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Temendo prejuízos, produtor se prepara para enfrentar frio em Goiás

Fábio Lima/O Popular
Horta no município de Ouro Verde: rega antecipada para não congelar folhagem

O anúncio da chegada de uma forte frente fria a Goiás nesta quarta-feira (18) deixou muitos produtores rurais em alerta, pois a queda na temperatura pode afetar o desenvolvimento das plantas, acelerar a secagem de pastagens e até reduzir o desempenho dos animais. 

As hortaliças estão entre as culturas mais vulneráveis ao frio, que pode queimar as folhas e caules e interromper o crescimento das plantas, reduzindo a produtividade dos frutos. Para evitar possíveis prejuízos, produtores já se mobilizam para mudar as rotinas de suas lavouras durante este período.

É o caso da agricultora Ediene Xavier da Silva, que produz folhagens, como o alface, couve, salsa e rúcula, numa horta no município de Ouro Verde. “Estou trocando o horário de trabalho de funcionários para molhar as plantas logo nas primeiras horas do dia, quando o frio é mais intenso, e reduzir o risco de congelamento das folhagens, que são muito frágeis e podem ser queimadas”, explica. 

Ela lembra que, há cerca de 20 anos, já chegou a perder praticamente uma horta inteira por causa de uma geada. “Minha horta está grande e, se isso acontecer, o prejuízo será bem grande”, prevê.

Dependendo de sua intensidade e duração, uma onda de frio pode interromper o desenvolvimento e causar o abortamento das flores da planta. O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) anunciou que as temperaturas podem ficar abaixo dos 2°C em Jataí e oscilar entre 7°C e 8°C em Goiânia. 

O presidente da Cooperativa dos Produtores de Hortifrutigranjeiros de Goiás, Lourivan Santos, diz que estas condições prejudicam mais algumas culturas que outras. Além das folhagens, culturas como o chuchu, pimentão, maracujá e banana estão entre as mais suscetíveis a perdas com o frio intenso. No caso da banana, por exemplo, a geada pode queimar as folhas, afetar a formação da planta e atrasar a produção. 

Outro bom exemplo é o do chuchu, que tem um desenvolvimento muito rápido depois que as flores se soltam e o frio intenso neste período pode levar ao abortamento. 

Segundo Lourivan, não há como investir em algum sistema de cobertura das hortas por causa do alto custo, diante do pouco tempo de frio em Goiás. Esta prática é mais comum no Sul do País, onde o inverno é mais intenso e dura mais.

A agricultora Carmelúcia Helena Tagliari, que produz hortaliças e frutas no município de Morrinhos, também teme que uma geada possa queimar boa parte da produção, que é fornecida para merenda escolar e vendida em feiras. Por isso, para o caso de frio muito intenso, ela já planejou fazer a irrigação bem cedo para eliminar o gelo que pode se formar sobre as plantas. 

“Já tive problemas com granizo, mas geada não vejo desde que era criança. Se cair desta vez, será uma grande surpresa pra gente. Torço para que este frio não venha muito intenso.

Colheita menor

O produtor rural David Martins de Jesus conta que chegou a perder 25% de sua lavoura por causa da queima das plantas, em decorrência do frio intenso no ano passado. Ele não esconde o temor de que o problema se repita ainda com mais prejuízo este ano, pois a produção de berinjela, jiló e chuchu pode não se desenvolver como deveria para dar os frutos no tempo certo, comprometendo a qualidade.

“Num clima muito severo, se colhíamos 200 caixas, passamos a colher só 50”, diz David. Para ele, nem mesmo a irrigação na madrugada pode resolver o problema causado por uma geada. “Isso pode ajudar um pouco, mas não resolver muita coisa”, avalia.

Prejuízos causados pela queda de produção nas lavouras geralmente resultam em preços mais altos para o consumidor. O coordenador institucional do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária em Goiás (IFAG), Leonardo Machado, ressalta que a safrinha já não tem apresentado um bom desempenho, com chuvas em baixo volume e dispersas em abril e nos primeiros dias de maio, o que tem prejudicado culturas como milho, sorgo trigo e algodão.

Agora a preocupação aumenta com a previsão de frio intenso no Sul e Sudoeste de Goiás, que pode causar geadas e prejudicar ainda mais as lavouras, que já sofrem com a seca. Leonardo lembra que, devido a estes fatores, a Conab já reduziu em 11% a estimativa de produção em Goiás.

Pastagem fica mais seca e desempenho de animais cai

O frio mais intenso tem influência direta sobre a cadeia produtiva do gado de corte. A zootecnista e especialista em Produção Animal da Nutroeste, Carolinne Mota, diz que baixas temperaturas afetam a qualidade da pastagem e o desempenho dos animais. Com o frio, as plantas transpiram mais e secam mais rapidamente, antecipando um efeito do período de seca. A geada ou frio intenso diminui a qualidade dessa silagem, o que faz com que o custo alimentar do gado fique mais alto. “A silagem de boa qualidade necessita de menor incremento de fontes energéticas e proteicas. Ou seja, para o mesmo desempenho animal com silagens de baixa qualidade, é necessário gastar mais com complementação de ração, aumentando o custo”, destaca.

Já os bovinos costumam registrar uma queda de desempenho no frio intenso, com perda de peso. “As raças zebuínas gastam mais energia para manter a temperatura corporal e reduzem de 3% a 10% do consumo de matéria seca nos dias frios, causando atraso de alguns dias na constância de peso. E o pasto que já está com sua qualidade nutricional reduzida”, alerta a zootecnista. Segundo o presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg, Evandro Vilela, o gado goiano não é acostumado com o frio intenso, por isso deixa de se alimentar normalmente e seu desempenho diminui. O mesmo acontece com a pastagem, que é de região tropical e também não está acostumada a baixas temperaturas. “O frio deixa o pasto mais seco, reduzindo suas propriedades proteicas e minerais. Acaba sobrando só capim seco de baixo valor nutricional.”

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