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Documentário sobre Nelson Freire, de João Moreira Salles, volta aos cinemas

Obra produzida em 2003 é relançada em homenagem ao pianista mineiro, que morreu no Rio de Janeiro em 1º de novembro, aos 77 anos

Folhapress

Modificado em 21/09/2024, 00:23

O pianista Nelson Freire atuando no documentário dirigido por João Moreira Salles

O pianista Nelson Freire atuando no documentário dirigido por João Moreira Salles (Divulgação)

Estamos na casa da pianista Martha Argerich em Bruxelas, no começo dos anos 2000. Ela e Nelson Freire, muito amigos desde a juventude de estudos em Viena, se preparam para um dueto de pianos em um festival no sul da França, que aconteceria alguns dias depois.

"E isso aqui? Vamos ler?", ele diz sobre um livro de partituras que pega em meio aos papéis espalhados sobre o piano de cauda. "Não sei, nunca vi", responde ela, sem entusiasmo, sobre "Bailecito para Dos Pianos", de Carlos Guastavino, argentino como Argerich. "Só uma vezinha", insiste o brasileiro.

Cada um ao seu piano, dedilham as primeiras notas, hesitam, parecem brincar diante do desconhecido --tendo como amostra apenas aqueles segundos de execução, é difícil acreditar que sejam dois dos maiores pianistas que os séculos 20 e 21 viram.

Não demora, porém, para que a interpretação ganhe corpo e, cinco dias depois, Freire e Argerich apresentam a peça de Guastavino de modo extraordinário em um teatro lotado.

Filmar na casa de Argerich foi um dos maiores desafios de "Nelson Freire", segundo João Moreira Salles, diretor do documentário lançado em 2003 e que reestreia nesta semana no Rio de Janeiro e na seguinte em São Paulo. O relançamento é uma homenagem ao pianista mineiro, que morreu no Rio em 1º de novembro, aos 77 anos.

"Dizer que eles [Freire e Argerich] eram muito amigos é pouco. Era uma dessas amizades tão profundas que, quando estavam juntos, toda terceira pessoa parecia excessiva, como alguém externo à trama que não é capaz de compreender o que se passa ali. Ficamos uma noite inteira na casa dela em Bruxelas --Argerich trocava o dia pela noite-- e foram horas muito penosas, cheias de dedos, de cuidados", lembra o diretor a este repórter.

"Não que ela não nos tenha recebido bem, recebeu sim, abriu as portas, mas era impossível não se achar um intruso. Quando os dois tocavam uma redoma se fechava sobre eles. Nós ficávamos de fora."

Para aumentar a tensão sob aquela aura de intimidade, Salles e Toca Seabra, diretor de fotografia, deixaram o gato de Argerich fugir. "Acho que ela não percebeu. O sol nascia em Bruxelas e nós zanzando pelas ruas sussurrando 'bichano, bichano'. Bichano voltou sozinho."

Há um aparente paradoxo no comportamento de Freire nessas passagens na casa da pianista, que estão em "Martha Argerich" e "Primeira Leitura", dois dos 31 blocos temáticos que compõem o documentário. Ele demonstra contentamento ao lado da amiga de uma vida inteira, sorri algumas vezes, mas, entre um trago e outro do cigarro inseparável, jamais perde um certo recato.

Em um tempo em que cantores e instrumentistas, da música clássica ou popular, se promovem em redes sociais e programas de TV e rádio, Freire seguia no contrafluxo. "Quando te põem acima da música, já distorce tudo", disse o pianista em conversa com o diretor.

A proximidade entre o pianista e a equipe de Salles, indispensável para a realização do filme, foi conquistada aos poucos --e não poderia ser de outra forma no caso de um homem tão reservado.

"Tenho a impressão que ele aceitou fazer o filme porque percebeu que não tínhamos pressa, que estávamos dispostos a deixar o tempo correr e esperar pelo momento oportuno, a hora em que ele passasse a se sentir à vontade comigo e com a equipe", afirma o diretor.

"Começamos filmando à distância. Só com o tempo aproximamos a câmera, o que, no caso, equivalia a dizer 'agora somos amigos'. O Nelson era assim. Se existia afeto, tudo ia bem. Se não existia, ele se fechava. Nós o acompanhamos por quase dois anos. Com grandes intervalos, é verdade, mas o convívio durou todo esse tempo."

Visto quase duas décadas depois da sua estreia, "Nelson Freire" volta a chamar a atenção pelas interpretações precisas e tocantes de peças de compositores como Bach, Brahms e Villa-Lobos. Também ressalta a ligação misteriosa de pianista e piano; horas antes de um concerto, ele se refere ao instrumento como "criatura", com quem pode, em alguns casos, estabelecer uma relação de "antipatia mútua".

Saltam aos olhos ainda as imperfeições técnicas, como a câmera que às vezes treme e a presença irregular da luz. Trabalhar com uma equipe pequena, com poucos equipamentos, foi uma opção de Salles para não incomodar o pianista.

"Equipe numerosa, muita luz, tudo isso é uma forma de intromissão. A gente filma nas condições dadas, não nas condições ideais. Documentário --ou melhor, esse tipo de documentário-- é isso. Faz-se a imagem possível", afirma o diretor.

