Quem estava em campo ou à beira dele no 1º jogo do Serra relata impacto do estádio no esporte goiano e o sentimento de ser parte da história
A inauguração do estádio Serra Dourada, 50 anos atrás, foi o pontapé para o crescimento do futebol goiano e de clubes de Goiânia, principalmente. O dia 9 de março de 1975, assim como em 2025, um domingo, registrou o primeiro jogo do principal palco do esporte no Estado. A vitória, de virada, por 2 a 1 da seleção goiana sobre Portugal, em amistoso, foi o começo de um novo capítulo para o esporte no Estado. É o que diz quem esteve em campo há cinco décadas.
O futebol goiano já escrevia sua história e os principais clubes do Estado davam passos no cenário nacional. O esporte crescia a cada ano, assim como a população goianiense. Assistir jogos no estádio Olímpico, no centro da cidade, era um dos momentos mais aguardados pelos torcedores.
Com o passar do tempo, a evolução dos times e os adversários de peso cada vez mais frequentes, como o Santos de Pelé, a Academia de Futebol do Palmeiras, o Flamengo de Zico e outros, o Olímpico ficou pequeno para o futebol goiano.
Entre os jogadores que entraram em campo pela seleção goiana na inauguração do Serra Dourada, como titulares ou substitutos, Macalé, Alexandre Neto, Matinha, Paghetti, Lincoln, Raimundinho, Tuíra e Lucinho eram atletas do Goiás. Nilson e Lula defendiam o Goiânia. Lúcio Frasson e Fernandinho eram jogadores do Vila Nova, e Piorra era do Atlético-GO. O técnico era Paulo Gonçalves, que estava no Goiás à época.

Seleção goiana que enfrentou Portugal na inauguração do Serra Dourada em 9 de março de 1975 (O Popular)
"A minha geração de jogadores do Goiás, Atlético-GO, Goiânia e Vila Nova tem plena consciência de que nós fomos a motivação para a construção do Serra Dourada, por causa do crescimento dos clubes. Nos jogos grandes contra Corinthians, Palmeiras, Santos, Flamengo, ficava o dobro de pessoas do lado de fora do Olímpico", comentou o ex-zagueiro Macalé, hoje com 79 anos e titular na seleção goiana.

Da esquerda para a direita, Paulo Gonçalves, como técnico, e Matinha e Macalé, como atletas, estavam no 1º jogo (Diomício Gomes)
A obra do Serra Dourada foi rápida. Em menos de dois anos, desde o início da construção, o principal palco do futebol goiano ficou pronto e foi entregue para inauguração, há 50 anos.
O engenheiro Lamartine Reginaldo foi o responsável por coordenar a obra idealizada pelo governador Leonino Caiado, primo do atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
"Lembro de um jantar com o governador Leonino, não me recordo o ano, acho que foi no começo de 1973. Ele prometeu que ia construir um estádio que mudaria a história do futebol goiano. Dizia que o futebol goiano precisava de um campo que fosse visto pelo Brasil inteiro", contou o ex-volante Matinha, que está com 74 anos e também foi titular da seleção estadual naquele domingo de inauguração.
O período de obras aumentou a ansiedade na população. "Os jogos eram no Olímpico, mas, depois de 1973, todo mundo sabia das obras do Serra Dourada. Então, a expectativa crescia. No dia da inauguração, tudo deu certo. O ambiente era muito bom, clima de festa. Foi um momento único viver tudo que envolveu aquele jogo", disse o ex-técnico Paulo Gonçalves, aos 88 anos. Ele foi responsável por convocar e comandar a seleção goiana contra Portugal.
Os relatos são de que a convocação da seleção goiana ocorreu cerca de 20 a 30 dias antes da partida pelo técnico Paulo Gonçalves, que comandava o Goiás à época. A equipe fez alguns treinos antes do jogo inaugural, marcado para o dia 9 de março de 1975, às 16 horas.
"Quando pisei na grama, tive um momento de euforia. Isso me deixou descompensado, meu coração disparou. Estava ofegante, lembro como se fosse ontem. Precisava respirar um pouco e fiquei 'tranquilo' quando o governador Leonino começou a discursar. Pensei, agora fico calmo. Mas ele foi muito breve, falou algo de 'apesar da oposição de alguns, entrego o Serra Dourada para alegria do povo goiano', e pronto. Quase me matou", contou Macalé, aos risos, sobre momentos antes do jogo.
Segundo quem esteve em campo, foi um bom jogo. "Foi pegado, era seleção contra seleção. É outra coisa. Os jogadores queriam mostrar serviço, mostrar dedicação. Ninguém queria perder no primeiro jogo do Serra Dourada", salientou o ex-meia Tuíra, que fez o gol da vitória da seleção goiana.
Logo aos 4 minutos de partida, Portugal abriu o placar com o meia Octávio, autor, portanto, do primeiro gol da história do estádio. Ainda na etapa inicial, aos 26 minutos, o atacante Lincoln, o Leão da Serra, do Goiás, deixou tudo igual. A virada foi sacramentada já no final do amistoso, aos 37 minutos do segundo tempo, por Tuíra.
"Foi uma jogada normal. A bola saiu do escanteio, cruzamento, o beque tirou da área de cabeça. Só que eu era atacante que batia de longe, tinha visão de jogo. Eles deram azar que a bola estava no meu rumo. Peguei de bate pronto. A bola saiu da área e já bati, foi um canudo que morreu no cantinho. O goleiro nem pulou, a área estava cheia. Ele nem viu a trajetória da bola", descreveu o ex-meia Tuíra, que hoje tem 77 anos - na partida, ele, que era jogador do Goiás, começou no banco e entrou no lugar do ex-atacante Raimundinho.
Todos os jogadores ouvidos sobre o jogo inaugural, sem exceção, disseram ao POPULAR que a inauguração do Serra Dourada foi um marco profissional e pessoal. "Quando eu era jovem, meu sonho era jogar no Maracanã. Quando entrei no Serra Dourada, lotado, pela primeira vez, lembrei desse sonho e me senti realizado. Eu nunca tinha visto algo parecido e me senti realizado", disse o ex-zagueiro Macalé.