O oferecimento do teste genético BCRA 1 e BCRA 2 para câncer de mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Goiás, permitirá que várias mulheres sejam diagnosticadas precocemente e possam ser acompanhadas pelo serviço de saúde. Trata-se de um exame de sangue com o intuito de identificar a predisposição para a doença.A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de que 3,9 mil novos casos da doença sejam registrados no estado em 2024 e 2025. Somente neste ano, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), foram 730 registros confirmados até julho. Entre 2020 e 2022, foram 5,3 mil.O teste compõe o projeto Goiás Todo Rosa, lançado pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil) na última quinta-feira (19). Ele será viabilizado por meio de um trabalho da SES-GO em conjunto com o Centro de Genética Humana da Universidade Federal de Goiás (UFG), que será responsável pela realização dos exames. O câncer de mama é a primeira causa de morte pela doença em mulheres no Brasil. Em Goiás, 1,9 mil mulheres perderam a vida para a enfermidade entre 2020 e 2023.A lei estadual nº 20.707, de janeiro de 2020, garantiu a realização do teste genético pelo SUS. Segundo a legislação, o exame precisa ser requisitado por um médico geneticista, mastologista ou oncologista e a paciente terá de apresentar laudo que comprove histórico pessoal de câncer de mama ainda jovem ou laudo que comprove histórico familiar de câncer de mama.A mastologista Rosemar Macedo Sousa Rahal, responsável pela construção do projeto, explica que em 10% dos casos de câncer de mama as mulheres desenvolvem a doença em decorrência de uma predisposição. “É como se elas já nascessem com uma marca”, diz. O diagnóstico dessas mutações acontece por meio do teste genético. “Dependendo do tipo de mutação, a chance é de até 80% da mulher desenvolver o câncer.”O diagnóstico afeta diretamente dois cenários. Primeiro, o de uma paciente que já tem câncer e descobre a mutação. “A forma de tratamento é diferente”, destaca Rosemar. O segundo cenário é de uma mulher que não tem câncer e descobre possuir a mutação. “Ela fará um acompanhamento muito mais próximo, com exames e consultas com mastologistas mais frequentes, podendo até haver a indicação de uma cirurgia profilática”, esclarece a mastologista.A realização do exame depende da vontade do paciente, que é encaminhada para o Centro de Genética Humana e passa por uma triagem, chamada de aconselhamento genético pré-teste. O exame ocorre por meio da coleta de sangue. O movimento inicial para a chegada do exame ao SUS nasceu em 2018, por meio de uma pesquisa da UFG que fez a avaliação e identificação dos genes associados ao câncer hereditário em pacientes do SUS. “Com a estruturação do Centro de Genética Humana e da lei estadual, tudo se encaminhou. Sempre buscamos uma forma de devolver para a comunidade o que produzimos na universidade”, explica Elisângela Lacerda, professora e pesquisadora do Centro de Genética Humana.Goiás Todo RosaO projeto Goiás Sempre Rosa é realizado em quatro frentes, que serão desenvolvidas de forma concomitante. A primeira é justamente a capacitação de profissionais da Atenção Primária, como médicos, enfermeiros e agentes de saúde. “Se eles não têm a formação adequada, é possível que uma paciente chegue com uma alteração e ela não seja diagnosticada”, diz Rosemar. A segunda frente é a ampliação da rede de biópsia mamária. “Ainda é um gargalo no Brasil”, destaca a responsável pela construção do projeto.A terceira frente é dar mais agilidade para o fluxo de atendimento das pacientes entre as redes de atenção básica e especializada. “Construir o que chamamos de ‘linha rosa’. A celeridade do tratamento está diretamente ligada às melhores chances de recuperação da doença”, pontua Rosemar. A quarta frente é justamente o acesso das pacientes ao teste genético.O Goiás Todo Rosa está sendo iniciado nas Regionais de Saúde Sudoeste 1 e 2, que abrange 28 municípios com mais de 500 mil pessoas. Numa primeira etapa, serão capacitados mais de 1,1 mil profissionais da Atenção Primária para a coleta das amostras nas pacientes. A médio e longo prazo, o intuito da SES-GO é promover uma reestruturação na rede de policlínicas do estado. “O foco é na prevenção e melhoria do diagnóstico. Queremos que, aos poucos, elas (policlínicas) virem centros de diagnóstico de câncer”, finaliza Sérgio Vencio, secretário estadual de Saúde.-Imagem (1.2723874)