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Um idoso é internado a cada 36 horas por causa de queda em Goiânia

Wildes Barbosa
Iracema Garcia, 84 anos, no Craspi: ela iniciou acompanhamento após filho perceber quedas frequentes

A cada 36 horas um idoso foi internado por conta de quedas, em Goiânia, em 2022. Foram 588 casos registrados na rede pública de Saúde da capital no período. O número teve um aumento de 34% quando comparado com 2021, ano que contou com 439 registros. A pandemia da Covid-19 influenciou na diminuição das internações do tipo nos últimos dois anos. Em 2022, a Prefeitura de Goiânia gastou R$ 836 mil com hospitalizações nessas circunstâncias. Desde 2019, foram R$ 4,2 milhões. Especialistas apontam que é possível prevenir quedas entre idosos e amenizar as estatísticas.

A maioria das vítimas de quedas é de mulheres. Em números absolutos, a faixa etária com idade entre 60 e 69 anos é a mais afetada. Entretanto, o risco de queda aumenta conforme o avanço da idade (confira quadro). O tipo de queda mais comum é sem especificação, depois aparecem as quedas do mesmo nível por conta de escorregões, tropeços e passos em falso.

Em 2017, Goiânia registrou 758 internações de idosos por quedas. Em 2019, foram 953. O crescimento no volume tende a acompanhar o aumento da expectativa de vida da população.

Entretanto, a técnica da Diretoria de Políticas Públicas em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Cheila Lima, explica que o pico de casos em 2019, quando foram registradas 1,2 mil internações, pode ter relação com uma melhora na qualidade do registro. “Da mesma forma, a queda das internações em 2020 e 2021 se associa com a pandemia da Covid-19, quando a prioridade das internações foram dadas para esta doença e várias outras coisas foram tratadas em casa”, diz.

Quando são internados por conta das quedas, os idosos podem desenvolver diversas complicações, que vão desde demência até dificuldades de locomoção irreversíveis. As fraturas mais comuns dentre os idosos internados por quedas costumam ser na região femural, o que reduz a mobilidade dessas pessoas. Os casos mais graves podem evoluir para óbito. Em Goiânia, entre 2019 e 2021, 599 idosos que estavam internados por conta de quedas, morreram.

O geriatra e diretor médico do Hospital Estadual de Dermatologia Sanitária e Reabilitação Santa Marta (HDS), Cristhiano Holanda, esclarece que as quedas estão entre os cinco maiores riscos da especialidade médica. “A incidência é muito maior que o restante da população. A cada três idosos, um vai cair. A cada 20, um deles vai cair e ainda vai sofrer uma fratura ou traumatismo craniano”, alerta.

Prevenção

Holanda destaca que uma queda costuma ser multifatorial, mas que existem formas de prevenção. “É preciso adaptar a casa dessas pessoas. É importante evitar, por exemplo, tapetes e móveis baixos”, aponta. Também é importante que o idoso mantenha os acompanhamentos médicos em dia. “É essencial cuidar de alterações visuais e auditivas, além de seguir os tratamentos de doenças crônicas. Tudo isso melhora a interação deles com o meio”, diz.

Os idosos sofrem com a sarcopenia, caracterizada pela redução da força e da massa muscular, o que dificulta ainda mais a mobilidade do grupo. “Por isso, eles precisam se exercitar para fortalecerem a musculatura e, literalmente, conseguir vencer a gravidade na hora de se levantarem do sofá e até se locomoverem”, relata.

Atenção Primária

O titular da SMS de Goiânia, Durval Pedroso, explica que o trabalho desenvolvido no Centro de Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (Craspi) da capital (leia mais ao lado) será replicado nas Unidades de Saúde da Família (USFs) do município. “Nossa estrutura de atendimento geriátrico não dá conta de todo mundo. Muitas pessoas têm dificuldade de deslocamento até o Craspi, por exemplo. Por isso, queremos trabalhar a prevenção das quedas dentro da Atenção Primária, que é aquela que está mais perto da comunidade”, afirma.

Pedroso aponta que a pasta municipal tem trabalhado no desenvolvimento do Programa Vai Idoso, realizado dentro das USFs. A ação visa a estimular a prática de atividades físicas no grupo dos idosos, além de repassar orientações para este público sobre assuntos diversos. “Estamos com um piloto do programa em atividade na USF São Carlos e tem dado certo. É importante lembrar que a prevenção é sempre mais barata do que o tratamento. Além do custo, também estamos falando do aumento da qualidade de vida dessas pessoas, que vão ter menos chances de se acidentarem, ficarem internadas e até morrerem.”

 Atendimento é multidisciplinar 

O atendimento promovido pela Prefeitura de Goiânia no Centro de Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (Craspi) é multidisciplinar e envolve o acompanhamento de profissionais como ortopedistas, dermatologistas, nutricionistas, fisioterapeutas, educadores físicos e até dentistas. A unidade chega a fazer em torno de 4,8 mil atendimentos por mês e os pacientes chegam ao local via regulação municipal. O primeiro atendimento ocorre na rede de Atenção Primária. 

Há dois anos a aposentada Iracema Garcia, de 84 anos, é tratada no Craspi. O filho dela, Celso Garcia, de 57 anos, procurou o local justamente depois da mãe começar a sofrer com diversas quedas. As mais graves aconteceram no fim de 2020 e início de 2021. “Nas duas vezes ela estava no quintal, se levantando de uma cadeira, quando caiu. Em ambos os casos ela bateu a cabeça e precisou ir para o hospital, onde foi submetida a tomografias”, explica Celso.

No primeiro semestre de 2021 ele conseguiu uma vaga para que a mãe se tornasse paciente do local, que frequenta uma vez por semana. “Desde então, ela fez acompanhamento com vários médicos. Mexeram em várias medicações e atualmente ela está ótima. Nesta quarta-feira (10), fizemos a terceira sessão de fisioterapia e ela tem evoluído”, conta.

Há alguns anos, Iracema caiu, trincou um osso do pé e chegou a ficar dois anos sem andar. “Ela sofre com demência e Alzheimer. Na época, mesmo depois de recuperada, ela colocou na cabeça que não podia ainda e não andou. Foi uma luta para ela voltar. Hoje em dia, em casa até que ela vai bem. Porém, na rua é mais complicado. Ela ainda sente muito medo”, relata.

O tratamento da mãe é visto como uma prioridade para Celso, especialmente depois da morte do pai, em 2017. O homem sofreu uma queda quando estava indo do quarto para o banheiro durante a noite. 
O medo de cair e desenvolver complicações levou a dona de casa Maria Soares, de 71 anos, a procurar acompanhamento médico. Ela possui uma degeneração na rótula do joelho direito e sofre com dores rotineiras. “Ando muito com o meu marido para ir ao médico e fazer exames. É tudo a pé ou de ônibus. Daí, dó demais”, relata.

Há cinco meses, quando começou o tratamento no Craspi, Maria conseguia ficar apenas quatro minutos se exercitando em uma bicicleta ergométrica. Atualmente, ela já alcança os 25 minutos de exercício no aparelho. “Minha disposição é outra. Minhas dores diminuíram muito”, alegra-se a idosa.

Maria frequenta o local duas vezes por semana e faz sessões de atividades físicas que duram uma hora. Além da bicicleta ergométrica, ela faz caminhadas com tornozeleiras e exercícios destinados para os membros superiores. “O intuito é fazer com que ela tenha a musculatura cada vez fortalecida para poupar a sobrecarga nas articulações”, explica a educadora física, Leonice Ferreira.

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