Nascido há 185 anos no Morro do Livramento, na cidade do Rio de Janeiro, Machado de Assis é um dos maiores representantes da literatura brasileira. Filho de um brasileiro com uma açoriana, foi o principal fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1896, e deixou um conjunto vasto de obras, que até hoje se faz presente na vida dos brasileiros. Para mostrar a sua influência e celebrar a sua importância na literatura, o Globo Repórter desta sexta-feira (1º), revisita sua vida e obra, com o olhar do século 21. O repórter Rogério Coutinho mostra como um homem do século 19, que superou preconceitos e se tornou um dos maiores escritores de todos os tempos, ainda inspira tantos jovens a correrem atrás de seus sonhos e a buscarem forças nas palavras e na construção de histórias.Morador do Morro do Castro, no município de São Gonçalo, região Metropolitana do Rio de Janeiro, o jovem Lucas Luciano, de 20 anos, fala ao programa sobre como Machado de Assis o inspira. Ele tem um livro publicado que retrata o lugar onde nasceu e vive até hoje. O repórter Rogerio Coutinho viaja pela história do escritor e mostra como a trajetória do gênio das letras abre caminhos e oportunidades para diversas gerações. Como o ator, diretor, dramaturgo e professor Clayton Nascimento, que no ano passado se tornou o mais jovem brasileiro a vencer o Prêmio Shell de Teatro com o monólogo "Macacos". Na peça, na qual ele aparece sem camisa e rabiscado de batom, ele fala sobre episódios de racismo ocorridos desde a fundação do Brasil até a atualidade, com relatos protagonizados, inclusive, por Machado de Assis. Ao repórter, Clayton fala sobre a sua relação com a literatura e com o escritor, desde a infância. “Eu sou filho de bolsas, mas só estudei em escola pública. Minha primeira escola, ainda no ensino infantil, se chamava Emef Machado de Assis, no Jabaquara. E anos depois eu vim descobrir a potência e a importância do bruxo do Cosme Velho. Se não tivéssemos Machado abrindo caminhos, trazendo a importância da literatura brasileira, do saber articular as palavras, não sei se teríamos <FI10>Macacos</FI>. Ter um dos nossos ícones sendo uma pessoa preta, que nasceu na favela do Livramento, com pai pintor e mãe lavadeira, é um mar de esperança e de possibilidades”, conta.Na Rocinha, uma das maiores favelas do Brasil, Tatiana Lima comanda um jornal comunitário. A jovem conta a Rogerio Coutinho que sua jornada se cruza com Machado de Assis na permissão do sonho. “Eu também escrevo crônicas, edito um jornal, quem sabe um dia eu também possa escrever um livro?”. No Méier, Zona Norte do Rio, o livreiro Ivan Costa conduz um espaço de literatura, arte, cultura e resistência, inspirado na garra de Machado. O jogador de futebol Gustavo Scarpa, do Clube Atlético Mineiro, soma 1,3 milhão de seguidores nas redes sociais e se tornou uma referência de leitura. O atleta já leu ao menos 100 livros e conta que esse hábito se tornou fundamental para ele relaxar e obter conhecimento. "Dom Casmurro" é um dos seus preferidos. A história de Machado de Assis também já foi contada em formato de samba-enredo. Ao Globo Repórter, o cantor Martinho da Vila revela conta como fez para buscar as referências de Machado para compor o samba de 1959 da escola Aprendizes da Boca do Mato e revela que foi nesse momento que nasceu o seu interesse pelo autor. Anos depois, além de cantor e compositor, Martinho escreveu 21 livros, entre eles o que homenageia sua mãe, dona Teresa, e se chama "Memórias Póstumas de Teresa de Jesus". “Ele tem uma influência grande na minha escrita”, conta o sambista. Em maio deste ano, uma americana viralizou nas redes sociais ao tecer elogios ao livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas". A reação foi imediata e fez com que a obra de 1881 entrasse para a lista dos livros mais vendidos em 2024. No programa, Rogerio Coutinho vive a experiência de conversar diretamente com Machado de Assis, por meio de um avatar que fica na Academia Brasileira de Letras. A interação com o Machado tecnológico aproxima os visitantes, sejam crianças, jovens ou mais idosos, da obra do escritor. “O Globo Repórter desta sexta é uma grande viagem entre o passado, o presente e o futuro, porque a gente ainda vive Machado de Assis e sente ele presente nas obras que escreveu e nas pessoas que ele inspira. Vamos contar a história de pessoas incríveis que têm, de alguma forma, uma inspiração no escritor e que acreditam no estudo, na educação e na transformação de vida por conta da leitura. Ainda vamos trazer uma questão muito importante de que o Machado de Assis foi embranquecido por muitos anos e agora a gente sabe que ele era um escritor negro, um artista negro e que foi muito inteligente ao conseguir se posicionar e fazer críticas nas suas obras, parecendo já imaginar que esses documentos ficariam na história e fariam parte das rodas de conversa. Machado tem um conteúdo que a gente precisa consumir”, afirma o repórter.