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Técnica em enfermagem que teve bumbum necrosado após lipoescultura não consegue andar

Reprodução/TV Anhanguera
Joana Montel passa o dia todo deitada e não pode andar após lipoaspiração no bumbum, em Goiânia, Goiás

A técnica em enfermagem Joana Darque Montel, de 30 anos, que teve parte do bumbum necrosado após uma cirurgia plástica, está sem andar há cerca de uma semana e a condição deve perdurar por 4 meses, que é o prazo para se recuperar da infecção que abriu buracos nas nádegas dela.

"Eu não me imaginava assim. Dói, incomoda. Tenho uma filha de 3 anos, que me pede colo e não posso dar. Destruiu meus sonhos", desabafou a técnica.

A Joana passa o dia todo deitada de bruços, não pode se sentar, dormir de lado e nem caminhar. Ela fez uma lipoescultura no dia 13 de dezembro do ano passado. A cirurgiã plástica Lorena Duarte Rosique retirou uma parte da gordura das pernas e colocou no bumbum.

Em seguida ao procedimento, Joana disse que sentiu muitas dores e febre alta. Assim, foi parar no hospital, onde ficou internada entre os dias 25 e 30 de dezembro. Na unidade médica, ela passou por uma drenagem de emergência para retirar o pus que estava no bumbum.

A técnica registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil pedindo investigação por lesão corporal. Além da Joana, mais três pacientes submetidas a cirurgias estéticas pela mesma médica relataram intercorrências durante o pós-operatório e que ficaram com deformidades pelo corpo.

A defesa da médica Lorena Rosique disse em nota que Joana estava sujeita a intercorrências ao fazer o procedimento, como em qualquer caso de intervenção cirúrgica. "Os riscos são devidamente aceitos pela paciente em assinatura de contrato", diz trecho da nota (leia a íntegra ao final).

A cirurgiã teve o registro de médica (CRM) interditado pelo Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) em fevereiro do ano passado, após denúncias de pacientes que também tiveram cirurgias mal sucedidas. O registro foi reativado um mês depois pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e ela voltou a operar (leia íntegra da nota do Cremego ao final da reportagem).

No site do Tribunal de Justiça de Goiás há pelo menos 18 processos tramitando contra a médica, a maioria sob sigilo.

Dias antes de o CRM da médica ser interditado, o g1 mostrou a denúncia da vendedora Kelly Cristina Gomes da Costa, de 29 anos. Ela também registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil contra Lorena Rosique após fazer procedimento para levantar os seios, eliminar gordura e aumentar o bumbum, mas teve queimaduras na pele e diversas complicações.

Outras pacientes da médica que operou a mulher relataram ter ficado com deformidades pelo corpo após plásticas.

Primeira cirurgia

As cirurgias plásticas da técnica em enfermagem Joana Montel começaram em 2021. Ela colocou próteses nos seios e fez lipoaspiração na barriga com Lorena Rosique. Na época, ela teve complicações e procurou a médica por diversas vezes para reparar os procedimentos.

As cirurgias reparadoras, chamadas de refinamento, foram feitas, mas não corrigiram as deformidades, segundo Joana. Ela perdeu parte das aréolas dos seios e ficou cicatrizes grandes na barriga.

Vendedora teve para cardíaca

Outra paciente de Lorena Rosique, a vendedora Karita Rabelo de Andrade, de 34 anos, fez lipoaspiração e colocou próteses nos seios em 4 de dezembro de 2021. Um dia depois da cirurgia, ela relata que passou mal e precisou se internar. No hospital, ela descobriu que teve o intestino perfurado. Durante a internação, Karita teve paradas cardíacas, ficou em coma e foi até intubada.

"No início, ela [médica] me disse que era anemia. Minha barriga ficou toda vermelha e ela dizendo que era alergia aos medicamentos. A infecção da barriga desceu para as pernas e eu já não andava mais. Fiz várias cirurgias", contou Karita.

De 2021 para hoje, a vendedora lamenta ter que viver entre consultas médicas e exames em hospitais.

"Minha vida não voltou ao normal. Busco formas de amenizar o que aconteceu, porque não é só o físico, o emocional também fica abalado", desabafou.

Seios com tamanhos diferentes

Uma mulher que preferiu não se identificar também fez cirurgias com Lorena Rosique, em dezembro de 2020, com a intenção de ficar com a barriga e os seios mais bonitos.

Foram feitos os procedimentos de lipoaspiração e mamoplastia sem prótese. Ela foi outra paciente que teve infecções logo após as plásticas.

Um ano depois, em 13 de agosto de 2021, ela pagou novamente a médica para fazer a correção dos dois procedimentos que teriam sido malfeitos, mas não obteve sucesso.

"Minha mama ficou uma maior que a outra. A aréola do meu peito ficou deformada, com cicatrizes horríveis. Minha barriga também ficou deformada após a lipoaspiração", explicou.

A advogada Flávia Lemes, que defende a paciente, disse que há boletim de ocorrência registrado na polícia e que também já ingressou com processo contra médica pedindo reparação de danos morais e materiais.

Desde as cirurgias, há dois anos, a mulher relatou que faz tratamento psicólogico.

"Não é fácil entrar em um hospital bem e sair deformada. Minha barriga era lisa, não tinha nem uma deformidade, meu peito era normal e hoje não é mais. Sinto muitas dores, anda cansada pela cirurgia", lamentou a paciente.

Nota do Cremego

Em 17 de fevereiro de 2022, Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) interditou cautelarmente a cirurgiã geral e cirurgiã plástica Lorena Duarte Rosique (CRM/GO 15.293), após tomar conhecimento de denúncias de pacientes contra a médica.

A interdição cautelar é um procedimento administrativo adotado pelos Conselhos Regionais de Medicina para restringir o exercício da profissão por médicos cuja ação ou omissão, decorrentes de sua profissão, esteja prejudicando gravemente a população, ou na iminência de fazê-lo.

No mesmo período, o Cremego iniciou os procedimentos para a apuração da conduta profissional da especialista. O processo está em tramitação e, cumprindo o artigo 1º do Código de Processo Ético-Profissional Médico, essa apuração tramita em sigilo.

A interdição cautelar tinha validade de seis meses e poderia ter sido prorrogada por mais seis ou revogada a qualquer momento pelo Cremego. Mas, em 25 de março de 2022, o Conselho Federal de Medicina (CFM) revogou a interdição feita pelo Cremego e a médica pôde voltar a atuar.

Nota da defesa da médica Lorena Rosique

Com relação à paciente Joana Darque Montel, fazemos os seguintes esclarecimentos:

A paciente fez procedimento e está sujeita a intercorrências como em qualquer caso de intervenção cirúrgica. Os riscos são devidamente aceitos pela paciente em assinatura de contrato. A paciente obteve a devida prescrição de antibiótico pela equipe médica e procurou serviço público de emergência no feriado de natal, onde foi atendida. A equipe manteve contato com a paciente, mesmo fora do horário comercial, e, ao ser oferecida transferência para o hospital que a Dra. Lorena é conveniada, não aceitou e quis continuar no HUGO.

A médica possui mensagens da paciente que comprovam a satisfação, agradecimento dela pela cirurgia, além de imediata e integral assistência médica. Serão avaliadas eventuais acusações e divulgações inverídicas para posterior responsabilização.

 

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