Foram 35,2 mil trabalhadores contratados em 2024 para atender, principalmente, a demanda recorde de 200 obras em andamento só na capital
As empresas de construção civil no estado contrataram 85% mais trabalhadores em 2024 que no ano anterior para atender, principalmente, a demanda de cerca de 200 obras em andamento só em Goiânia, um recorde histórico. Mesmo assim, por conta da pujança do mercado imobiliário em Goiás, as construtoras e incorporadoras ainda têm milhares de vagas abertas e reclamam da grande dificuldade para contratar mão de obra especializada. A estimativa da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário em Goiás (Ademi-GO) é que mais 5 mil vagas sejam abertas neste ano.
Um estudo feito pela Grupom Consultoria Empresarial, com base em dados do Cadastro Gera de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, mostrou que foram 35.281 contratações com carteira assinada no ano passado. As funções que registraram maior crescimento do emprego formal sobre 2023 foram faxineiro (494%), servente (385%) e pintor (44%). A maioria das contratações ocorreu nas cidades de Aparecida de Goiânia, Anápolis e Goiânia, que representaram 59,9% da mão de obra contratada.
Para o diretor sênior da Grupom Consultoria Empresarial, Mário Rodrigues Filho, a falta de mão de obra é uma das causas da explosão nas contratações com carteira assinada. "As empresas reclamam muito da falta de profissionais qualificados, como pedreiros e mestres de obras, funções que requerem uma qualificação mais demorada e experiência", destaca. Leva muito tempo para ter um mestre capaz de exercer a função em sua plenitude.
"Uma grande demanda, por exemplo, é por um bom carpinteiro que saiba mexer com a obra", cita Rodrigues. Mario Rodrigues Neto, diretor executivo da Grupom, lembra que a demanda por profissionais cresceu rapidamente e não houve tempo para que pessoas entrassem na esteira de formação em tempo hábil. O crescimento exponencial das contratações com carteira assinada em 2024 na capital e interior, com destaque para a região metropolitana, foi alavancado por um grande número de obras.
"Goiás está explodindo em busca de mão de obra, inclusive com projetos parados por falta de trabalhadores", ressalta Neto. Segundo eles, a expansão imobiliária, principalmente com a verticalização, é a principal responsável por este aumento da demanda. "No interior, onde as cidades não tinham prédios com mais de dois pavimentos, agora têm espigões com mais de dez andares", ressalta.
Vale lembrar que o levantamento inclui apenas as contratações com carteira assinada nas empresas do ramo. Porém, a escalada nas contratações ainda não foi acompanhada pela massa salarial na mesma proporção e muitos profissionais preferem ser autônomos. Com a pujança do mercado imobiliário goiano, as empresas ainda têm milhares de vagas abertas e novos lançamentos já são impactados pela disponibilidade de pessoal, completam os executivos.

Ampliação das contratações na construção (Arte O Popular)
Várias funções
Com quatro obras em andamento na capital e outras cinco no interior e no Mato Grosso, em 2024, a Toctao Soluções em Engenharia contratou 25% mais trabalhadores que no ano anterior, para cargos administrativos, como engenheiros e chefes de escritório, e operacionais, como pedreiros, carpinteiros e serventes. Mesmo assim, o diretor de Produção da empresa, Guilherme Rodrigues, conta que ainda tem 23 vagas em aberto para várias funções, como engenheiro, servente, eletricista e encanador.
Segundo ele, está difícil encontrar mão de obra porque o mercado de Goiânia está bem aquecido. "No Mato Grosso, perdemos muita mão de obra para o agronegócio. Em Goiás, perdemos para a própria incorporação imobiliária, que está bem aquecida, com muitos canteiros de obras na cidade", conta. Um grande concorrente é a informalidade, pois muitos profissionais preferem trabalhar em obras particulares para continuarem recebendo benefícios sociais, como o Bolsa Família.
O diretor da Toctao lembra que são muitas casas em construção em ruas e condomínios fechados hoje. Como não trabalha com mão de obra informal, para atrair trabalhadores, a empresa oferece benefícios como tratamento de saúde e odontológico através do Serviço Social da Indústria da Construção (Seconci Goiás). "Também oferecemos cursos em parceria com o Senai. No momento, estamos formando uma turma de 15 eletricistas, que eram serventes", conta.
Em 2024, a Consciente Construtora e Incorporadora fez 505 contratações, sendo 435 vagas para o operacional de obras. A empresa avalia o ano como positivo, com a expansão e continuidade das obras. Mas o diretor de engenharia da incorporadora, Humberto Dutra, alerta que o desafio de qualificação da mão de obra permanece e, por isso, a empresa tem investido muito nesta área. "Temos programas internos de capacitação e treinamento, buscando não apenas suprir a demanda do mercado, mas manter a qualidade construtiva. Precisamos de capacitação para termos equipes focadas e fortalecer a implementação de tecnologias que otimizem mais nossos processos construtivos", ressalta.
Com 56 anos, o pedreiro Raimundo Amorim trabalha na construção desde 1993. Ele é natural de Parnaíba (PI) e está em Goiânia há 16 anos, para onde veio em busca de melhores condições de trabalho. Ele lembra que começou como servente, mas foi aprendendo novos ofícios na prática e galgando funções. "Primeiro, fui carpinteiro e, agora, pedreiro", destaca. Para ele, a maior vantagem da construção civil é que o mercado não para e sempre tem oportunidades de trabalho.
Além disso, hoje a pessoa pode escolher onde trabalhar, pois o mercado está aquecido e há muitas vagas. "O vento está a favor. As empresas estão disputando os funcionários. Um pedreiro já ganha cerca de R$ 4,5 mil e não falta trabalho para os bons profissionais", comemora. Ele conta que passou alguns anos trabalhando na informalidade, mas voltou para o trabalho formal pela estabilidade.