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Sobe para 13 o número de mulheres que já denunciaram ginecologista de Goiânia por crimes sexuais

Divulgação/Polícia Civil
Fábio Guilherme da Silveira Campos foi preso após denúncias de crimes sexuais

A Polícia Civil confirmou que 13 mulheres já denunciaram o ginecologista Fábio Guilherme da Silveira Campos, de 73 anos, por crimes sexuais, em Goiânia. O médico foi preso na última quinta-feira (20), no Jardim América, e teve sua identidade revelada pela polícia. A delegada Amanda Menuci afirma que a divulgação colaborou para que mais mulheres procurassem a delegacia, e acredita na existência de outras vítimas.

Por ligação à TV Anhanguera, a defesa do médico informou que só conseguiu pegar os documentos do caso na sexta-feira (21) e que está analisando tudo para depois se posicionar sobre o assunto.

O médico está sendo investigado desde 27 de junho por violação sexual mediante fraude. O inquérito foi aberto após uma paciente, à época grávida de oito meses, relatar ter sofrido abuso durante um exame de pré-natal naquele mesmo mês.

O caso ficou publicamente conhecido após circular uma gravação do pai da criança, de 31 anos, agredindo o profissional dentro do Centro Integrado de Atenção Médico Sanitária (Ciams) Novo Horizonte, onde o ginecologista atendia.

A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) disse que repudia qualquer ato de agressão e desrespeito às pacientes e que preza pelo acolhimento e qualidade da assistência.

Denúncias de mais de 20 anos

Diante da divulgação do vídeo, outras três mulheres denunciaram que também foram vítimas do médico. Dois destes casos ocorreram em 1994, e chegaram a ser reportados ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego). Um outro, aconteceu em 2014.

“(As duas vítimas de 1994) relataram que o procuraram para consulta normais, de rotina, e ele teria dito que elas precisavam ficar excitadas para fazer os exames, pedia para fechar os olhos, pensar em coisas boas, tocou os seios e o órgão genital, pediram para tocar o dele. Isso foi questionado por elas, mas ele reafirmava que era um procedimento necessário”, informou a delegada.

Nos casos, o crime já foi prescrito – por ter passado de 12 anos desde o fato até a ocorrência – e as mulheres atuarão como testemunhas no processo.

“Mesmo os casos prescritos, (devem denunciar) como testemunha. É muito importante para demonstrarmos a habitualidade delitiva dele, a reiteração (dos crimes)”, afirma a delegada.

Sobre a denúncia feita há mais de 10 anos, a SMM de Goiânia disse que não é mais possível verificar o que aconteceu. Mas destacou que mantém um canal aberto para denúncias, que é o da Ouvidoria, cujo número é 0800 646 1510.

No relato do crime que teria ocorrido em 2014, a vítima diz que o médico ficava a espionado enquanto ela se despia para a consulta e teria feito piadas em tom de deboche, como a de que ela não precisava ficar com vergonha pois ele já a teria visto nua.

No momento da coleta do material ginecológico, a delegada explica que “ela estava (deitada) e ele puxou o corpo dela no sentido do seu, pressionando o órgão genital contra o dela.” Neste momento, ela desistiu de prosseguir com o atendimento.

Conduta

Segundo a delegada, o médico fazia as vítimas duvidarem se estavam passando por um caso de crime sexual ou por um procedimento médico normal. Conforme ela, a conduta do médico em todos os casos possui similaridades, como as piadas de conotação sexual, mas também algumas diferenças na forma como o crime teria ocorrido.

Ao Daqui, uma autônoma de 23 anos informou que registrou a denúncia na última sexta (21) no plantão da Deam, localizado na Central de Flagrantes. Ela relata que se sentiu encorajada após a divulgação da identidade do médico.

“Amanheci vendo a notícia (da prisão dele) e, na mesma hora, a minha reação foi ir à delegacia abrir denúncia contra ele. Percebi que também aconteceu com outras, não era só comigo. Não era coisa da minha cabeça”, relata ela, que prefere não se identificar.

A decisão de fazer a denúncia foi tomada três meses após o caso, que ocorreu durante consulta em maio, no Ciams Novo Horizonte. A jovem explica que, na ocasião, achava que estava “exagerando” e procurou amigos e familiares para saber outras opiniões a respeito.

“Todas as pessoas aconselharam a fazer denúncia porque foi assédio sexual”, pontua. Conforme ela, o médico teria feito perguntas em tom de conotação sexual, o que a fez se sentir desagradável.

“(Mas) à época eu não abri denúncia porque era a minha palavra contra a dele. Eu queria ter provas, pensei: vou voltar e gravar (ele) para provar que o assédio estava acontecendo”, acrescenta. No entanto, a prisão foi efetuada antes de uma nova consulta.

Sem punição

O ginecologista possui o registro profissional ativo desde 1981 e, conforme apurado pelo POPULAR no Diário Oficial do Estado (DOE), não sofreu nenhuma suspensão recente, mesmo após a denúncia de duas vítimas menores de idade em 1994. As penas relacionadas à suspensão e cassação precisam ser publicamente divulgadas.

Questionado se houve sanção, o Cremego limitou-se a dizer que “as denúncias relacionadas à conduta ética de médicos recebidas pelo conselho ou das quais tomamos conhecimento são apuradas e tramitam em total sigilo, conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional Médico.”

A delegada Amanda Menuci diz que ainda não noticiou o Cremego e, por isso, ainda não tem acesso ao processo, visto que o mesmo é sigiloso. Mas destaca que, informalmente, o médico relatou que já foi denunciado no conselho, mas foi absolvido. Uma das vítimas que efetuou também deu o mesmo relato.

“O Cremego vai ser noticiado para enviar toda a documentação que tiverem sobre esses casos e outros. Tudo é sigiloso tem que ter um trâmite entre a Polícia Civil e o conselho”, pontua.

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