"Imperfeições são a moeda corrente do gênero e decorrem de uma escolha. O que importa mais, estar lá na hora certa para registrar um momento frágil, capaz de se desfazer ao mínimo toque, ou abdicar de certos registros --Nelson Freire andando pelas coxias minutos antes de um concerto, por exemplo-- em nome de um controle maior da cena? Claro, essa escolha existe num gradiente. Se as condições dadas forem demasiadamente críticas, não intervir será uma má aposta."

Ele continua. "Some-se a isso o fato de que o filme foi rodado em película, um suporte menos flexível do que o vídeo, e só tenho elogios ao trabalho do Toca Seabra, o fotógrafo do filme."

Ao responder sobre mudanças de percepção do documentário hoje em relação ao filme que ele concluiu no início da década de 2000, Salles fala sobre o Brasil, um outro país desde então.

"De lá para cá o Brasil mudou muito. No Nelson, afora o talento --de resto um bem dado, não conquistado--, eu admirava o recato, a falta de espalhafato, a solene responsabilidade com o trabalho bem feito. Uma vida paradoxalmente silenciosa dedicada à produção de beleza. Hoje tudo isso é ainda mais necessário do que em 2002. Certamente me comove mais."

*

NELSON FREIRE

Quando reestreia nesta quinta (25/11) no Espaço Itaú de Cinema do Rio e em 2/12 no Espaço Itaú de SP

Produção Brasil, 2003, 1h42min

Direção João Moreira Salles

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Xuxa diz que evitará sertanejos bolsonaristas após voto em Lula

Em entrevista ao jornal Extra, a apresentadora diz que agora precisa se preocupar com quem vai trabalhar com ela para evitar constrangimentos

Modificado em 20/09/2024, 06:27

Xuxa completou 60 anos em março deste ano.

Xuxa completou 60 anos em março deste ano. (Reprodução/Redes Sociais)

Xuxa Meneghel sabe que pode ter criado inimizades após fazer campanha para Lula nas eleições. Em entrevista ao jornal Extra, a apresentadora diz que agora precisa se preocupar com quem vai trabalhar com ela para evitar constrangimentos. É o caso dos artistas sertanejos.

"Era naquilo que eles acreditavam", disse, se referindo a Jair Bolsonaro, do PL. "Tenho um programa e vou entrevistar um sertanejo. Como vou conversar com essa pessoa? Logo eu que não tenho papas na língua. O futuro está diferente, e sei que não vou conseguir ficar quieta."

"Sempre fui apolítica. A minha política sempre foi a das crianças. Mas me senti na obrigação quando achei que estava passando dos limites. Era o momento de estar ao lado de pessoas que me fizeram chegar até aqui, como os gays, que são maioria no meu público. Vimos muita gente concordando com isso e não quero mais essas pessoas perto de mim", afirmou.

No final de setembro, Xuxa entrou para os assuntos mais comentados do Twitter depois de anunciar que votaria no petista, ao gravar um vídeo fazendo um "L" com a mão, vestida de vermelho.

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'Filho da Mãe', documentário sobre Paulo Gustavo, ganha primeiro trailer

Produzido pela Amazon Prime, dirigido por Susana Garcia e codirigido pela irmã do artista, Jú Amaral, o longa tem data de estreia prevista para o dia 16 de dezembro

Modificado em 20/09/2024, 06:20

O longa tem data de estreia prevista para o dia 16 de dezembro.

O longa tem data de estreia prevista para o dia 16 de dezembro. (Divulgaçao)

O documentário "Filho da Mãe" sobre a vida de Paulo Gustavo, ator e humorista que morreu em 2020 após complicações da Covid, ganhou nesta quarta-feira (16) seu primeiro trailer.

Produzido pela Amazon Prime, dirigido por Susana Garcia e codirigido pela irmã do artista, Jú Amaral, o longa tem data de estreia prevista para o dia 16 de dezembro.

Filho da Mãe chega por aq no dia 16/12, e eu tô pronto pra esse reencontro com o maioral Paulo Gustavo, SIM pic.twitter.com/euC7VAod0n --- Prime Video Brasil (@PrimeVideoBR) November 16, 2022

No Instagram, o víuvo de Paulo Gustavo, Thales Bretas, compartilhou o vídeo e afirmou: "Como disse Bial, um buraco que não vai ser tapado, e nem deve? esse filme será um reencontro com alguns momentos incríveis que fizeram da minha vida um filme! E essa saudade que fica não tem que ir embora ou mudar, ela vai ficar pra sempre no lugar especial que ela merece! Ansioso pela estreia! Muito lindo, divertido e emocionante como sempre foi, é e será nosso eterno".

Déa Lucia, mãe do ator, também compartilhou. "Quando postei eu estava aos prantos sem ter a menor condição de escrever nada. Muito sofrimento! Tiro forças na minha FÉ, saber que Juju está aqui comigo e no sorriso dos meus netos", disse emocionada.

