Geral

Rio Meia Ponte está a um passo do racionamento

Fábio Lima
Captação do Meia Ponte em Goiânia: manancial tem vazão média de sete dias de 5.455 litros por segundo

Após 97 dias sem chuvas, no sábado (20), o monitoramento diário do Rio Meia Ponte, feito pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), mostrou que a vazão média do manancial que abastece aproximadamente um terço de Goiânia chegou a 5.455 litros por segundo (l/s) atingindo o nível crítico 1. Este é o último estágio antes de dar início às ações de racionamento. Em 2020 e 2021, este nível chegou no dia 3 de agosto, mas como não há previsão de chuvas até o final de setembro, a situação é preocupante, segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte (CBH Meia Ponte), Fábio Camargo Ferreira.

O nível crítico 1, conforme o indicador da Semad, é registrado quando a média móvel de sete dias da vazão é igual ou menor do que 5.500 l/s. A Deliberação N.17, de abril de 2021, do CBH Meia Ponte, determina que, quando se chega a este patamar, é necessário manter 2.000 l/s para o abastecimento público da região metropolitana de Goiânia, reforço nas ações de comunicação e mobilização para o uso racional da água. Fábio Camargo lembra que estamos no pior período da estiagem e que, de agora em diante, é provável que os níveis de vazão fiquem ainda mais críticos.

Superintendente de Recursos Hídricos e Saneamento, da Semad, Marco José Melo Neves lembra que, embora o nível crítico 1 não imponha restrição de uso de água, as campanhas são reforçadas em todos os setores para o uso eficiente e racional. Ele explica que a Semad “monitora em tempo real a vazão do Rio Meia Ponte em Goiânia e o consumo de água de indústrias e produtores rurais na bacia”. Muitas barragens em propriedades rurais contribuem para amenizar os problemas decorrentes do período de estiagem.

Os 97 dias de estiagem contabilizados pela Semad diferem dos 135 dias apontados pela estação do Instituto Nacional de Meteorologia. O motivo é a localização. Esta última fica na Avenida Paranaíba, no setor Central.

Previsão

No ano passado, o nível crítico 2, com uma vazão de 3.547 l/s, foi registrado no dia 19 de agosto. Fábio Camargo disse que, embora 2022 esteja um pouco melhor do que o ano anterior, o período de estiagem é preocupante em razão da baixa umidade e da ausência de chuvas pelo menos até o final do mês. Este é o prognóstico do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cimehgo), da Semad. “Em 2021 faltou muito pouco para o racionamento de água, mas este ano, se entrarmos no nível 2, já é preciso fazer corte de 25% para o setor produtivo, por isso é fundamental que todos se esforcem para economizar água.”

“O Rio Meia Ponte é um manancial muito sacrificado pelo abastecimento de tanta gente, cerca de 1.5 milhão de pessoas. Nós estamos lutando para que ele continue conseguindo abastecer a região metropolitana, mas é um manancial bem crítico. Como a captação é direta, depende muito das condições climáticas, por isso ele sempre abaixa a vazão nesta época do ano. Precisamos pensar em medidas capazes de captar água suficiente para abastecer a população, a agricultura, a indústria e manter o rio vivo. É diferente do sistema João Leite que é uma barragem.”, detalha Fábio Camargo.

Em Goiânia há três sistemas produtores de água interligados que utilizam os dois mananciais, o Rio Meia Ponte, onde é feita a captação superficial, o Mauro Borges e o João Leite, que possuem o reservatório. No ano passado, diante da situação de emergência provocada pela estiagem, as comportas da barragem dos dois últimos foram abertas para não faltar água na RMG. De acordo com o presidente do CBH Meia Ponte, a Saneago está fazendo estudos de viabilidade para construir uma barragem específica para o sistema Meia Ponte, mas é um projeto, em caso de aprovação, de longo prazo.

A Saneago tem reforçado suas ações presenciais e pelas redes sociais para o uso consciente dos recursos hídricos para que não haja desabastecimento. No site da empresa (www.saneago.com.br/dicas) é possível encontrar orientações sobre o uso correto de água e dicas de como identificar vazamentos na tubulação.

Sem decreto

Nos últimos dois anos, o decreto de emergência hídrica do Governo de Goiás foi publicado entre o fim de maio e início de junho. Em 2020, a vazão do manancial estava em 10.480 l/s quando a administração estadual tomou a medida, bem acima do fluxo atual, de aproximadamente 5,5 mil l/s.

No ano passado, era 26 de maio quando o decreto sobre a preocupação com a escassez hídrica foi publicado. A captação do Meia Ponte contabilizava 7.668 l/s.

Os decretos de emergência hídrica consistem em chamar a atenção para o problema e orientar a gestão pública para o enfrentamento da questão. A Semad foi procurada na tarde desta segunda-feira para informar o motivo pelo qual ainda não houve a publicação do documento. A Semad informou, por meio da assessoria de imprensa, que há a previsão de elaborar o documento, mas ainda sem data. (Colaborou Deivid Souza)

Chuvas constantes somente em outubro

Gerente do Cimehgo, André Amorim ressalta que é preciso chuvas em sequência para aumentar o nível dos mananciais e isso só irá ocorrer a partir de meados de outubro. Há alguns fatores que é preciso considerar nesta época do ano, como o regime pluviométrico do Centro-Oeste que é de seis meses, no mínimo, sem chuvas, e o crescimento populacional. “Tudo isso mostra que não podemos baixar a guarda. Desde 2019 estamos reforçando as ações para o consumo racional de água, mas é preciso lembrar que estão surgindo novos prédios e novos bairros que demandam recursos hídricos.” 

Todos os serviços meteorológicos indicam que em agosto não deve chover na maior parte do território goiano, mas no início de setembro pode ocorrer um baixo índice pluviométrico no extremo sul, como ocorreu há alguns dias. “São chuvas que não resolvem muita coisa porque não são constantes, não molham o solo para, gradativamente, suprir o manancial”, afirma Fábio Camargo. O gerente do Cimehgo concorda e lembra que nos últimos anos o regime pluviométrico em Goiás demonstra chuvas frequentes somente a partir de outubro.

Nesta segunda-feira (22) a umidade relativa do ar em Goiânia ficou em torno de 20%, fator que também contribui para a redução da vazão dos mananciais que abastecem a população. “‘Nesta equação temos de lidar com o fator ser humano, ou seja, não podemos monitorar cada usuário, mas eles precisam cooperar, de forma individual para o uso racional de água, para que não tenhamos de adotar o racionamento”, afirma André Amorim. 

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