Minha dica é...

Poesia para adoçar o dia

Arquivo Pessoal
Joaquim enviou duas lindas poesias feitas por ele para melhorar o dia dos leitores do 'Meu Daqui'

Poeta e estudante pré-vestibular, Joaquim Paranhos de Menezes enviou para o ‘Meu Daqui’ uma bela sugestão para um fim de tarde: poesias.

Joaquim, de 20 anos, começou a se aventurar aos 13 no mundo das palavras. Desde então, não parou mais. Já publicou suas linhas em blogs, concursos de poesias e resolveu compartilhar um pouco com os leitores do Daqui.

Motivo? Resgatar um pouco aquela delícia das décadas anteriores, nas quais também era possível encontrar grandes poetas nas páginas do jornal. Que tal, nas páginas da internet?

Delicie-se com as poesias abaixo:

Elegia da razão plena

Deixai vós e vossas imperiosas mãos,
Que tudo criam e arquitetam,
Deixai que se faça o desfazer
De um vão do eu
Em um eu vão.
Erguei, portanto, a imensidão
Da morada onde se desvive
Um mísero bocado, um mero tanto.
E dessa desconstrução, portanto,
De um espaço de dentro do eu de dentro
Permiti, com permissão matemática,
Que me esconda, por vezes e na prática,
Como se escondem em surrealidade
Plenamente racional e plena
Os complexos por natureza 
Complexada e meio amena.

Ah, vossa bondosa onipotência,
Que tudo arquiteta e tudo levanta,
Que a criação embala,
Como Ele embala o filho em Manta,
Permiti que vezes se me faça lógica,
A mesma, nevrálgica,
Com que se faz um axioma!
Dizei-me, quando dizeis a um carcinoma
A sua impossibilidade em ser, 
Assim simplesmente, um carcinoma.
Dizei-me a irrealidade da soma
Entre o real e o imaginário!

E vede, assim, com vossa imperiosa visão,
Que a bondade há de me dar - vossa benção! -
Humildes vistas para que veja, 
Em reclusa desvida,
Desvivida na vivência de um vão do eu,
O infinito de alguns metros de breu.
Vistas que ao infinito sejam tendenciosas,
Em tudo e um pouco,
E que lá, somente, 
Sejam igualmente preciosas...
Permiti-me ver profundamente oco,
Para que o engasgar das linhas,
Sempre infinitas e que nunca engasgam,
Não parta as irmandades minhas,
Como a dos outros se partem e se separam!

Vós-que-construís, sabei!,
Que de vossa habilidade também incomparável
Em descriar e inconstituir bem sei.
E peço, pois, que a afável
Vossa onipresença - por já ser tão presente
Não vos afetaria um meio ser a vós ausente -
Conceda-me de mim alguma ausência:
Semelhante àquela em que reside
A improvável ciência
Que não é coesa a vossa coesão.
Criai onde em meu eu
Não se exista um pouco...

E a sós, e então,
Ficaria com a existência 
Da soma de imaginação 
E realidade real;
Da incompletude dos três e seis e setes;
Da razão irracional 
Deambulando num ou noutro infinito;
Das trissecções das visões 
E dos ângulos, sob quadrada circularidade,
Em que existiu Hípias e existiu Dinóstrato;
Da plenitude dos carcinomas e melanomas,
Vítimas de vosso frio maltrato;
Da plenitude lógica dos axiomas;
Da longa extensão do imediato;
De um aço duma vossa estrutura
Que não se faça da gente
(Eu, eles, nós e vossa usura!)


Ode a um poeta qualquer 

Não tira do todo nada
Que não faça o nada alguma
Ou coisa, ou tudo, ou nenhuma
Falha que finde esta estrada.

De toda a matéria escura
Faz a decomposição.
Faz d'algébrica estrutura
Vernácula imensidão!

Cospe, e tosse, e espirra o escarro
Feito de barro por Mãos,
E suja o sujo sujeito
Universal entre os vãos! 

O dicionário das palmas
Retalha; digere e come
Aquele que estica o abdome
Da fome de rasas almas.

Que mais água tem a tinta,
De um sangue que nada pinta
E não pintando fenece
O vazio... se conhece.

Também se vê, claramente,
Ser feito dos tons, em tudo,
Centrípeto tom agudo,
Doente, e não é doente!

Este ou aquele, um algum,
Faz-se um, pois em estrada,
A mesma de qualquer um,
Faz tons a falha, faz nada.
E nunca deixa entrevada
Toda a lacuna no todo,
E faz do todo esta estrada.

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