GABRIELLA BRAGAA Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) assume, a partir desta quinta-feira (10), a operação e administração do Aterro Sanitário de Goiânia, local gerido desde 2007 pela Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg). O serviço foi retirado da empresa no início do mês e, agora, a pasta prepara um contrato emergencial junto à empresa privada. Ao mesmo tempo, o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) tem se manifestado tanto para que o termo de referência utilizado à contratação seja alterado, quanto para que o processo seja suspenso.O jornal mostrou na edição do último fim de semana que a Prefeitura planeja pagar o dobro pela gestão do aterro. Conforme o contrato junto à Comurg, o valor pago – atualizado em outubro de 2023 – era de R$ 2.016.325,63 mensais, sendo a divisão de R$ 1.855.259,86 à operação e R$ 161.065,77 à administração. Já conforme o termo de referência obtido pela reportagem, o pagamento à empresa privada contratada é estipulado em R$ 4.196.289,10 ao mês. Na ocasião, a Seinfra não explicou o motivo da diferença entre os valores pagos pelo serviço.A retirada do serviço de operação e administração do aterro sanitário do contrato entre a Comurg e a Seinfra foi divulgada no Diário Oficial do Município (DOM) do dia 1º deste mês, com validade a partir desta quarta-feira (9). A justificativa é que a empresa fornecedora de maquinários, a RSN Logística Locação e Serviços de Máquinas e Equipamentos, teria rescindido o contrato com a companhia. “Sem o maquinário, ela ficou incapacitada de operar o aterro e de executar novos contratos”, cita a Seinfra, em nota.O extrato do termo de rescisão bilateral do contrato para “prestação de serviços de locação de caminhões, maquinários, equipamentos, vans, utilitários, ônibus, carros e motos, com ou sem motorista, mediante contrato por demanda” entre a RSN Logística e a Comurg foi assinado no dia 1º deste mês e publicado na edição do dia 4. Também com vigência a partir desta quarta. O jornal esteve no aterro sanitário nesta data e verificou a presença de profissionais da companhia. Um servidor mencionou que equipes da Seinfra estavam no local desde terça-feira (8), mas não soube dar mais detalhes.A pasta alega, em nota, que a partir desta quinta-feira “a operação e administração ficam à cargo da Seinfra, que está finalizando o contrato emergencial e, em paralelo, preparando o processo licitatório, conforme as exigências do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado junto ao MPGO”. A data de início da empresa que irá assumir o serviço, por meio de contrato emergencial, “ainda não está definida”. “O contrato com a empresa RSN foi finalizado a pedido da Comurg. A Seinfra não participou desta decisão da empresa, mas sendo a responsável pelo Aterro Sanitário, assume a função temporariamente”, cita.QuestionamentosTitular da 50ª Promotoria de Justiça do MPGO, a promotora Leila Maria de Oliveira encaminhou no início da semana uma representação ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCMGO) pontuando possíveis irregularidades no termo de referência utilizado para a concretização do contrato emergencial. A exemplo, dentre os pontos citados, consta um “possível superfaturamento na contratação” diante do valor que seria pago à empresa privada, o equivalente ao dobro do montante pago à Comurg.Desta forma, a promotora de Justiça requereu a “imediata suspensão de todos os atos concernentes ao processo licitatório para a contratação emergencial de empresa”, além de que o Paço se abstenha de contratar o serviço sem “o devido procedimento licitatório”, além de que a licitação seja feita de “modo a oportunizar o controle dos órgãos de fiscalização e a ampla participação de qualquer empresa interessada”. A representação recebida pelo gabinete do conselheiro Fabrício Motta foi levada para análise na Secretaria de Fiscalização de Engenharia da Corte. O despacho é desta terça-feira.O promotor de Justiça Juliano de Barros Araújo, da 15ª Promotoria de Justiça, especializada em meio ambiente e urbanismo, pontuou correções em recomendação encaminhada na segunda-feira (7) ao prefeito Rogério Cruz (SD) e ao titular da Seinfra, Breno Ranner. No documento, o promotor solicita ao município que “reveja o escopo da contratação emergencial” para cumprir requisitos já determinados, a exemplo, em TAC firmado entre o Paço e o MPGO.Dentre os pontos, cita, a realização de “contratação emergencial de aterros sanitários licenciados privados para a disposição final de 100% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados, até a conclusão das obras decorrentes da adequação”. Além disso, a limitação no contrato emergencial para destinação de até 60% dos resíduos gerados na capital, de forma a cumprir o TAC que prevê a adequação do espaço para prolongar o período de vida útil, utilizando aterros privados para receber parte dos resíduos. E, também, a realização de contrato emergencial de aterros privados para a destinação de pelo menos 40% dos resíduos “até a conclusão do procedimento licitatório em andamento para a mesma finalidade”.Ao jornal, Juliano aponta que ainda não recebeu um retorno do Paço municipal a respeito da recomendação encaminhada na segunda. Conforme ele, o que foi apurado pela Promotoria, até o momento, era de que a Seinfra utilizaria maquinários do Consórcio Limpa Gyn – responsável pela coleta de lixo, seletiva e remoção de entulhos desde o primeiro semestre deste ano, serviços estes antes feitos pela Comurg – e faria a indenização pelo uso, visto que a pasta não dispõe de itens necessários para o serviço.Ainda no ano passado, a administração municipal já havia tentado licitar a operação e administração do aterro sanitário dentro do processo de repasse dos serviços, hoje feitos pelo Consórcio Limpa Gyn, à iniciativa privada. Entretanto, o TCMGO havia exigido que os processos fossem separados. Na ocasião em que foi publicada a licitação em que o consórcio saiu vencedor, a gestão do aterro não foi mais listada.