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Saúde diz que OS deteriorou Hugo; governo vai recuperar

Wildes Barbosa
Parte da infraestrutura do Hugo está deteriorada e pacientes com fraturas esperam por cirurgias há dias. SES-GO deve fazer plano de investimento para recuperar unidade

O principal hospital público de Goiás com parte importante da infraestrutura deteriorada e pacientes com fraturas esperando por cirurgias há dias. Foi assim que a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) diz que encontrou o Hospital Estadual de Urgências de Goiás (Hugo) depois da saída do Instituto Cem, organização social (OS) que estava à frente do local até o fim de maio. Diante da situação, a secretaria deve fazer plano de investimento para recuperação e otimização da unidade.

No dia 28 de maio, o governo estadual divulgou que a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein assumiria a gestão do Hugo a partir desta terça-feira (4) de forma emergencial. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Rasível Santos, não ocorreram intercorrências importantes no primeiro dia de atividades da nova gestão. O jornal esteve no Hugo no início da tarde desta terça e o clima era tenso na parte de fora do hospital, com uma entrada exclusiva para funcionários separada por cones e uma fita zebrada.

Santos conta que a equipe do Einstein conseguiu entrar no Hugo ao longo do último feriado, quando constatou que várias partes da infraestrutura do local estavam degradadas. Das dez salas de cirurgia, cinco passaram por reformas rápidas. De acordo com o secretário, esses locais estavam sem condições de funcionar por conta de uma série de problemas, como buracos nas paredes, ausência de vidros, ar condicionado inoperante e portas que não estavam fechando. “O que aumenta o risco de contaminação”, diz.

Também foi verificado que 25 pacientes com fratura de fêmur chegaram a ficar mais de dez dias à espera de cirurgia, quando o prazo tolerado é de apenas 48 horas. “Um tempo de permanência muito prolongado”, afirma Santos. Segundo ele, a justificativa dada pela OS foi a de que não existiam recursos para a aquisição de órteses e próteses. “Isso estava previsto em contrato e nosso repasse foi feito”, pontua Santos. O secretário aponta que deve ser realizado um mutirão para que esses pacientes sejam operados o mais rápido possível.

De acordo com ele, o Einstein também constatou que a cozinha da unidade não tem condições de ser utilizada. Sendo assim, os alimentos destinados aos funcionários e pacientes estão sendo comprados. Diante do cenário caótico, Santos afirma que aguarda o Einstein promover um diagnóstico detalhado sobre a situação do hospital ao longo de junho. Posteriormente, a SES-GO pretende traçar um plano de investimento para recuperação e otimização do hospital. Santos não adiantou prazos e valores referentes ao plano.

Mesmo com danos tão extensos, segundo Santos, esse sucateamento ocorreu apenas no final da gestão do Instituto Cem, a partir do momento que a OS foi desqualificada do chamamento público para seguir à frente da unidade de forma definitiva. “Uma queda vertiginosa na qualidade da assistência. Como não estavam batendo metas, nem sabemos se estavam utilizando ou não algumas salas que estavam em condições impróprias”, detalha.

Sempre que vai acontecer uma mudança de OS, a SES-GO monta uma Comissão de Transição na unidade para acompanhar diariamente os trabalhos, a fim de assegurar uma mudança sem impactos na assistência. Questionado se a comissão não percebeu as más condições do Hugo, Santos afirma que a secretaria estava ciente do cenário, o que foi o motivador do contrato emergencial com o Einstein.

Santos argumenta que a SES-GO não tinha mais confiança para fazer repasses financeiros para o Instituto Cem com a garantia de que o dinheiro seria usado para assistência e melhorias estruturais. “O cenário de insegurança era tão grande que precisamos fazer essa intervenção”, explica.

Contrato emergencial

Quando anunciou o novo contrato emergencial, a SES-GO alegou que a medida foi tomada a fim de garantir a continuidade das atividades do hospital e a qualidade do atendimento. O contrato com o Einstein possui o mesmo valor do contrato com o Instituto Cem: R$ 21,7 milhões. Ao jornal, Santos já havia dito que a “perda de confiança” no Instituto Cem contribuiu para a suspensão do contrato com a OS.

No dia 17 de maio, o Instituto Cem ameaçou rescindir o contrato de gestão do Hugo sob argumento de inadimplência de pagamentos do estado, o que é negado pelo governo estadual mesmo com a administração pública tendo feito recentes empenhos de pagamentos à OS com justificativa de “valores glosados equivocadamente na regularização de despesas no período de 01/01/2022 a 17/05/2022”.

Em nota, a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein informou que, neste momento, “o foco principal está em garantir o atendimento e continuidade do cuidado a cada paciente” e que “a partir de agora serão avaliadas as necessidades de adequação de infraestrutura, fluxos e processos”. A organização comunicou ainda que o compromisso é de “melhorar o atendimento, buscando sempre a excelência do cuidado, com ênfase na qualidade, segurança e melhor experiência dos pacientes”.

O chamamento público para a gestão do Hugo por meio de um contrato regular foi iniciado no ano passado. A expectativa é de que seja concluído no mês que vem. Deverá ser convocada a terceira colocada, justamente a Sociedade Israelita Albert Einstein, uma organização da sociedade civil (OSC). O primeiro lugar era da OS Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ), de Minas Gerais, que renunciou à gestão da unidade de saúde. O Instituto Cem ficou em segundo lugar no processo, mas foi excluído após ser desqualificado.

Procurado, o Instituto Cem não respondeu os questionamentos da reportagem até o fechamento desta edição.

Fornecedores reclamam de atraso de pagamento

Distribuidores de medicamentos e materiais médicos hospitalares reclamam de pagamentos atrasados por parte do Instituto Cem, organização social (OS) que administrou o Hospital Estadual de Urgências de Goiás (Hugo) até o final de maio. De acordo com o proprietário de uma empresa, que preferiu não se identificar, a OS deve em torno de R$ 130 mil para ele há cerca de 60 dias. Segundo ele, a situação se repete sempre que acontece uma mudança na OS à frente de um hospital público. “No começo, pagam certinho. No final, é isso. Assim, as unidades públicas vão acabar ficando sem fornecedores”, argumenta.

O secretário estadual de Saúde, Rasível Santos, admite que o Hugo tem dificuldade de manter alguns fornecedores que não estavam recebendo. “Alguns com dois ou três meses de atraso”, detalha. Entretanto, ele afirma que a responsabilidade de honrar com esses compromissos financeiros é da OS. “Todos os repasses foram feitos por parte da pasta”, afirma.

A situação também é delicada no que diz respeito aos funcionários do Hugo. Reportagem publicada em 22 de maio mostrou que o fundo rescisório da unidade contava com cerca de R$ 1 milhão apenas. A informação foi divulgada pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), que estima que serão necessários em torno de R$ 23 milhões para fazer o pagamento dos encargos trabalhistas dos funcionários do hospital.

Na ocasião, a pasta afirmou que estava articulando com a Procuradoria setorial uma maneira de arcar com os encargos trabalhistas dos funcionários para posteriormente promover um acerto de contas com a OS. “Com os fornecedores é diferente. Não tenho como pagar. As pessoas jurídicas têm uma relação direta com a OS”, frisa.

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