Empatia, acolhimento, confiança, troca e incentivo são algumas das práticas que têm fortalecido o universo feminino e gerado renda, trabalho, superação e união. O 'Globo Repórter' desta sexta-feira (1º) traz histórias de mulheres que, inspiradas e incentivadas por outras, criaram projetos que reforçam a independência e liberdade feminina. As reportagens são conduzidas pelas jornalistas Ana Paula Araújo, no Rio de Janeiro; Aline Aguiar, em Belo Horizonte; Dulcineia Novaes, em Curitiba; Zileide Silva, em Brasília, e Sandra Annenberg que, além de apresentar, é responsável pelas reportagens feitas em São Paulo.“É um programa de exemplos. As mulheres ainda vivem muito à sombra do machismo, da competição feminina e o programa imprime a importância da gente se ajudar. Quando uma trabalha pela outra, todas se levantam. Todas nós podemos ser salvas pelas mãos de outra mulher. O que eu acho mais incrível é que a gente mostra histórias de mulheres que não têm medo ou vergonha de falar sobre o que estão passando, que, quanto mais compartilhamos nossas dificuldades, mais nos identificamos umas com as outras e vemos que não estamos sozinhas. Falar do nosso próprio problema é se ajudar. Precisamos expor, pedir ajuda. A importância de sermos cinco mulheres nas reportagens e ainda uma equipe técnica composta em grande parte por mulheres torna ainda mais especial. É um programa em que a voz feminina foi ouvida e falada a todo o tempo. É um programa de mulheres para mulheres”, afirma a apresentadora Sandra Annenberg.Medalhista de levantamento de peso, Aline Campeiro sempre foi uma atleta disciplinada, mas na vida pessoal tinha uma grande dificuldade em administrar bem o seu orçamento. Professora de Educação Física, ela conta à repórter Ana Paula Araújo que compensava as restrições da vida de atleta com gastos em roupas e em utensílios para casa, que muitas vezes nem eram usados.Até conhecer um projeto de mentoria financeira criado para que mulheres negras entendessem sua colocação no mercado e tivessem controle de suas finanças. Líder do projeto, Patricia Marins ensina em palestras como as mulheres devem administrar o orçamento e multiplicar o valor do trabalho que fazem, cada uma em sua área de atuação. Inspirada em sua mãe, a mentora destaca que o protagonismo feminino é para todas. “Minha mãe foi quem me deixou ser quem eu quisesse. Nós, mulheres negras, temos o direito de sermos prósperas e felizes. O projeto é uma porta aberta para que outras mulheres possam fazer o mesmo”, conta. Na comunidade Dandara, em Belo Horizonte, mulheres encontram nas ferramentas de obra a possibilidade de conquistar a sua independência. A repórter Aline Aguiar conhece o projeto que desde 2014 capacita mulheres com baixa renda para construírem e reformarem suas próprias casas e a de outras. “Eu espero que daqui a dez anos outras gerações já estejam impactadas por ações como essas. Nosso maior legado será ver mulheres multiplicadoras dessas transformações”, diz a arquiteta Carina Guedes, que criou o projeto em sua dissertação de mestrado.Na cidade de Paraisópolis, em São Paulo, Sandra Annenberg conhece Tuca Duarte, criadora do projeto que reúne mais de 120 mulheres em uma roda de conversa para trocarem experiências e se apoiarem. “É um movimento que acolhe mulheres, qualifica, capacita, puxa orelha”, brinca. “Comecei com quatro, hoje somos mais 120, cada uma com sua dor, mas que por intermédio da minha história de superação, se identificam e veem que também são capazes”, conta. Tuca viveu um ciclo de violência doméstica por dez anos e só enxergou a necessidade de buscar ajuda após conhecer uma assistente social em uma reunião na sua cidade.Quem aprende não depende é o lema do projeto que une tecnologia e criatividade para dar mais poder às mulheres em Curitiba. A repórter Dulcineia Novaes acompanha a iniciativa que forma técnicas em manutenção de computadores e em empreendedorismo digital e traz o lixo eletrônico para dentro do universo feminino. Quem comanda é Gisele Lassere, de 40 anos, com experiência em Marketing e em Finanças, que precisou vencer o machismo e o etarismo para superar as pressões do mercado. “Percebo que a principal barreira é o estigma de que a mulher não é capaz de ocupar certas posições de trabalho. Muitas chegam aqui dizendo que se sentem tão lixo quanto o lixo eletrônico. Então, a gente procura fazer uma rede de apoio e mostrar que o importante é resistir”. Após anos cuidando do pai e da mãe, um trabalho que, por muitas vezes, é invisibilizado, Adriana Silva entendeu que, para tomar contar dos pais, ela também precisava de cuidados. Em busca de mais tempo para si, voltou para a universidade para entender o envelhecimento e dividiu as tarefas de cuidados do dia a dia com os irmãos e a cunhada. Adriana faz parte do coletivo que reúne mulheres cuidadoras em prol do autocuidado. O grupo promove conversas, caminhadas, oficinas, piqueniques e tem até bloco de carnaval. “A gente muda uma sociedade quando a gente olha para a comunidade, ajudando as outras pessoas e não somente os nossos próximos. Puxar quem a gente não conhece também. Sair dessa sociedade da individualidade é contribuir para uma sociedade do cuidado”, afirma a fundadora do coletivo Cosette Castro.