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Globo prepara série documental em quatro episódios sobre vida e obra de Jô Soares

Filmagens começam nesta semana com recolhimento de depoimentos dos amigos do apresentador

Modificado em 20/09/2024, 03:42

Apresentador, humorista e escritor morreu, na madrugada de 5 de agosto de 2022, em São Paulo, aos 84 anos

Apresentador, humorista e escritor morreu, na madrugada de 5 de agosto de 2022, em São Paulo, aos 84 anos (Zé Paulo Cardeal/RedeGlobo)

A TV Globo prepara uma série documental que homenageia a vida e a obra do apresentador, humorista e escritor Jô Soares, morto no início de agosto. Com previsão de estreia para o fim do ano, "Beijo do Gordo" começa a ser gravada nesta semana, recolhendo depoimentos de amigos do artista.

A série terá quatro episódios e será, antes, disponibilizada no Globoplay, com o episódio de estreia sendo transmitido em canal aberto. A emissora adota, dessa maneira, o mesmo procedimento usado para as estreias de "Rensga Hits" e "Arcanjo Renegado", sinalizando investir cada vez mais em sua plataforma de streaming. A íntegra dos quatro episódios de "Beijo do Gordo" poderá ser exibida na TV aberta em 2023.

Além de examinar as diversas facetas do personagem, tão importante da história da TV ---e da própria emissora---, a Globo pretende, com o projeto, aproveitar o entusiasmo dos telespectadores com as homenagens exibidas no fim da noite de 5 de agosto, que provocaram também um aumento na audiência do horário.

O especial com esquetes de "Viva O Gordo", programa exibido entre 1981 e 1987, rendeu 14,6 pontos à emissora no Ibope. Para efeito de comparação, a série "The Equalizer - A Protetora" havia marcado 14,2 pontos nas quatro semanas anteriores. O Jornal da Globo, que foi ao ar na sequência, ainda conseguiu manter o interesse da audiência, registrando 10 pontos, melhor marca em seis semanas.

O mesmo fenômeno foi observado no SBT, onde o apresentador comandou a atração Jô Soares Onze e Meia, entre 1988 e 1999. Como forma de homenagem, Danilo Gentili recuperou em seu The Noite entrevistas com personalidades marcantes feitas por Jô na época de seu programa no SBT. A exibição de conversas com Hebe Camargo, Gugu Liberato e Carlos Alberto da Nóbrega rendeu a audiência de 3,7 pontos, contra 3,2 marcados por Gentili no mês passado.

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Marieta Severo e filha gravam depoimento sobre Daniella Perez para série documental

A escritora Glória Perez, mãe da atriz assassinada e autora da novela "De Corpo e Alma", em que Daniella e Pádua, o autor do crime, faziam par romântico, também participa da produção com longo depoimento sobre o caso

Modificado em 21/09/2024, 00:28

Glória Perez ao lado da filha, Daniella Perez

Glória Perez ao lado da filha, Daniella Perez (Instagram/@gloriafperez)

A atriz Marieta Severo, 74, e sua filha Helena Buarque, 50, participam da série documental que a HBO Max prepara sobre o caso Daniella Perez, atriz assassinada aos 22 anos por Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, então mulher dele.

No Instagram nesta terça (26), Tatiana Issa, diretora da produção ao lado de Guto Barra, publicou uma foto ao lado de Marieta e destacou que a atriz pode falar com propriedade sobre Daniella, que viu crescer ao lado de Helena.

"Lindo ver as fotos das duas pequenas, crescendo juntas, e podermos falar da Danny viva, feliz, alegre e sobretudo podermos sempre falar da força incomensurável da nossa Glória Perez, essa mãe leoa que enquanto estiver aqui irá lutar por essa filha tão amada", escreveu.

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Uma publicação compartilhada por Tatiana Issa (@tatiana_issa_)

A escritora Glória Perez, mãe da atriz assassinada e autora da novela "De Corpo e Alma", em que Daniella e Pádua atuavam como par romântico, também participa da produção com longo depoimento sobre o caso.

"Obrigada, Marieta Severo e Helena Buarque, queridas, por estarem conosco nessa empreitada por justiça, pelos lindos depoimentos e também por me receberem novamente numa casa onde fui sempre tão feliz", concluiu Tatiana Issa.

A HBO ainda não tem data prevista para a estreia. O crime aconteceu em 28 de dezembro de 1992. Na manhã seguinte, até que a identidade do assassino fosse confirmada, Pádua, já como suspeito, foi ao encontro de Glória Perez, como outros atores do elenco de "De Corpo e Alma", para consolar a autora.

Os colegas da trama, incrédulos da suspeita sobre ele, chegaram a defendê-lo, mas o dia não terminaria sem que a polícia confirmasse a autoria do homicídio, cometido a golpes de tesoura pelo ex-ator, sob cumplicidade de Paula Thomaz.

Ele foi condenado a 19 anos de prisão e ela, a 18, mas ambos deixaram a cadeia em 1999. O caso chocou o país e entrou para a história dos crimes mais famosos da história dos homicídios no Brasil, pelos requintes de crueldade e pela parceria entre os atores em uma telenovela criada pela mãe da vítima, um roteiro que soaria falso para qualquer obra de ficção.