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Vítimas de acidente no RapMix Festival acionam Justiça por indenizações

José Washington/TV Anhanguera
Rampa do RapMix que desabou durante evento no estádio Serra Dourada quando pessoas a atravessavam

Duas pessoas já entraram com ações indenizatórias por danos morais contra as empresas envolvidas na organização do RapMix Festival, ocorrido em 9 de julho deste ano. Durante o evento, realizado no Estádio Serra Dourada, uma rampa desabou e deixou dezenas de pessoas feridas. Outros participantes do festival, inclusive a jovem que sofreu traumatismo craniano e ainda está hospitalizada, também pretendem entrar com processos na esfera cível.

O jornalista Augusto César Araújo, de 24 anos, entrou com uma ação por danos morais contra a Audiomix Eventos, GR6 Eventos e Winner Records e Mídia. No processo, as advogadas Laiser Portilho e Wellen Monara afirmam que ele é fã do estilo musical e que gastou 341 reais no ingresso para o RapMix.

No momento em que a rampa caiu, Augusto bateu o rosto em parte da estrutura, lesionando também os cotovelos, mãos, dedos, joelhos e tornozelos, gerando diversas escoriações em seu corpo. Segundo o processo, ele não conseguiu atendimento médico e, posteriormente, não foi procurado pela organização do evento. Ele pede R$ 15 mil de indenização.

O atleta João Pedro Ribeiro Pacheco, de 23 anos, também entrou com uma ação por danos morais contra a Audiomix Eventos e a GR6 Eventos. Ele pede R$ 5,1 mil, valor 30 vezes maior do que o pago pelo ingresso. Assim como Augusto, o jovem reclamou da falta de atendimento médico no local e de suporte das empresas organizadoras do evento posteriormente.

A advogada de João Pedro, Ana Clara Pacheco, conta que quando ele caiu, além de sofrer diversas lesões corporais, perdeu o celular. “Não deixaram ele voltar para procurar. Pediram que voltasse no outro dia, mas ele não conseguiu o aparelho de volta. Conseguimos rastrear e localizamos ele em Senador Canedo”, relata.

Mais grave

A estudante de Biologia Giovanna Moreira Salerno, de 20 anos, foi uma das vítimas com maior gravidade da queda da rampa. Ela ficou internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências de Goiás (Hugo) por 16 dias, correndo risco de morte. No dia 26 de julho, ela foi encaminhada para o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) devido ao traumatismo craniano sofrido e ao tempo passado em coma.

O advogado da jovem, Hebert Valentim, destaca que a família dela também pretende entrar com uma ação por danos morais contra a organização do evento, já que a jovem provavelmente irá precisar de home care. “Existe uma perspectiva de alta para o fim deste mês. A mãe dela está afastada do trabalho para se dedicar a ela”, pontua Valentim.

O advogado aponta que a ação indenizatória será baseada na extensão dos danos causadas à saúde de Giovanna. “Entretanto, o que mais causa perplexidade é o fato de que, em nenhum momento, as empresas organizadoras entraram em contato com a família dela para prestar qualquer tipo de apoio”, esclarece.

Valentim também representa a recepcionista Eduarda Muniz Silva Santos, de 18 anos. Ela, que sofreu uma fratura na coluna, irá ajuizar uma ação cível contra as organizadas do evento até o fim da próxima semana. “Ela está recebendo auxílio-doença, mas está fazendo o uso de um colete e não pode ficar muito tempo em pé. Está com a saúde frágil”, argumenta o advogado.

Ao jornal, outros quatro participantes do festival disseram que pretendem entrar com ações indenizatórias contra a organização do RapMix. Uma delas é a designer de cílios Gabrielle Cristina de Souza Cotrim, de 21 anos. Ela fraturou um braço, que precisou de cirurgia, e o nariz, que também precisará ser operado. A jovem diz que não sabe quando conseguirá voltar ao trabalho. “Eles (organizadores) não deram apoio nenhum”, finaliza Gabrielle.

A reportagem entrou em contato, por e-mail, com as três empresas citadas, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

Responsáveis serão ouvidos pela Polícia Civil em São Paulo

O engenheiro e o arquiteto que atestaram a segurança da rampa do RapMix Festival por meio do Registro de Responsabilidade Técnica (RRT)e a empresa terceirizada para a montagem da estrutura serão ouvidos pela Polícia Civil em São Paulo.

O delegado responsável pelo caso, Thiago Martimiano, da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), explica que tanto os profissionais quanto as empresas são de São Paulo e, por isso, foram enviadas cartas precatórias para que todos sejam ouvidos em Santo André, São Bernardo do Campo, São Miguel Arcanjo e São José do Rio Preto.

“O pessoal da organização do evento ainda não foi ouvido, dois estavam inclusive no exterior”, explica o delegado. Martimiano conta que foi pedido dilação (prorrogação) do prazo do Inquérito para podermos cumprir as diligências restantes. “Ao todo, cerca de 70 vítimas já foram ouvidas”, pontua.

É essencial esclarecer se os profissionais (engenheiro e arquiteto) eram ligados à empresa de montagem ou se foram contratados especificamente para o serviço no RapMix.

No dia 27 de julho, foi divulgado o laudo pericial feito na rampa desabada no RapMix. A constatação foi de que a montagem da estrutura foi feita de forma improvisada, o que teria sido a causa determinante da queda.

A perícia feita pela Polícia Técnico-Científica teve início no dia 10 de julho, um dia após o evento. Em comparação com o projeto estrutural, ficou evidenciado que a rampa foi montada de forma incorreta e não seguiu o manual de montagem.

A causa do desabamento foi especificamente a maneira como a rampa foi montada. Isso porque a inclinação ficou além do que era previsto no projeto, de 10%, e passou a ser o dobro, de 20,5%. Com isso, o comprimento da passarela também foi reduzido de 25 metros para 20 metros, além de uma angulação inferior ao que deveria ter sido feito, de 90 graus, ficando em 78 graus. A técnica errônea resultou na falta de estabilidade na estrutura.

Mesmo com irregularidades, o engenheiro e o arquiteto atestaram a segurança da estrutura. A responsabilização criminal de ambos os profissionais já é tida como definida por Martimiano. Quando a tipificação, apenas ao final do inquérito será possível dizer se a modalidade será lesão corporal culposa ou com dolo eventual.

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