugar onde seria o estacionamento, acabamos colocando o restaurante. É por isso que fica no subsolo”, completa.

Segredo

Com um extenso cardápio recheado de massas, carnes e iguarias italianas, antes de adentrar ao Bologna é preciso saber: o local mantém hábitos do passado, como não aceitar pagamentos com cartões de crédito e débito, apenas cheque e, mais recentemente, pix. Depois da pandemia, passou a abrir de quarta a sexta-feira, das 11 horas às 15h30 e, aos finais de semana, exclusivo como serviço delivery.

O carro-chefe da casa é a lasanha, mas outros pratos também fazem fama, como o ravioli ao sugo, o espaguete ao pesto e a parmegiana acompanhada de fritas. Na parte de sobremesas, o forte é o pudim Flor de Leite, também receita de família. Quem comanda a cozinha é Cristina Tosi, sobrinha de Efrem e filha de Guido, o outro fundador da casa e que morreu há dez anos.

Todos os dias, é a chef quem abre a cozinha sempre às 6 horas e já começa a preparar a massa. Para ela, o segredo da longevidade do Bologna está ali, no preparo das próprias massas, na feitura do recheio e na montagem dos pratos.

“Eu sou advogada, mas, com a morte do meu pai, tive de assumir o negócio. Aprendi a fazer as massas desde criança vendo minha mãe fazer. É algo que está no sangue”, conta Cristina, que ainda precisa lidar com outras questões além da cozinha. Nos últimos anos, a cozinheira conta que o número de pessoas em situação de rua dobrou na porta do Mercado e, consequentemente, na do Bologna.

Os quadros com mapas e imagens de Bologna ilustram a saudade da família Tosi por sua terra-natal, mas Cristina diz de antemão: “Não existe melhor lugar para viver que o Brasil”. Uma vez ao ano, a família se reúne em julho, no verão, para passar semanas na Itália. “Estamos indo daqui a alguns dias para revermos nossos parentes, saborear a comida, estar com os nossos, mas com a certeza de que o restaurante é o nosso verdadeiro lar”, diz.

Cinquenta +
Confira outros restaurantes que tem mais de 50 anos e que ainda hoje sobrevivem em Goiânia 

Restaurante Dona Fiinha
Nascido em 1965, o restaurante da Dona Fiinha é um clássico inveterado do Centro. Com uma comidinha caseira em formato self-service, há de tudo um pouco da comida goiana. O local está localizado na Rua 9, n° 528 e abre de domingo à sexta-feira, das 11h às 14h30. 

Restaurante Popular
Cozinha de vó é uma boa descrição para o local criado pela dona Maria de Lourdes em 1977. Localizado na Rua 72, nº 524, o restaurante serve diversos tipos de comidas. A cereja do bolo são as sobremesas, como a famosa ambrosia feita pela própria dona. Aberto de segunda a sábado, das 11h às 14h30. 

Restaurante Árabe
Entre os estabelecimentos gastronômicos pioneiros de Goiânia, o local está aberto desde 1965. Foi criado por Elias Abrão primeiramente na Av. Araguaia e, depois, na Av. 83, nº 205, no Setor Sul, desde 1965. Fica aberto de segunda-feira a domingo, das 8h às 23h. 

Pizzaria Cento e Dez 
Goiânia ganhou sua primeira casa de pizzas em 1966 com a Pizzaria Cento e Dez. Até hoje ela funciona no mesmo lugar de sua fundação, na Rua 3, nº 1000, no Centro. Aberto de segunda-feira a domingo, das 11h às 14h e 18h às 23h30. 

Pastelaria do Meu
Localizada no Mercado Popular, na Rua 74, a pastelaria vende pastéis de diversos sabores, pão de queijo, salgados, cafés e sucos, mas a estrela do cardápio é o biscoito frito. Está aberto de segunda a sexta-feira das 7h30 às 19h e aos sábados até às 12h. 

Zé Latinhas
O apelido do primeiro proprietário do restaurante segue intacto desde 1967, quando foi criado. O local, que atualmente funciona no horário de almoço como restaurante self-service e, à noite, como bar, é um clássico do Centro. Está localizado na Rua 8, nº 485. 

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