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Transporte coletivo na Grande Goiânia retoma crescimento

Wildes Barbosa
Movimentação no Tribunal Praça da Bíblia, em Goiânia: gestão da CMTC considera que alta nos combustíveis, retomada das atividades foram responsáveis por mudança em cenário

Um aumento na demanda de usuários do sistema de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia na ordem de 25,74% neste ano em relação a 2021, o que representa cerca de 20 milhões de novas validações nos ônibus, demonstra que os passageiros estão voltando.

No entanto, trata-se de um movimento ainda gradual, que agora chega a 68,8% do que se tinha no ano de 2019, o último período antes da pandemia da Covid-19. Para a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) esta alta de usuários tem relação com a retomada das atividades de forma integral, mas também com a alta dos combustíveis, o que favorece o transporte público, e os novos serviços tarifários implantados neste ano.

O presidente da CMTC, Tarcísio Abreu, reforça que os números são resultados de vários aspectos. “Ainda estamos vivendo um momento de pandemia, estamos em uma retomada gradual. Mas há o retorno do trabalho presencial, cada dia menos pessoas em home office, tem a questão do combustível que favorece o transporte público coletivo (que mantém a tarifa congelada desde 2019), e os benefícios que foram lançados. Nós temos em Senador Canedo um incremento de 75% do passageiro dentro da cidade e que isso continue nas outras cidades”, afirma ao citar a introdução do benefício da Meia Tarifa na cidade em 17 de setembro.

Geógrafo e mestre em Transportes, Miguel Ângelo Pricinote, coordenador do Fórum de Mobilidade Mova-se, entende que o crescimento real da demanda no sistema metropolitano ainda depende de outros fatores. “No começo do ano eu falava que não esperava um aumento de demanda e mantenho isso. O que o sistema conseguiu foi só manter o que estava antes, segurar quem já estava saindo. É um ano muito produtivo, foram tomadas medidas importantes, positivas e interessantes, tem que comemorar, mas o que vai gerar ganho é melhor infraestrutura e renovação da frota”, argumenta.

Para ele, o usuário que utilizava o ônibus até 2019 e ficou impossibilitado pela pandemia teve de conseguir uma maneira de se locomover. “Se ele conseguiu um jeito, só vai voltar se tiver um serviço melhor ou for mais viável, como a questão do combustível. Se voltar a aumentar muito, pode compensar, para quem comprou um veículo, fazer as viagens de ônibus”, avalia.

O especialista considera que, de fato, muita coisa foi realizada neste ano e o sistema deixou de ser uma “terra arrasada” onde já é possível se falar em investimentos, como em terminais e frota, mas que também é necessário finalizar os corredores, como o BRT Norte-Sul e o Corredor T-7.

O presidente da CMTC acredita ainda que o planejamento realizado desde o fim de 2021, com as mudanças na lei do sistema metropolitano, toda a reestruturação da CMTC e da Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos (CDTC), e o trabalho realizado desde fevereiro deste ano possibilitou e deu apoio ao incremento da demanda.

Dentro disso, houve para este ano um aumento consequente do número de viagens realizadas pelos veículos, que foi de 14,26% em relação a 2020 (sendo 9,66% na comparação com 2021). “Isso tem dois aspectos. O primeiro está relacionado à necessidade que o sistema teve com esse incremento de demanda”, diz o presidente da companhia.

Abreu ainda ressalta que a CMTC passou a fazer estudos relacionados a cada bacia, que é como é chamada tecnicamente cada região atingida por um terminal. Neste caso, os técnicos analisam qual a situação daquele espaço, de forma a saber quais linhas precisam incrementar ou adaptar viagens e reduzir o tempo entre elas, ou seja, aumentar a frequência.

A CMTC informa que houve um acréscimo de 183.832 viagens, o que equivale a um acréscimo na oferta de 29.413.120 lugares, enquanto que a demanda teve um equivalente a 20.017.671 passageiros. A consequência foi também um aumento de linhas, que chegaram a 288, uma a mais do que havia em 2019 e 9 na comparação com 2021.

2023

Para o presidente, além da recomposição do período antes da pandemia da Covid-19, houve também o atendimento de pedidos antigos de cidades e entidades. Ele cita, por exemplo, a linha criada a partir da demanda da associação de surdos que desejava o serviço havia 30 anos e foi possível neste ano. Com isso, as expectativas de Abreu para 2023 com relação ao sistema metropolitano são grandes.

“Conseguimos estruturar e os serviços nos dão essa percepção, a repercussão foi muito boa. Tivemos a questão do Eixo Anhanguera, que com esse trabalho realizado associado com as concessionárias tivemos aprovação dos usuários, com mais viagens e ônibus melhores.”

A intenção da companhia é que os demais serviços tarifários que foram anunciados neste ano sejam implantados a partir de janeiro, como o Meia Tarifa, o CityBus 3.0, os bilhetes semanal e diário e o Cartão Família.

“São perspectivas muito boas e, lógico, vamos ter a chegada de ônibus novos, mais modernos, e que dê também ao usuário esta perspectiva. Cabe ressaltar o apoio do governo do Estado e do prefeito e toda a região metropolitana, que tem participado ativamente desse processo”, garante. Com relação à demanda, a CMTC informa que a expectativa é que retorne aos números de 2019.

