Na manhã desta segunda-feira (12) foi apresentada na Câmara Municipal de Goiânia a Carta das Águas do Rio Meia Ponte, um amplo relatório científico sobre as condições do principal manancial da região metropolitana de Goiânia. Um dos pontos destacados é que em 47,66% do percurso há ocupação da faixa bilateral de área de preservação permanente (APP). Esta área deveria ter uma margem de ao menos 100 metros no caso deste manancial.O diagnóstico, fruto da 1ª Expedição Científica Pelo Rio Meia Ponte, realizada em março deste ano por iniciativa da vereadora Kátia Maria (PT), surgiu com o objetivo de fornecer informações para a implementação de políticas públicas capazes de recuperar e proteger o rio que contribui para o abastecimento de 2,5 milhões de pessoas, junto com seu principal afluente, o Ribeirão João Leite.O levantamento foi realizado pelo mandato da vereadora Kátia Maria, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), pelo Instituto Federal de Goiás (IFG) e pela companhia Saneamento de Goiás (Saneago). No período de 22 a 27 de março deste ano, voluntários percorreram 45 km do rio, na região metropolitana da capital, abrangendo cinco municípios - Goiânia, Goianira, Santo Antônio de Goiás, Senador Canedo e Aparecida de Goiás. Embarcadas ou por terra, as equipes identificaram 40 pontos de impacto ambiental - 31 deles de assoreamento; 2 aterramentos, 9 erosões lineares, 4 erosões fluviais, 1 rompimento de manilha e 2 atividades não coincidentes com usos urbanos (pivôs de irrigação e mineradora).Ao apresentar a Carta das Águas do Rio Meia Ponte, a vereadora explicou que durante os dias de expedição os pesquisadores observaram outras irregularidades que contribuem para a degradação do manancial: descarte de lixo, esgoto, extração irregular de areia, captação de água sem outorga, situações que contribuem para a mortandade de peixes, também avistada. “Este é o projeto mais desafiador da minha trajetória política. Precisamos de muita ajuda e um pacto entre as instituições para avançar.” Kátia Maria antecipou que uma nova expedição está prevista para o período de 19 a 22 de setembro, durante a estiagem, para confrontar os dados coletados na época chuvosa. “Estamos em tratativas para criar o Observatório do Meia Ponte para que esse documento seja atualizado permanentemente.”Reitora da UFG, Angelita Pereira Lima, que participou de uma das visitas ao rio, disse durante a solenidade que a expedição “foi uma aula de meio ambiente, de cidadania e de política”. Segundo ela, o Meia Ponte reivindica o seu direito à cidade. Ela lembrou que o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), aprovado no ano passado, imprimiu em sua missão a preservação e a recuperação das águas e do Cerrado. “Vamos destinar todo o nosso cabedal científico e tecnológico para essa missão”. Várias unidades da UFG participaram do diagnóstico, como o Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física (Labogef) e o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig).Superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Saneago, Camila Roncato afirmou que a companhia se uniu à expedição e vai continuar sendo parceira porque estudos hidrológicos apontam o Meia Ponte como manancial de abastecimento em Goiânia até o ano de 2070. “Até dezembro deste ano vamos finalizar a ampliação de tratamento da ETE Hélio Seixo de Brito, saindo de uma eficiência de 50% a 60% para 90% de esgoto tratado, para devolver à população uma água de melhor qualidade. Conforme Camila Roncato, ainda no meio do ano “serão licitadas as obras do intermediário que vai interditar todo o esgoto clandestino que é lançado no Rio Meia Ponte e encaminhá-lo para a estação de tratamento”.O relatório mostra que a Bacia Hidrográfica do Meia Ponte tem enorme importância para a região Centro-Sul do estado de Goiás, interligando 39 municípios, numa área aproximada de 12.180 km². O Rio Meia Ponte nasce em Itauçu e percorre 471,6 km até Itumbiara, onde deságua no Rio Paranaíba. Nesse percurso, o Meia Ponte induz o desenvolvimento socioeconômico para 50% da população goiana, representando também um grande valor ambiental agregado. Além do abastecimento humano, o rio é explorado em toda a sua extensão para dessedentação de animais, irrigação para a produção de alimentos, geração de energia (Usina Rochedo), mineração, pesca, turismo e lazer. Daí a importância da efetivação de políticas públicas para mantê-lo vivo.Para fazer o levantamento, Kátia Maria buscou diversas parcerias. Pessoas, organizações do terceiro setor e instituições públicas e privadas foram homenageadas na sessão especial dedicada aos Amigos do Meio Ambiente.