O coordenador do Fórum de Mobilidade Mova-se avalia que o mais difícil foi feito neste ano, que foi justamente a questão da governança, mas que agora é a hora do mais caro, que é o investimento.

“A governança melhorou, embora não tenha reuniões periódicas para discutir o sistema, existe a liderança do Estado de Goiás, a presença da Prefeitura de Goiânia, mas ainda falta uma participação mais efetiva das demais cidades, especialmente Aparecida de Goiânia e Senador Canedo. Para 2023, é a hora de investimento na infraestrutura, que é o mais custoso.”

Goiânia terá benefício em 2023

O serviço da Meia Tarifa, em que o usuário paga o valor de R$ 2,15 ao se locomover em linhas de curtas distâncias, ou seja, de até 5 quilômetros, deve chegar em Goiânia e Aparecida de Goiânia no primeiro semestre de 2023. Até então, o benefício já foi implementado pela Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) em quatro cidades ao longo do segundo semestre deste ano.

A primeira delas foi em sete linhas do município de Senador Canedo, no mês de setembro. Dois meses depois foi a vez de Nerópolis. Já em dezembro, os usuários das cidades de Goianira e de Trindade tiveram o Meia-Tarifa.

Goiânia e Aparecida serão as últimas cidades da região metropolitana onde o Meia Tarifa vai funcionar, já que, somadas às quatro citadas anteriormente, são os locais da região metropolitana que possuem linhas internas.

Nos outros municípios, o sistema funciona apenas com a linha direta que leva e traz os passageiros para a capital. O presidente da CMTC, Tarcísio Abreu, afirma que já neste mês de janeiro de 2023 haverá determinadas linhas e ações do serviço de Meia Tarifa nas cidades de Goiânia e Aparecida. 

“Estamos trabalhando para no início do ano ter esse benefício. É um produto que dá mais justiça, não existe mais nenhuma solução que consiga bater isso. Temos algumas linhas e ações já em janeiro. O prefeito (Rogério Cruz) é um dos mais entusiastas do Meia-Tarifa, ele sempre cobrou isso, pediu isso e Goiânia também vai ser beneficiada”, relata.

Há uma semana, Cruz chegou a afirma que para a implantação do serviço na capital faltaria um tipo de chip diferente, já que seria mais complexo tecnicamente do que em relação às demais cidades.

“Hoje estamos com condições técnicas para fazer isso e faremos ainda no primeiro semestre. Com isso, haverá mais incremento de demanda, mais serviço e que as pessoas possam fazer uso de todo esse planejamento que está sendo realizado voltado para o transporte público”, afirma Abreu.

A tendência é que as primeiras linhas do serviço nas duas cidades tenham realização de acordo com o que ocorreu nos municípios onde o serviço já opera, ou seja, em trajetos que saem dos terminais. Deste modo, haveria a abertura das catracas na entrada dos locais para essas linhas específicas, de modo a fazer com que os usuários pudessem, com o uso do Bilhete Único, pagar apenas a metade da tarifa. Nos demais trajetos, seria necessário o uso da catraca nos terminais.

Novos serviços ainda dependem de tempo para gerar melhorias

Em fevereiro, quando os novos serviços tarifários foram anunciados pela Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), havia a promessa que, além do ganho de opções para o uso do transporte público coletivo, haveria uma melhoria na mobilidade da cidade. Um dos motivos já viria com o Bilhete Único, o primeiro serviço a ser implantado, no dia 2 de abril.

Ele permite ao passageiro o uso de quatro integrações dentro de um período de 2h30, sem a necessidade de utilizar os terminais de embarque. Com isso, havia a estimativa de que os locais pudessem reduzir a lotação, o que é uma das principais reclamações dos usuários. No entanto, oito meses depois, isso ainda não ocorreu.

Para o presidente da CMTC, Tarcísio Abreu, isso ocorre porque trata-se de uma mudança de cultura e comportamento, que às vezes leva tempo para entender. “Mas 25% dos usuários já estão com o Bilhete Único, entrando com o Meia Tarifa nas demais cidades e vemos o comportamento mudando, quando 75% de Senador Canedo está usando o Bilhete Único com a Meia Tarifa, em Nerópolis há crescimento grande também. Percebe que o usuário está começando a se beneficiar, a entender.” 

No entanto, ele confirma que a percepção hoje ainda é pequena, pois o usuário está acostumado com a integração nos terminais. “A mudança de hábito leva um certo tempo. O mais importante é que tenha o serviço disponível para usar o benefício na plenitude, precisamos sempre divulgar isso”, considera.

O coordenador do Fórum de Mobilidade Mova-se, Miguel Ângelo Pricinote, acredita que a questão dos novos benefícios merece uma pesquisa específica para verificar como está o uso, sobretudo com relação ao Bilhete Único. No entanto, em sua observação empírica, baseada em sua vivência no sistema, ele acredita que a infraestrutura dos terminais é o que faz com que a maioria dos usuários ainda prefira passar pelos locais.

“O conforto é maior do que nos pontos de ônibus, é mais seguro, é um local que tem mais informações, com as telas e com os servidores. Enquanto que nos pontos, muitas vezes, não existem as coberturas, às vezes nem mesmo a calçada. Então isso pode dificultar essa mudança no comportamento.” Em novembro deste ano, 5.788.724 validações foram feitas com o Bilhete Único, número menor que em setembro, quando 6.089.564 de viagens utilizaram o benefício.

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